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  14/03/2022 - por Aloysio Nogueira






 
Este espaço, desde o momento em que foi criado, tem cumprido, além de outras, a tarefa em discutir propostas que a categoria dos docentes universitários propõe para reflexões e encaminhamentos da ADUA e do ANDES, que decidirão reivindicá-las junto à UFAM e ao MEC/Governo Federal. Ao longo da história da ADUA, pode-se identificar que inúmeros docentes têm se dedicado diuturnamente ao fortalecimento organizacional e político de suas entidades. Tanto é que esta categoria tem como princípio ser solidária às lutas de outras categorias e, sobretudo, de todas as classes que vivem da venda de suas forças de trabalho.

 

Este espaço, recentemente, acolheu esta mensagem da filósofa Márcia Tiburi que diz: “Na reinvenção do Brasil que há de vir, a filosofia ocupará um lugar fundamental, sobretudo depois do estrago causado pelos guerrilheiros da estupidez, gurus da imbecilização geral. Professoras (es) devem se unir para mudar o mundo. Interpretá-lo não será suficiente”.

 

De imediato escrevi: “expressiva mensagem de uma militante intelectual que não se deixou envolver pelo manto frágil da meritocracia tão em moda, sobretudo, nos tempos atuais”.

 

Voltei a este tema, porque Luiz Fernando, que completou um ano de partida para um lugar onde o vento nunca sopra, diante de seu pensar e agir, revelou-se também “um militante intelectual que não se deixou envolver pelo manto frágil da meritocracia tão em moda sobretudo nos tempos atuais”.

 

Certamente que não foi fácil para Luiz Fernando, diante do obscurantismo que ainda predomina na sociedade brasileira, tornar-se um militante intelectual diuturnamente, crente de que não basta interpretar o mundo em suas várias dimensões, mas transformá-lo numa sociedade justa e solidária.

 

Considerando que o ilustre colega Alcimar já nos ofereceu uma exposição precisa e justa das significativas produções realizadas por Luiz Fernando. Cabe-me nestas breves palavras realçar apenas uma pequena parte dos campos teórico e ideológico que certamente consubstanciaram as suas praxes e delas se valeu em suas interpretações da realidade social, ideológica e política da sociedade amazonense.

 

Em verdade, o momento do surgimento da compreensão de que as interpretações não bastam já se perdeu nos vãos obscuros da política de esquecimento dos poderosos dos tempos históricos. Contudo, podemos identificar autores, que ao longo da construção de suas interpretações, através de seus estudos e de suas biografias, identificam que suas interpretações se originavam de suas praxes, possibilitando-os a contribuir com os sujeitos transformadores da realidade social. 

 

Afinal, como surgiram as mais variadas realidades, sejam elas reprodutoras do status quo ou aquelas capazes de proporcionar a superação do status quo ao longo do tempo? Luiz Fernando não titubeou. No seu lapso tempo de vida, compreendeu que, além do mérito da cátedra, era preciso reconstruir a realidade Amazônica ainda submersa na corrupção, miséria e fome.  

 

Luiz Fernando era um leitor voraz do Mouro de Trier e de Friedrich Engels de Barmen. Asseguro, pelo que ele estudou, visto que foi meu aluno no ICHL-UFAM e companheiro nas duras lutas sociais coordenadas pela ADUA-Sindicato, sempre acreditou como afirmara Marx: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo o cérebro dos vivos”. 

 

Ao escrever essas linhas, meu pensamento me transportou para os meus primeiros contatos com a Literatura Brasileira na década de 1950. Lá, levado pelos meus professores do Colégio Estadual do Amazonas, conheci um trabalho incomensurável de um poeta que marcou a minha vida. Aqui, quero apenas expressar uma frase que vai ao meu encontro e certamente retrata por inteiro a vida, a luta e o sofrimento de Luiz Fernando.  
 

É difícil defender, só com palavras, a vida (João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina).

 

Luiz Fernando, Presente!

 

 

* Aloysio Nogueira é professor aposentado do Departamento de História da Universidade Federal do Amazonas, fundador da ADUA - Seção Sindical e fundador e ex- presidente da APPAM.



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