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  12/01/2022 - por Isaac Lewis





 

Certa vez, uma leitora criticou o livro “A reflexão dos animais espoliados”, o qual continha a história “Fazenda de porcos”, sugerindo que o autor se limitou a imitar o conteúdo da história “A revolução dos bichos, escrito por George Orwell (1903-1950). A crítica da referida leitora constitui um exemplo de crítica superficial de leitoras e leitores que realizam leitura por alto ou de orelhas de livros sem se aprofundarem realmente no conteúdo do texto que estão lendo. Na história “A revolução dos bichos”, o autor critica, através de personagens porcos, os descaminhos, o revisionismo, a falsificação das ideias e das lutas que geraram a revolução russa de 1917. Já, o autor da história “Fazenda de porcos” relata, através de personagens porcos, as condições e as relações sociais vividas por povos, em países colonizados, cuja maioria espoliada não adquiriu consciência revolucionária e que aceitam viver subumanamente, porém um personagem, Quinho, critica e condena a espoliação imposta pelos seres humanos a todos os porcos. A leitora superficial não foi capaz de perceber que o contexto político social vivido pelos porcos em “A revolução dos bichos” é diferente do contexto colonizado vivido pelos porcos da “Fazenda de porcos”. Os leitores superficiais têm dificuldades em distinguir o que é verdadeiro ou falso em um texto. Além disso, não compreendem plenamente a mensagem expressa no texto.

 

Lamentavelmente, em pleno século XXI, ainda há inúmeras pessoas que se intitulam negacionistas da Ciência e, por isso, dizem-se contrários à vacinação contra o Coronavírus. Na realidade, não existem negacionistas da ciência. Esse conceito é impróprio para qualificar essas pessoas (seja presidente, general, ministro, religioso, professor, doutor, médico, faxineiro, balconista, lixeiro, porteiro ou empresário etc). Seria mais apropriado chamar essas pessoas de imbecis, idiotas, ignorantes, estúpidas ou analfabetas funcionais porque seguem outras iguais a elas, que não conhecem a história da ciência ou se leram alguma coisa sobre isso nada entenderam . Tanto é assim que algumas dessas pessoas dizem ter estudado teologia (a ciência de um ser inexistente).

 

Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), John Locke (1632-1704) e Karl Marx (1818-1883) empreenderam esforços para construir processos e métodos de construção de conhecimentos verdadeiros, conhecimentos científicos. Entretanto, desde a Antiguidade, milhares e milhares de pessoas, incluindo religiosos e cientistas, acreditavam em geração espontânea. Algumas pessoas acreditavam, por isso, que toda vida, quando destinada para o bem da humanidade, podia ser produção de um ser divino ou produzida por um ser diabólico quando se destinava para o mal do ser humano. Os defensores da geração espontânea diziam que matéria em putrefação produzia larvas, pulgas, piolhos e insetos em geral. A partir do século XVIII, inúmeros cientistas começaram a refutar a ideia de geração espontânea, declarando que as larvas, os vermes e insetos  nasciam de ovos. Vários cientistas, como Louis Pasteur (1822-1895), Joseph Lister (1827-1912), John Tyndall (1820-1893) realizaram experiências, descobrindo que muitas doenças em seres humanos, em outros animais e em plantas eram produzidas por bactérias e vírus. Essas experiências possibilitaram a produção de remédios, vacinas e práticas de higiene para combater essas doenças e a recomendação universal de adoção de higiene geral, uso de anestesia e de assepsia nas operações cirúrgicas.

 

As classes favorecidas e as classes desfavorecidas criadas no Brasil Colônia e ainda presentes após a Proclamação da Independência (1822), a Proclamação da Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889) sempre tiveram dificuldades de entender  as teorias filosóficas, científicas, políticas e sociais produzidas na Europa, pois os egressos do Ensino Superior (principalmente das escolas privadas e confessionais) frequentavam a escola para adquirir diplomas ou certificados , assimilando somente os conteúdos que servissem para seguir carreiras privilegiadas. Os militares que ocupam indevidamente o Palácio do Planalto, incluindo o presidente expulso do Exército por terrorismo, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e o ministro da Educação, Milton Ribeiro são exemplos produzidos pelo Sistema Educacional que não se coaduna com os postulados das várias proclamações enunciadas no Século XIX.  Não devemos estranhar, por isso, que, em um país colonizado , esses egressos, analfabetos funcionais (juízes, desembargadores, secretários de segurança, oficiais de Polícias Militares, com raras exceções) manifestam-se contra vacinação como se estivessem expressando pensamento profundo sobre o que não entendem.

 

Felizmente, toda sociedade evolui dialeticamente, desse modo, apesar de os também negacionistas da visão dialética do universo, do mundo, da sociedade, do pensamento empreenderem crimes, omissões, mentiras, violências contra os que estão empenhados  e comprometidos com a verdade, a ciência e a luta por direitos universais de todos os homens e de todas as mulheres e crianças brasileiras, condenando as injustiças e desigualdades sociais, o Brasil, pós proclamações vazias de sentido, encontrará dignamente seu caminho junto à comunidade humana crítica e solidária.

 

*Professor aposentado da Faculdade de Educação/UFAM

 

Imagem: Reprodução/Reuters



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