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  29/05/2024 - por José Alcimar de Oliveira





 

 

 

 

 

É claro que a prática determina todo o nosso conhecimento, mas ela mesma ainda não é conhecimento (Kopnin).

 

01. Uma disciplina que, pela sua natureza intrinsecamente filosófica, deveria ser obrigatória, compulsória, na estrutura de ensino de todos os níveis de ensino (do fundamental à pós-graduação) é a TEORIA DO CONHECIMENTO. O conhecimento não pode prescindir da informação, nem a inteligência limitar-se ao trabalho cumulativo de registrar informações. Por sua natureza discursiva, a razão humana para bem operar precisa recorrer a mediações para tornar inteligível o mundo.

 

02. O conhecimento gera informação, mas a informação por si mesma não tem o poder de gerar conhecimento. O ritmo do conhecimento, seu modo de proceder, não pode ser definido pela quantidade de informação produzida pela razão. Informação em excesso, razão de menos. E menos razão ainda quando a consciência não dispõe de filtros epistêmicos para bem discernir entre a explosão atual de informação-lixo, a inundar as redes ditas sociais, e a informação que resultou do paciente caminho da verdade.

 

  03. É da natureza da verdade, mesmo que seja alcançada por diferentes medidas de objetivação, não ter várias e mutáveis faces, como ocorre à mentira, que para se sustentar recorre a mil faces e disfarces. Passar da informação ao conhecimento exige o penoso esforço cognitivo de buscar a unidade dialética da verdade e enfrentar a multiplicidade fenomênica de que se recobre o poder da mentira. A pressa da mentira é proporcional ao curto fôlego de sua frágil cognição.

 

04. Escreve Gaston Bachelard que a espécie humana tem a idade de seus preconceitos. Tão caro ao conhecimento, nomeadamente ao conhecimento filosófico, o conceito sempre chega depois, porque o seu devir epistêmico é lento e por isso sempre ultrapassado pela velocidade do preconceito. Filosofia não combina com pressa, correria ou busca pragmática de resultado imediato. O tempo da filosofia mais se afina ao paciente trabalho artesanal indígena do que ao compulsivo agir burguês da razão instrumental.

 

05. Vamos esconjurar o preconceito, tão cultivado pela burguesia, que atribui ao povo, “aos esfarrapados do mundo” (Paulo Freire), sem acesso ao saber escolarizado, a miséria do analfabetismo político. Para o Brasil das elites do cabresto, lesa-pátria, a sabedoria popular é objeto de desprezo e desdém. O preconceito de classe está entre os mais odiosos, sobretudo porque se constitui da impostura, da dissimulação científica e da ignorância do poder financeiro de uma burguesia que exala mau cheiro (Cazuza) dentro e fora do Brasil.

 

06. Como exemplo de pensadores não acadêmicos e socráticos do Brasil profundo me ocorrem duas referências paradigmáticas do século XX:  Carolina Maria de Jesus e Patativa do Assaré, que dariam um verdadeiro banho de sabedoria em muitos ignorantes com pós-graduação. Em Carolina e em Patativa realiza-se, no duro solo da vida, o ideal agostiniano da sabedoria como medida da alma. Já passa da hora de figuras desse calibre invadirem o mundo asséptico das universidades e prejudicar a boa consciência da estupidez (Nietzsche) endoutorada. 

 

07. A TEORIA DO CONHECIMENTO não seria a salvação da lavoura, é certo, mas, pelo seu caráter propedêutico, muito contribuiria para libertar a mente das bolhas ideológicas. Um entendimento assim, embolhado, aprisionado e falto de mediações teóricas, restará impedido de ultrapassar os muros da certeza do sensível (Hegel), pois nada conseguirá ver para além do recorte ideológico que limita sua capacidade de cognição. E aqui me utilizo do verbo ver em sua relação greco-epistêmica com teoria. Teoria, em grego, implica visão.

 

*José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, base da ADUA – Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões (em Manacapuru, AM) e Jaguaribe (em Jaguaruana, CE).

 

 



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