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  23/01/2023 - por José Alcimar de Oliveira





 

     01. O genocídio dos povos indígenas das Américas e do Brasil, a partir do final do século XV, atingiu o nível da infâmia das infâmias com a política de genocídio em curso promovida pelo Estado brasileiro contra o povo yanomami. 

 

     02. Diante desse crime contra o que chamamos de humanidade impõe-se a pergunta: o que significa ser humano? Diante da tragédia patrocinada pelo Estado brasileiro  contra o povo yanomami é  possível ser humano sem que incluamos nessa condição ontológica o sentido da compaixão, da empatia, da indignação ética e da recusa à morte  organizada como política?

 

     03. Morrer é da nossa condição. Mas é blasfemo morrer como condição de vida imposta pelo Estado. É possível conciliar razão iluminista, autonomia do sujeito e concepção  moderna de Estado quando, em pleno século XXI, um Estado é presidido pela necrocracia?

 

     04. Na terceira década do século XXI,  com o que se revelou  neste janeiro de 2023 do que já vinha ocorrendo de forma calculada nos quatro anos de governo de Jair Messias Bolsonaro, é preciso denunciar para o mundo que Auschwitz é replicada e sangra no coração da Amazônia na vida matada de cada yanomami.

 

     05. Diferentemente dos gases mortais dos campos de concentração nazistas, na Auschwitz da Amazônia o povo yanomami, a começar pelas crianças, morre silenciosamente de fome medida na terra da abundância. 

 

     06. O governo de extrema direita de Jair Messias Bolsonaro, como um capataz do capital predatório e neoextrativista, movido a  megamineração e devastação florestal,  escolheu o povo yanomami como vítima preferencial de seu projeto criminoso para a terra e para os povos originários da Amazônia. 

 

     07. Diante dessa tragédia agora escancarada, mas há tempos anunciada, denunciada e criminosamente subnoticiada pelas corporações mediáticas, ou nos declaramos (as e os  que não perderam o sentido do humano) todas e todos yanomami ou seremos criminosamente omissos e desumanos. 

 

*José Alcimar de Oliveira, yanomami por opção,  professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, no dia 21 de janeiro do ano da virada de 2023.

 

Foto: Condisi-YYDivulgação 



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