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  21/01/2022 - por José Alcimar de Oliveira





 

Elza (Guerreira) Soares escolheu o dia 20 de janeiro de 2022, aos 91 anos, no dia de São Sebastião ou Oxóssi, para transfigurar-se e imprimir no mundo celestial a beleza e a força da negra imanência.

 

Operária negra da música, partiu no mesmo dia e mês de seu anjo de pernas tortas, de pernas impossíveis, oficialmente fora dos quadros, inclusive a perna direita, porque ambas inclinadas à esquerda. 

 

Filha e filho do Rio de Janeiro, negra e negro, Elza e Garrincha partiram sob a guarda do mártir romano flechado, santo protetor do povo contra a fome, a peste e a guerra.

 

Artista da voz e artífice dos dribles, Elza do Canto Negro e Mané Alegria do Povo, com notas e passes ao arrepio da falsa felicidade do mundo burguês, se fizeram verdade no palco do canto e no campo do jogo.

 

Com notas mordentes de destrutiva aderência aos moinhos de gente, Elza do Canto Negro reverberou para o mundo que a carne negra continua venalizada como a mais barata do vil mercado.

 

Sem Thiago de Mello a cantar luz contra a escuridão, sem Elza Soares a transpor seu grito negro em notas de irredenta música, resta mais triste e sombrio o Brasil a cada amanhecer.

 

Cantante do fim do mundo, mulher libertária do samba imune à tristeza, Elza do Canto Negro terá agora o universo por palco, e sua voz ecoará do além o grito de quem não cede o futuro à infâmia dos pervertidos.

 

Foto: Ricardo Moraes/Reprodução 

 

*José Alcimar de Oliveira é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra, segundo vice-presidente da ADUA – Seção Sindical e filho do cruzamento dos rios Solimões e Jaguaribe. Em Manaus, AM, no dia 20 de janeiro do ano da virada de 2022.       



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