Documento sem título






     Artigos




  27/01/2020 - por Alfredo Coello





Brasil  e seu Teatro: uma história para além da História

(Resistência e luta contra a Ditadura Militar)

O contexto político do Golpe Militar de 1964 instalou a bota repressora em todo o país. A primeira resistência cultural foi realizada pelos estudantes em diferentes frentes universitárias. Mais tarde, com o Ato Institucional 5 (AI-5), a mais violenta medida de exceção imposta pelo Regime Militar para cercear direitos políticos e civis, a repressão foi desencadeada a qualquer foco de oposição organizada, incluindo os setores culturais e políticos, assim como os incipientes partidos políticos. A repressão foi brutal, quer dizer, militar e mortal.


A repressão foi inumana, hoje sabemos, associada à tristemente famosa Operação Condor dirigida pelas tenebrosas oficinas da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, Central Intelligence Agency, em inglês) e implementada por militares em toda a América Latina (com ênfase no Cone Sul), treinados na famosa Escola do Panamá dirigida pelo exército norte-americano. Esta operação deixou, nos países que dela participaram, um terrível saldo de 50 mil mortos, 30 mil desaparecidos e cerca de 400 mil presos. O Brasil se incorporou formalmente a esse processo repressivo no final de 1976.


Em todas as regiões do país, nos diversos campos de atuação, se mobilizaram grupos de resistência à Ditadura, entre eles o teatro. Mas, a origem do movimento teatral de resistência à Ditadura Militar brasileira, em nível nacional, não se localizava unicamente em São Paulo e no Rio de Janeiro, os dois principais centros de contestação política no país. Nos anos de 1960, com maior precisão em outubro de 1968, se forma um primeiro núcleo de resistência teatral à Junta Militar. Este núcleo se organiza em uma pequena cidade no norte do Estado do Paraná. A linha imaginária do Trópico de Capricórnio cruza o seu território.


Foi na cidade de Arapongas (PR). Uma mulher, guerreira, inteligente e forte para lutar por um teatro livre e sem amarras armou a resistência contra a censura dos militares. Ela é Nitis Jacon, psiquiatra, médica e dramaturga. Sua história de vida, ainda hoje, corre paralela à história do teatro no Brasil e podemos afirmar também, sem dúvida, do teatro de resistência, junto a personagens como Augusto Boal, na América Latina. Caminha, também, nos cenários do teatro internacional. Diretora do grupo de teatro Orfeu, naqueles anos idos de 1960, organizadora, até pouco tempo, do Festival Internacional de Teatro de Londrina (PR), onde durante anos se apresentaram os mais importantes grupos de teatro da Europa e da América Latina.


São milhares de pessoas com nome próprio, gente comum e anônima que de diferentes formas resistiram à brutalidade da Ditadura Militar desde 1964 até meados dos anos de 1980. Lutaram por um país onde todo cidadão possa viver em paz e com trabalho. Sem violência, sem ódio do “outro”, sem discriminação ao “diferente”. Um país onde caibam todos. É necessário um trabalho que resgate a memória da micro-história neste país. Tarefa necessária e urgente, hoje, para as jovens gerações.

 

Alfredo Coello, Antropólogo Social



Galeria de Fotos