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  08/08/2020 - por José Alcimar de Oliveira





Em sua  figura corporal frágil habitava  um verdadeiro vulcão, feito de ira santa, indignação profética e compromisso evangélico na defesa da vida dos pobres, camponeses, indígenas, contra o latifúndio e a  violência dos grandes malfeitores.

 

Em 1978, Dom Pedro Casaldáliga participou da cerimônia de ordenação episcopal de Dom Jorge Marskell (1935-1998), outro grande Bispo e Pastor, em Itacoatiara - AM, no dia 05 de maio de 1978.   Ainda jovem  estudante de Filosofia no CENESCH, em Manaus, me fiz presente naquela inequecível cerimônia pública, numa ágora tomada pelo povo-multidão, às margens do portentoso rio Amazonas. Era um domingo à tarde. Na volta para Manaus, Dom Pedro  hospedou-se conosco, em São Jorge, na Casa dos Franciscanos da T.O.R.

 

Era o bispo mais temido pela ditadura empresarial-militar.


Catalão de nascimento, chegou ao Brasil em 1968 e recebeu a Ordenação Episcopal em 1971, assumindo a Prelazia de São Félix do Araguaia, a leste de Mato Grosso, região até hoje dominada pela violência do latifúndio, da grilagem de terras, e assassinatos de encomenda  contra camponeses e indígenas.

 

Embora recebesse muitos convites para participar de eventos no exterior, Dom Pedro sempre os recusava, porque sabia que os militares impediriam seu retorno ao Brasil.

 

Fez-se pobre com os pobres. Não morava em palácio episcopal, mas em casa simples, sempre de portas abertas ao povo.  Sua pátria era São Félix do Araguaia - MT. Aos 92 anos e muito debilitato,  permaneceu até as últimas forças  em sua São Félix, quando, por fim, no início desse agosto de 2020, foi transferido para a cidade de Batatais, em São Paulo, aos cuidados da Congregação Claretiana, à qual pertencia. Ali terminou seus dias nesse 08 de agosto de 2020.

 

Os anos  de 1970, 1980, 1990 e início dos anos 2000  da Igreja no Brasil  seguirão definitivamente marcados  pela presença irredenta desse bispo poeta e militante, que tanto incômodo causou ao reacionarismo, tanto da parte da cúpula e de setores da Igreja, quanto da burguesia democida e servil à ordem do grande capital.

 

Dom Pedro fez da teologia um saber com os pés no chão. Sua história está ligada à luta de dois mártires da Teologia da Libertação: o padre João Bosco Penido Burnier, assassinado em 1976, e o padre Josimo Tavares, assassinado em 1986.

 

Dom Pedro Casaldáliga, desde sua Prelazia de São Félix do Araguaia, atravessada pelas forças do atraso, sob as agressões continuadas dos senhores da terra, já inscreveu de forma definitiva, com as letras da  dignidade e da causa do Reino de Justiça e Paz, sua presença no Grande Memorial da Vida.

 

Dom Pedro Casaldáliga, PRESENTE!

 

* José Alcimar de Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, teólogo sem cátedra  e filho dos  filho dos rios Solimões e Jaguaribe, em Manaus-AM, 08 de agosto de 2020.



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