O meu povo perece por falta de conhecimento (Oseias, 4,6)
01. Sou José Alcimar de Oliveira, filho de Ana Nilda de Oliveira e Marcondes Pinheiro de Oliveira, ela e ele cearenses de Jaguaruana, Ceará. Nasci em 1956 na Comunidade de Bela Vista, em Manacapuru, Amazonas, no ano em que Bertolt Brecht partiu da imanência terrena para a transcendência do grande memorial da história. Sou professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, onde fiz a licenciatura em Filosofia e concluí o mestrado e o doutorado. Sou teólogo sem cátedra e muito me orgulho de minha misturada origem, tecida pelo cruzamento dos rios Solimões (em cujas margens vivi até a idade de cinco anos) e Jaguaribe (antes denominado de o maior rio seco do mundo), às margens do qual vivi dos cinco aos dez anos.
02. Vivo em Manaus, Amazonas, desde 1966, onde mora muita gente nordestina e descendentes de nordestinas e nordestinos. Encontramos o povo nordestino, com suas filhas e filhos, em todo o nosso Brasil. O Nordeste é acolhedor, generoso, e jamais se deixará envenenar pela política de ódio, intolerância e xenofobia desse governo e de quem por ele se deixou contaminar. O Brasil seria muito pobre sem o povo nordestino. Agrediu o Nordeste, também me agrediu. No dia 30 de outubro de 2022 o Brasil, com o Nordeste na dianteira, deverá eleger LULA presidente. Ninguém poderá deter a alegria e a capacidade de resistir e de lutar do povo nordestino.
03. Com a força guerreira de uma Elizabeth Teixeira (paraibana), maior líder camponesa desse país; em memória de Paulo Freire (pernambucano), o maior educador brasileiro de todos os tempos, e mundialmente reconhecido; em memória da resistência de Antônio Conselheiro, líder da maior revolta popular organizada no Nordeste, ninguém, poder reacionário nenhum, dobrará a espinha dorsal do povo nordestino. Aos feitores de preconceitos Kant adverte: “Vê-se assim como é prejudicial plantar preconceitos, porque terminam por se vingar daqueles que foram seus autores ou predecessores destes”. Neste 2022, até o comedido Kant faz-se nordestino e pede as bênçãos de meu Padim Pade Ciço de Juazeiro do Norte, Ceará.
04. Já há muito proclamado santo pelo povo do Nordeste, meu Padim Pade Ciço, nascido cearense e batizado com o nome de Cícero Romão Batista, será muito em breve formalmente proclamado santo do Povo de Deus pelo Papa Francisco. E devo dizer que ele acompanha de perto, como protetor especial, desde Juazeiro do Norte, as nordestinas e os nordestinos do Brasil e do mundo, notadamente a nordestina e o nordestino como classe social oprimida, ofendida, maltratada. Como classe oprimida, o Nordeste é o mundo. É o mundo dos povos originários sob a violência da mineração e madeireiras predatórias. É mundo das pretas e dos pretos sob a opressão do racismo estrutural. É o mundo das mulheres vítimas do machismo, da misoginia, da burguesia oligárquica e patriarcal. É o mundo sob os ataques LGBTQIAP+fóbicos. É o mundo vítima da xenofobia. É o mundo submetido à perversão e crueldade da classe que vampiriza o sangue, o suor e o trabalho da classe que vive do trabalho.
05. Ao lado de Padim Ciço, unidos pela luta emancipatória comum, com a grandeza de compromisso que os ligam ao povo, já há prenúncios de que uma frente integrada por gente fibrada como Gregório Bezerra, Francisco Julião, Dom Zumbi, Dom Helder Camara, Dom Fragoso, Padre Ibiapina, Maria Bonita, Capitão Virgulino, já se mobiliza para irradiar de Juazeiro do Norte para todo o Brasil as vibrações emancipatórias do aguerrido povo nordestino. A boa política, a política do bem coletivo, encontra no povo a sua força material. E o povo organizado, livre e sem medo, encontra na boa política sua força teórica.
06. A sabedoria do Livro dos Provérbios (29,2) nos ensina que “quando os justos governam, o povo se alegra; quando os perversos estão no poder, o povo geme”. Alegria e luta correm como sangue nas veias do povo nordestino. Como diz a letra do hino da luta camponesa, “quem gosta de nós somos nós e aqueles que nos vêm ajudar”. As mulheres e os homens de luta do Nordeste bem se comparam à bela imagem do Salmo Primeiro do Antigo Testamento: “São como a árvore (do juazeiro que geometriza o Nordeste) plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera. Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva”.
07. Em nome, pois, de Elizabeth Teixeira, Paulo Freire e Antônio Conselheiro, com as bênçãos e proteção de Padim Ciço, saudamos a todas as mulheres e a todos os homens, nordestinas e nordestinos, de ontem e de hoje, sobretudo a classe trabalhadora que resiste no anonimato e marca sua presença nos quatro cantos do nosso país. Vocês são imprescindíveis, imprimiram e imprimem dignidade, inteligência e humanidade na história do Brasil. Como seria triste e frio o Brasil sem a força inventiva e a alegria do bem viver do povo nordestino.
*José Alcimar de Oliveira, filho dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, 09 de outubro do ano da virada de 2022.
Foto: Ricardo Stuckert
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