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  03/10/2023


Acúmulo político: “botar o bloco nas ruas” e nas redes



Foto: ANDES-SN 

 

Sue Anne Cursino

 

“Uma fascinante batalha pela conquista de mentes e corações.” Essa foi uma das primeiras definições de Jornalismo que eu conheci há 16 anos, quando era caloura no Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia, na Ufam, em Parintins (AM).

 

Curioso esse fragmento do clássico “O que é Jornalismo”, escrito em 1980 por Clóvis Rossi, ainda fazer sentido, em especial na acirrada disputa de narrativas, na qual somos protagonistas e ao mesmo tempo espectadores(as), em uma conjuntura em que se desenha mais evidente a luta de classes e o uso dos meios de comunicação para manutenção ou transformação do status quo.

 

A frase voltou à memória no dia 17 de setembro de 2023, um domingo de sol em Brasília (DF), durante o segundo dia de reunião do Grupo de Trabalho de Comunicação e Arte (GTCA) do ANDES-SN, iniciado um dia antes com a centralidade do diálogo voltado para o painel “Mídia Digital, comunicação e cultura popular para a resistência”.

 

No auditório do Sindicato Nacional uma série de apontamentos ecoaram. Posso sublinhar duas críticas: a instrumentalização da arte e da cultura e a existência de um perfil de militância digital, que insiste em estar em todo lugar, porém sem se mostrar como força de ação mobilizadora.

 

O professor Tomzé Costa, coordenador de comunicação da ADUA, relembrou da “conquista de mentes e corações” para enfatizar que há muito a fazer para convencer a sociedade da seriedade da luta docente e até mesmo aproximar quem está na base da categoria para a defesa de suas próprias pautas, como: reajuste salarial, condições de trabalho, carreira e qualidade de ensino na universidade pública.

 

Vozes, olhares, rostos e corpos se encontravam (alguns e algumas pela primeira vez presencialmente) para debaterem a comunicação sindical do ANDES-SN. Estavam ali docentes - não apenas da área de Comunicação e Artes, mas também da Pedagogia, do Direito, da Psicologia etc. - e profissionais da comunicação (jornalistas, designers, videomakers, fotógrafos, por exemplo) do Sindicato Nacional e de suas seções sindicais.

 

O grupo compartilhou experiências cotidianas de vitórias e agruras, e uma enxurrada de ideias, restando a coesão de que estamos diante de um grande desafio: um acúmulo político que desemboca na tarefa de atualização do Plano de Comunicação do ANDES-SN.

 

Na palestra de Arthur William, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), ficou claro que a lógica de produção das mídias digitais está cada vez mais subordinada às grandes empresas de tecnologia privadas e estrangeiras.

 

Entendi que é estratégico conhecer a internet, estudar os algoritmos, dominar as ferramentas e definir os objetivos da comunicação. Porém, também é crucial não só criticar, mas romper com essa lógica. “A gente não vai conseguir fazer uma comunicação contra-hegemônica sem romper modelos e sem criar alternativas”, enfatizou Arthur. 

 

Entre as alternativas apresentadas para “virar a chave” estão o uso de hardware e software livres, aproximação da comunicação tradicional, comunitária e popular. Mas haverá investimento? Estamos prontos para arcar com as consequências das escolhas políticas? Foram alguns dos questionamentos.

 

São reflexões que precisam também considerar o cenário “pós-caos pandêmico bolsonarista” e a necessidade de qualidade na disputa ideológica, como ponderou o 2º tesoureiro do ANDES-SN, Fernando Lacerda Júnior.

 

Na apresentação de Guilherme Faro, da Cajuína Filmes, foi explicado sobre como a dinâmica das mídias digitais impactam na cultura e no comportamento das pessoas. Ele questionou: “Será que a internet consegue disponibilizar a democratização da comunicação?”. Sua resposta foi “sim e não”. Afinal, deixou claro: na “disputa de narrativas” o poder econômico influencia e reproduz uma “lógica violenta do algoritmo”, o “digital se torna o novo front”.

 

Essa percepção aponta a necessidade de ações coletivas e conectivas, para debater e experimentar diferentes estratégias e ações, como crossmedia, transmídia, atos-show, reuniões online, ferramentas de mensagens, influenciadores(as), no sentido de “furar a bolha e sair da base sindicalista”, além de manter o debate sobre a propagação de informações falsas e o projeto de lei da inteligência artificial no país.

 

Foi quase uníssono o posicionamento de que é preciso o fortalecimento das assessorias de comunicação das seções sindicais, com estruturação pessoal e material, capacitação técnica e teórica.

 

Importante reflexão levantada também foi a de dar a devida importância ao debate da arte e da cultura na produção de conhecimento e resistência.

 

A professora da Associação dos e das docentes da Universidade Federal do Rio Grande (Aprofurg), Rita Rache, que atua no Instituto de Letras e Artes, destacou a necessidade de considerar o papel político da arte e da cultura não como mera recreação, mas como manifestação política que merece um lugar destacado nas discussões. “Não podemos só tratar de uma perspectiva técnica da arte. E isso é uma luta histórica nossa, entender a arte para além da recriação e do fazer”, explicou a docente. 

 

Tomzé destacou a lacuna sobre questões regulatórias e políticas, enfatizando importância de aprofundamento na discussão da legislação e cultura.

 

Na avaliação do professor Fernando Lacerda, o debate sinalizou que “há uma conjuntura muito desfavorável do ponto de vista de uma política de comunicação que enfrente desafios, como a concentração do monopólio midiático, corporações, utilização dos dados em favor de uma lógica de mercadoria e que está difícil articular meios contra-hegemônicos de fazer disputa em defesa de um projeto de educação”.

 

A expectativa é que o debate avance nas próximas atividades do GTCA, dentre elas o VII Encontro de Comunicação e Arte e do II Festival de Arte e Cultura, nos dias 7 a 10 de dezembro deste ano, em São Luís (MA), sediados pela Associação de Professores da Universidade Federal do Maranhão (Apruma). De lá deve sair um texto de resolução para o Congresso Nacional em 2024.  

 

Um termo insistiu em chamar minha atenção: comunicação popular.  

 

Ao retornar do encontro, no livro Almanaque da Comunicação Sindical e Popular (2021), encontrei a explicação de Claudia Santiago de que a “comunicação popular pressupõe movimento popular” e tem por objetivo “denunciar o sistema, as arbitrariedades, divulgar e valorizar a arte e as várias produções da comunidade e, ao mesmo tempo, organizar as pessoas da comunidade para lutarem por suas reivindicações”.

 

Dialogando com essa perspectiva, conclui que condizia com o conceito cristalizado no meu pensamento, mas botar em prática desafia ir além do que está idealizado.

 

Contenta saber que a ADUA é uma escola, onde tenho aprendido muito no exercício da minha profissão de jornalista.



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