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  04/12/2023 - por Tomzé Costa





Imagem: Divulgação 

 

Há alguns anos, insistíamos que vivíamos uma democracia racial no Brasil. Essa tese, que não se sustentava no dia a dia, perdeu força e, hoje, são inúmeras as vozes que revelam o grau de racismo estrutural, o qual invisibiliza populações. Dados do IBGE de alguns anos atrás revelavam que é Salvador (BA) a cidade mais negra fora do continente africano. Também revelava que 54% da população brasileira se considerava preta ou parda. Ou seja, superior aos EUA onde o movimento antirracista é mais mobilizador. Claro, é preciso levar em consideração os fatores históricos, econômicos e sociais dos trânsitos escravagistas nos dois países.

 

No plano das produções cinematográficas, a luta por tornar visível politicamente o que a sociedade negava não acompanhou o ritmo do debate social que ocorre tanto nas academias, nos grupos sociais organizados, como nas redes sociais.

 

Em 2018, Joel Zito Araújo, um dos mais brilhantes cineastas negros brasileiros, chamava a atenção para o momento do cinema nacional realinhar a produção aos questionamentos do movimento político de valorização ao povo negro. Com seu documentário “A Negação do Brasil” (00), já apontava a dificuldade das telenovelas de revelar tramas sobre a identidade étnica dos afro-brasileiros. Era um libelo a favor da presença de negros em personagens significativos. Nos parece que o clamor não conseguiu prosperar, haja vista como o negro transparece nas tramas televisivas atuais.

 

Os primeiros filmes, nos anos 1970 e 1980, a terem como foco a temática negra e de repercussão nacional foram “Xica da Silva” (76) e “Quilombo” (84), de Cacá Diegues; “O Amuleto de Ogum” (74), de Nelson Pereira dos Santos, entre poucos outros. Os ares democráticos que sopraram sobre o país a partir dos anos 2000 produziram importantes produções cinematográficas: “Madame Satã” (02), de Karim Aînouz; “Filhas do Vento” (04), de Joel Zito Araújo; “Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil (16), de Belisário Franca; e “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida” (19), de Jefferson Dé.

 

A crescente mobilização do movimento negro e a campanha contra o racismo estrutural que tomou conta do Brasil no desgoverno Bolsonaro parecia indicar que a cinematografia nacional acompanharia esse momento político. Entretanto, o lançamento de “Medida Provisória” (20), de Lázaro Ramos, não passou de uma promessa sem repercussão, nem de crítica social nem de inovação cinematográfica. Esta missão parece ter ficado, até então, com “Doutor Gama” (21), de Jefferson Dé, e “Marte Um” (22), de Gabriel Martins.

 

Para o ambiente da cinematografia nacional é importante acompanhar a luta pela necessidade de políticas públicas que visem combater as desigualdades raciais e a universalizar espaços ocupados historicamente por pessoas brancas das classes dominantes. É fundamental o engajamento de realizadores cinematográficos possibilitando a efetiva visibilidade do negro na sociedade naquilo que de fato o represente. Oxalá consigamos isto.

 

*Tomzé é professor aposentado da Faculdade de Informação e Comunicação da Ufam e criador da página Tomzé comenta Cinema!

 

** Texto publicado originalmente na seção Arte & Resistência do Boletim nº 42 da ADUA



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