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  10/02/2020 - por Isaac Lewis





A realidade social e política de um país colonizado, como o Brasil, é mais fantástica do que a ficção fantástica produzida por autores latino americanos (incluindo autores luso-brasileiros). Stanilaw Ponte Preta produziu livros, na década de 1960, revelando o festival de besteira que assolava o país, denominado Brasil. Percebemos que há necessidade de autores brasileiros debruçarem-se sobre os festivais de besteiras do Brasil Colônia, Brasil Império e do Brasil República pós morte de Stanilau Ponte Preta. Possivelmente essa gigantesca obra deveria chamar-se Festival de Horrores que assolaram/assolam o país.  Há necessidade, por exemplo, de alguém ir estudar na Universidade de Chicago e retornar ao Brasil para afirmar que os servidores públicos brasileiros são parasitas, sem explicitar que servidores são realmente parasitas? Precisamos lembrar que a proposta de educação democrática, defendida por John Dewey e outros filósofos educacionais americanos, formaram/forma jovens doutores que entraram/entram em bombardeiros e jogaram/jogam bombas em países orientais (Japão, Vietnã, Iraque) sem remorsos de serem heróis genocidas.  Que educação democrática é essa?
 
Na década de 1960, muitos oficiais militares de países latino americanos (incluindo o Brasil, é claro) foram estudar nos Estados Unidos e, ao retornarem aos seus países, participaram de golpes militares contra os governos democráticos que não eram de simpatia do Complexo Industrial Militar dos Estados Unidos. Não haveria necessidade de a Secretaria Estadual de Educação de Rondônia explicitar que formação tiveram e onde se formaram os assessores e os técnicos educacionais que censuraram os livros de Machado de Assis, Mário de Andrade, Euclides da Cunha, Rubem Fonseca, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, Franz Kafka, Edgar Allan Poe, entre outros? 
 
 
 
Em um país onde a grande maioria da população é constituída de analfabetos funcionais com diplomas, que necessidade há ou que sentido faz censurar os livros dos autores citados pelos censores ou inquisidores modernos? Esses inquisidores censores leram funcionalmente quantos livros durante sua formação escolar? Arriscamos afirmar que nem leram os livros da bíblia que costumam chamar de sagrados. Se tivessem lido funcionalmente a bíblia, teriam  observado que ela está cheia de ideias e conteúdos inapropriados, como preconceitos e discriminações contra os outros, contra as mulheres, além de informações incorretas sobre o mundo, a natureza e sobre os seres humanos. Os censores inquisidores deveriam ficar atentos às ideias e aos conteúdos contidos nos livros sagrados de todos os povos.  O que sabem dos livros que constituem a bíblia foi-lhes contado por algum pastor. Como foi a formação desse pastor? Quantas vezes esse pastor viajou para os Estados Unidos para receber orientações de como alienar as mentes e os corações dos crentes do Terceiro Mundo? Do mesmo modo, precisamos saber como se dá a formação de um juiz, secretário de polícia, policial, militar, médico, professor, advogado em um país colonizado que não mudou a formação de sua casta política escravagista com a proclamação da independência, com a proclamação da abolição, com a proclamação da república. A propósito, o roteiro do filme “Queimada” (1969), dirigido por Gillo Pentecorvo, revela como um país colonizado por um país europeu pode se tornar independente, tornando-se, ao mesmo tempo, colonizado por outro país imperialista. 
 
 
A realidade social e política fantástica do Brasil seria melhor compreendida, se tivéssemos algumas dessas respostas. Talvez a leitura dos livros “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury; “O admirável mundo novo”, de Aldous Huxley; “1984”, de George Orwell; “A crônica da morte anunciada”, de Gabriel Garcia Marques; “O inspetor geral”, de Nicolai Gogol; “O processo”, de Frank Kafka seja suficiente para entendermos a sociedade colonizada brasileira fantástica. Mas, atenção, é preciso adquirir esses livros urgentemente antes que os inquisidores censores dos tempos das trevas medievais contemporâneas resolvam censurar esses livros. 
 
professor aposentado da Faculdade de Educação/Universidade Federal do Amazonas.  


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