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  12/11/2021 - por Isaac W. Lewis





 

 

No dia primeiro de novembro de 2021, Txai Suruí, representante dos índios Paiter Suruí, discursou na Abertura da Conferência da Cúpula do Clima (COP26), em Glasgow (Reino Unido). Seu discurso fundante deixou surpresa e perplexa uma parcela das classes favorecidas e desfavorecidas da sociedade brasileira. Essa parcela sempre aceitou como verdadeiros os preconceitos e racismos medievais e identitários (quando se referem aos outros), contidos nas Ordenações elaboradas pelos reis e pelas cortes portuguesas para serem obedecidas nas colônias ultramarinas, como a inferioridade dos povos americanos pré-colombianos, africanos e asiáticos que, por ventura, vivessem em “terras a serem descobertas”.

 

Entretanto o discurso de Txai Suruí foi motivo de orgulho para a parcela das classes favorecidas e desfavorecidas (índios, negros, brancos, mulatos e mamelucos),  conscientes de que o conteúdo das Ordenações coloniais e das Leis elaboradas depois da Independência (1822) e da República (1889) sempre escamotearam as barbaridades, as selvagerias e as injustiças praticadas pelos invasores portugueses e seus descendentes nos continentes da América, África e Ásia com apoio de ordens e seitas religiosas que pregavam a dominação física e mental dos povos não europeus em favor das elites das metrópoles coloniais.

 

Vários trechos de seu discurso são informações e reflexões relevantes, conhecidas e compartilhadas por populações marginalizadas da sociedade brasileira (índios aculturados, quilombolas, favelados, trabalhadores sem terra ou sem teto, desempregados históricos, trabalhadores espoliados de seus direitos etc):

 

“[...] meu povo tem vivido na floresta amazônica, pelo menos, há seis mil anos.”

“Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e nossas plantas não florescem como acontecia anteriormente.”

“Enquanto vocês fecham os olhos para a realidade, o defensor da terra, Ari Uru Wau Wau [...] foi assassinado por proteger a floresta.”

“Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.”

“Vamos parar de falar mentiras e promessa falsa.”

“Vamos acabar com a poluição de palavras ocas.”

Vamos lutar por um futuro e presente possível.”

“Talvez nossa utopia seja o futuro na terra.”

 

Txai Suruí estava consciente de que ela representava, na COP26, não só todos os indígenas brasileiros, como também as populações marginalizadas da sociedade brasileira pelas forças políticas, militares, policiais e jurídicas (com raras exceções), as quais se regiam e ainda se regem pelos preconceitos medievais e pseudocientíficos elaborados na Europa. Em seu discurso, ela reiterou que todos os indígenas, no Brasil, sabiam muita coisa sobre a natureza há milhares de anos e que os invasores portugueses e seus descendentes sempre desprezaram tal conhecimento, considerando-o inferior, não se dando conta de que pretendiam substituir os conhecimentos dos povos originários por conhecimentos pré-históricos europeus, míticos e falsos. Ela chamou a atenção para as palavras vazias e incoerentes utilizadas pelos colonialistas europeus para nada realizarem objetivamente em prol de toda a espécie humana que vive na Terra. Ela lembra que milhares de indígenas foram mortos por defenderem sua terra, sua cultura, citando o assassinato do líder indígena Ari Uru Wau Wau. Ela reafirmou que os indígenas brasileiros continuarão sua luta em benefício do planeta, terra de todos os seres humanos. Por fim, Txai Suruí prestou significativa homenagem a todos os indígenas que lutaram física e intelectualmente por sua terra, sua gente, seus parentes e por um Brasil justo para todos os seres humanos – homens, mulheres e crianças, desde que seus territórios foram invadidos pelos portugueses e luso-brasileiros.

 

 

Foto: Governo do Reino Unido/Reprodução

 

 

*Isaac é professor aposentado da Faculdade de Educação/UFAM

 



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