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  02/10/2020 - por José Alcimar de Oliveira





Joaquín Salvador Lavado – Quino -, o mais conhecido cartunista do mundo hispânico, nos deixou no dia 30 de setembro de 2020, aos 88 anos, completados no dia 17 de julho. Sua Mafalda, segundo Umberto Eco, uma criança zangada que se recusava a deixar de ser criança, nascida em 1962, continuará sempre com seis anos de idade. Ela nasceu com seis anos. Pela cronologia real, teria nascido em 1956, no ano em que morreu Brecht e, assim, teria hoje a minha idade, 64 anos. Quem não gostaria de ter uma irmã como a Mafalda? Sempre criança e sábia. Sabedoria ontológica, fenomenológica, existencial.

 

Uma, quem sabe a mais famosa sentença filosófica da Mafalda, justo a mim me coube ser, que ouvi pela primeira vez num curso sobre Fenomenologia no velho ICHL-UFAM, ministrado pela Professora Dulce Mara Critelli, da PUC-SP, julgo estar à altura das grandes sentenças dos pensadores originários, de um Anaximandro, por exemplo, autor da mais antiga e enigmática sentença filosófica do mundo ocidental.

 

O que seria de Quino sem a Mafalda? Em tempos de mediática imbecilização das crianças, moldadas pela tirania do consumo, a Mafalda de Quino e o Quino da Mafalda parecem restituir a todas as crianças, pelo devir emancipatório da arte, o direito à verdade da vida, à inocência da imaginação e ao uso público da linguagem filosófica.

 

Mais do que filosofia para as crianças, Mafalda é a filosofia da criança em sua expressão mais socrática. Sócrates teria muito a aprender com Mafalda, que não relutaria em exigir do célebre ateniense uma defesa a mais consistente do direito à cidadania negado às crianças na Cidade-Estado de Atenas.

 

Companheiro Quino, presente!

 

Ninguém melhor do que Mafalda para manter viva sua memória.

 

*José Alcimar é filósofo, escritor, teólogo-não ortodoxo, articulista, doutor e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).



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