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Censura cresce em tempos de intolerância e indica barbárie



Data: 12/10/2017

O cancelamento da exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na arte brasileira, no início de setembro, no Santander Cultural, em Porto Alegre, acendeu um amplo debate. Encampada principalmente por membros do Movimento Brasil Livre (MBL), a ação impregnada de intenções políticas foi justificada, em uma interpretação mal-intencionada, sobretudo pela presença de conteúdo pedófilo e zoofílico. O episódio é classificado por especialistas, ouvidos pelo Jornal da ADUA, como clara censura.

“A censura ocorre quando patrocinadores ou proprietários das chaves dos espaços, ou ainda autoridades de governo, interferem por diferentes e, muitas vezes, inconfessáveis razões, no projeto anteriormente aprovado, mutilando as obras ou obrigando o curador a retirá-las da exposição”, disse o diretor do Museu da Amazônia, Ennio Candotti. A censura prospera em tempos de autoritarismo e intolerância, afirma. “É uma forma do poder político, econômico ou religioso, se expressar ou afirmar sua autoridade. Trata-se de sinais de barbárie, agressões aos direitos humanos, que devem ser denunciados e combatidos”.

Em uma clara defesa à relatividade da apreciação da arte, o artista amazonense e professor aposentado da Ufam, Otoni Mesquita, ressalta que falar sobre o tema é como “gritar para surdos que não querem utilizar o aparelho, ou seja, explicar que a criação artística pode ter vinculações diretas com o real, mas não é a realidade”, acrescentando que “são interpretações, releituras e fantasias. As obras não devem ser encaradas com objetividade prática. Sugestões podem ser lidas de forma diferenciadas”.

A necessidade de pensamento livre de preconceitos é considerada na análise da artista visual e professora de Artes da Ufam, Priscila Pinto. “Para se fruir arte contemporânea é preciso ter a mente aberta ao estranhamento; entender que os conceitos são tão importantes quanto a obra que se apresenta. Para se chegar ao mínimo de percepção sobre a arte contemporânea, é preciso passar daquilo que agrada aos olhos, digerir o que é potencialmente indigesto e se permitir fazer múltiplas leituras”. A artista ressalta que o papel dos espaços artísticos é justamente propiciar essa reflexão. “A arte pode ser bela, feia, desconfortável, estranha, ofensiva, não importa... pode nos fazer questionar sobre seus sentidos, ao invés de aceitá-la placidamente ao primeiro contato, mas precisa ter um espaço de apreciação que dê chance a esses retornos, a outros olhares, novas descobertas”, afirma.

Essa riqueza de significados é evocada pela professora da Ufam e doutora em Antropologia Social, Deise Lucy Montardo. “A arte, por reunir pesquisa e sentimento, trabalha numa amplitude maior de significados e é algo imprescindível no que hoje entendemos por humanidade”. A educadora também traz a mesa de debates o fato da mostra ter sido encerrada sem o prévio diálogo com o curador, Gaudêncio Fidelis. “Este fato deixou exposto que o Centro Cultural usa da arte para fazer marketing. Os artistas são como antenas da sociedade, eles antecipam debates, que, muitas vezes, a ciência ainda demorará para alcançar”.

Fechar espaços provedores de abertura de pensamento e análise crítica, essencial na formação do cidadão, representa um desserviço à sociedade e retira a possibilidade da experiência estética. Ao evitar o diálogo, essa atitude representa uma vitória para o pensamento retrógrado. Para os censores, segundo Candotti, restará serem lembrados como símbolos-caricatura da intolerância por uma lamentável exibição de estupidez explícita.

Foto: Isadora Neumann/Agência RBS

Fonte: ADUA



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