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  02/05/2023 - por José Alcimar de Oliveira





 

Pobres trabalhadores. Enganados e além do mais pisados! O trabalho é uma maldição, Saturno.  Abaixo o trabalho que temos que fazer para ganhar a vida! Esse trabalho não nos honra, como dizem, só serve para encher a pança dos porcos que nos exploram. (Luis Buñuel, Tristana).

 

Primeiro de maio de 2023. Dia Especial de Luta da Classe Trabalhadora. Dia de afirmar a ontologia social e o poder formativo da categoria trabalho, sem o que não haverá consciência de classe.

 

 

O dominante discurso ideológico da burguesia parasitária prefere falar em dia do trabalho, separado da classe trabalhadora, a única classe que produz riqueza. Como falar em dia do trabalho abstraído de mãos e mentes que trabalham?

 

 

Conforme o jovem Marx, nos célebres Manuscritos de Paris, não existe uma natureza humana abstrata. Somos irremediavelmente condicionados tempo da história, pelo espaço da geografia e pelas relações sociais em que nos inserimos, como produtos e produtores.  

 

 

Sob os grilhões da exploração burguesa só há lugar para o trabalho convertido em mercadoria, expropriado de sua potência humanizadora e educativa. Recuperar o trabalho como princípio educativo da classe trabalhadora está entre as condições incontornáveis da luta de classes.  

 

Para a dominação burguesa, com seu desejo doentio de posse e, nas palavras de Paulo Freire, “apetite do êxito pessoal”, só interessa o trabalho enquanto trabalho alienado, seja em sua efetivação abstrata ou concreta. Para essa consciência apequenada, que a tudo venaliza, os dramas da classe trabalhadora não contam.

 

O trabalho, segundo o Mouro de Trier, "(...) é uma condição da existência humana independentemente de qual seja a forma de sociedade; é uma necessidade natural eterna que medeia o metabolismo entre homem e natureza e, portanto, a própria vida humana".

 

Para a classe que vive do trabalho e para a única Filosofia (o materialismo histórico e dialético) que afirma o trabalho como categoria fundante do ser social, é somente pelo trabalho positivamente humano que mulheres e homens podem transformar-se a si mesmos e ao mundo.

 

Fora dessa compreensão, e desde os tempos pré-adâmicos, o trabalho será sempre uma maldição, e mais notadamente hoje, sob a intensa e abrangente alienação do sistema do capital. Em nenhuma outra formação social o valor de uso de todas as coisas tornou-se tão restrito quanto no dominante reino do capital, que a tudo mercantiliza e precifica, pessoas e coisas.

 

 

Esse tipo de trabalho, que desumaniza o ser social, não merece comemoração nenhuma. A esperança que conta é aquela que a classe trabalhadora organiza na alegria da luta.

 

Por isso, o Dia da Classe Trabalhadora deve ser mais um dia de luta, para afirmar que a porta de saída da exploração passa pela organização e consciência de classe da classe trabalhadora.

 

 

* José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, filho do cruzamento dos rios Solimões (em Bela Vista, Manacapuru, AM) e Jaguaribe (em Jaguaruana, CE), base da ADUA Seção Sindical. Manaus, AM, primeiro de maio de 2023, no Dia de Luta da Classe Trabalhadora.

 

Imagem: "Operários" - Tarsila do Amaral

 

   


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