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  26/02/2024


Urge centralizar a Amazônia na luta pela reconstrução do país



Professor da Unicamp ministrou palestra no auditório Rio Solimões na IFCHS. (Crédito: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA)

 

Daisy Melo

 

Os movimentos de luta ocupam posição fundamental na necessidade urgente de colocar a Amazônia na centralidade da reconstrução socioambiental do Brasil e do mundo. E um dos gigantescos desafios postos é a disputa com o discurso e o pensamento de ideologia colonialista/elitista e de hegemonia burguesa secular. Essa foi uma entre tantas contribuições do professor Francisco Foot Hardman em palestra, no dia 6 de fevereiro, na Universidade Federal no Amazonas (Ufam), e que contou com o apoio da ADUA.

 

“Trazer para essa tomada de decisão o desafio que é colocar a Amazônia numa condição de centralidade de um novo Brasil, um Brasil de fato solidário, justo, social e ambientalmente viável para nós brasileiros e brasileiras, para a humanidade. Isso só é possível com muita luta, resistência e solidariedade. Não é algo que será dado, jamais! Terá que ser conquistado pelos movimentos de luta, é um desafio para a nossa geração”, afirma o docente do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL/Unicamp).

 

O professor correlacionou o tema ao papel fundamental da Amazônia na radicalização do pensamento social, político e ambiental do escritor e jornalista fluminense Euclides de Cunha, adquirida a partir de sua viagem pelos rios Amazonas e Purus, no início do século XX. O fato se deu posteriormente à primeira e importante revolução pessoal do autor quando testemunhou e documentou em Os Sertões (1902) o movimento de resistência da população pobre à opressão de grandes ruralistas culminando em um confronto armado contra o Exército em Canudos (BA).

 

O professor da Unicamp traça um paralelo usando a visão euclidiana do conflito de Canudos impactada por “um massacre de brasileiros, o cometimento de um crime de nacionalidade” e destaca a importância do registro. “A memória social se descarta com muita facilidade, se torna invisível, tenta se apagar o tempo todo, evidente que não é por acaso, aqui na Amazônia mesmo todas essas lutas, toda essa questão do verdadeiro martírio das comunidades indígenas no mais das vezes é apagada”. 

 

A realidade descrita por Euclides da Cunha correlaciona-se aos dias atuais. No póstumo “À Margem da História” (1909) e em outros ensaios pós missão amazônica, o escritor revela a intenção de uma “segunda vingança contra o deserto”, expressão usada no sentido de denúncia da preferência da elite brasileira pela Europa em detrimento do seu próprio interior. “Ele viu as populações ribeirinhas, as populações remanescentes de povos originários abandonadas ou mesmo escravizadas pelo fluxo do ciclo da borracha (...) viu uma guerra não declarada e que tinha como principais vítimas as populações originárias da Amazônia”.

 

A essa prática de abuso/exploração Euclides nomeou de ‘brutalidade antiga’. “É a ideia do Estado predatório, que vem de muito longe, vem desde a colônia, condenada ao esquecimento, desvalorização, desclassificação”, comenta o professor. Brutalidade essa ainda em vigor, uma vez que perdura o identificado pelo escritor de que havia uma parte considerável do país à margem da história do Brasil e que a região amazônica não era um enorme vazio como se propagava naquela época. Havia pessoas e elas eram oprimidas.

 

Neste sentido, Foot Hardman defende que a ideia de “À Margem da História” precisa ser hoje repensada em termos de uma utopia amazônica voltada para uma centralidade do Brasil. “A Amazônia não só pela sua condição de 60% do território brasileiro, mas pela questão socioambiental, é a mais urgente para o Brasil e para o mundo, dada a importância única do bioma amazônico para o equilíbrio ecológico, vital e social do planeta Terra (...) É preciso pensar nessa Pan-Amazônia do ponto de vista internacional, internacionalista, sem esperar pelas ações governamentais”.

 

Integra esse desafio a derrota da chamada “ideologia paulista”, termo cunhado por Hardman, ideia que apresenta a Amazônia como folclórica, exótica, colonialista. O que pode ser percebido em “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter” (1928), do paulista Mário de Andrade. A obra propõe uma espécie de domesticação irônica do indígena brasileiro na perspectiva de uma pretensa unidade nacional dirigida pela elite; assim como Oswald de Andrade traz uma visão preconceituosa do canibalismo ao apresentar a antropofagia como o novo momento da cultura brasileira.

 

Docente destacou a importância estratégica da Amazônia para as lutas sociais.  (Crédito: Sue Anne Cursino/Ascom ADUA)

 

O chamado do professor Francisco Foot Hardman passa, portanto, também pela derrubada de homenagens/monumentos a falsos heróis da pátria, como as do escravista Borba Gato e de outros bandeirantes de maneira geral; pelo desmascaramento de certos entes mitológicos com posições tortas ampla e historicamente difundidas no país como os modernistas Mário e Oswald de Andrade; pela ocupação de espaços; e pela evocação de novas vozes como os seus contemporâneos Patrícia Galvão (Pagu) e Paulo Emílio Salles Gomes. Tudo isso considerando o premente enfrentamento ao discurso colonialista/elitista e a conquista de mais aliadas(os) à luta de centralização da Amazônia na reconstrução do país.

 

A palestra ocorreu no auditório Rio de Solimões, no Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS). O evento teve realização dos Programas de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) e em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (PPGSS), e promoção do Laboratório de Ciências Sociais e Interdisciplinaridade da Amazônia. Na ocasião, Hardman recebeu os cinco números da revista da ADUA, Resistências.



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