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  05/10/2020 - por José Alcimar de Oliveira





No dia 11 de setembro de 2020, em Assembleia Geral virtual, professoras e professores da ADUA deliberaram, em razão da pandemia da Covid-19, que até o momento segue ceifando vidas, que as eleições para a Diretoria e o Crad de nossa Seção Sindical ocorrerão de forma igualmente virtual. Não se tratou de decisão pacífica, porque em seus mais de 40 anos de existência pela primeira vez o Sindicato decidiu por essa modalidade de voto. Como igualmente não é pacífico, para a grande maioria da população brasileira, viver num país submetido à política da morte em série provocada pela combinação regressiva de dois vírus: o da Covid-19 e o da omissão institucional do Estado.  

 

Nesse final de setembro de 2020, nos dias 28, 29 e 30, ocorrerá, também de forma virtual, o 9º Conad Extraordinário do ANDES-Sindicato Nacional, sob o tema central: A vida acima dos lucros: Em defesa das instituições de ensino, dos serviços públicos e da autonomia sindical!, para deliberar sobre a modalidade das eleições, virtuais ou presenciais. Nossa posição sindical a ser levada para o CONAD, conforme deliberação da Assembleia Geral da ADUA de 18 de setembro de 2020, que definiu os representantes (um delegado e dois observadores), será pela defesa de eleições virtuais para o Sindicato Nacional.

 

Tanto quanto ocorreu na Assembleia Geral da ADUA, também no 9º Conad Extraordinário voltará à discussão a questão dos princípios, dos quais não pode ser abstraída a realidade, menos ainda as suas possíveis, necessárias e nem sempre convergentes leituras. Desde Aristóteles aprendemos que a realidade pode ser compreendida e dita de diversas formas. E o que se espera da discussão é que prevaleça a leitura com o maior poder de objetivação da realidade, decisão que no caso da pandemia da Covid-19 deve ser presidida pelo princípio maior da defesa da vida. É o que defendemos.

 

Sob o princípio da defesa da vida está o princípio da democracia de base, direta, pelo voto universal e presencial. A forma do voto, presencial ou virtual, não é propriamente questão de princípio, desde que não seja por procuração.  Um sujeito, um voto. De preferência, presencial.  Se as condições nas quais vão ocorrer as eleições não fossem de excepcionalidade, nem entraria em discussão a modalidade virtual que aqui defendemos. Não houvesse objetivamente as atuais condições de excepcionalidade, que tornam

Estamos certos de que tal decisão, por implicar suportes e dispositivos do mundo mediático que não dominamos, é também atravessada pelos interesses do mercado e de sua insaciável sede de lucro. Solidariedade combina com socialismo, jamais com o sistema do capital, presidido que é pela universalidade do valor de troca. As corporações do mundo digital têm acumulado lucro sobre lucro nessa pandemia. Para elas o lucro está acima da vida. Além do necessário preço justo devem igualmente ser garantidas a segurança e a lisura do processo. Diante do atual quadro de criminalização dos sindicatos nenhuma vigilância é demais.

 

Eleições virtuais para defender a vida e seguir na luta. Estamos diante de uma geopolítica de destruição nacional, de desmonte do que resta formalmente do Estado Democrático de Direitos. Como recuperar o processo de objetivação da realidade quando a realidade não conta mais? Não se trata mais de versão ou de inversão, mas de perversão. Perversão medianamente aceita? Parece que dessa vez o Brasil mediano se desatou de forma mais visceral e estruturalmente compulsiva. Não é somente corrosão institucional, mas institucionalização do que é corroído e perverso. Não teremos pela frente o dito novo normal, mas um normal seguramente pior. 

 

A frente única de ação que nós da esquerda de forma tímida e inconsistente ainda alimentamos, pouco nos move e nos agrega. Parece que fomos convencidos e tragados pelo imobilismo e mesmo quando somos movidos por espasmos de resistência, logo cedemos à inércia. No momento a Covid-19 ainda pode funcionar como álibi inercial. Mas até quando? Se antes da pandemia o que era coletivo e presencial já pouco nos movia, com o remoto compulsoriamente imposto pela situação emergencial o quadro de demissão é ainda mais desolador. Mas não há como recuperar a esperança fora da luta. Somente a luta muda a vida. Eleições para seguir na luta.

 

*José Alcimar de Oliveira é base da ADUA, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas e filho do cruzamento dos rios Solimões, em Manacapuru, AM, e Jaguaribe, em Jaguaruana, CE. Em Manaus, AM, no mês de setembro do ano coronavirano de 2020.



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