Gostar do que se faz é importante – alguns de nós têm a docência em seu DNA. Sabemos que não vamos ficar ricos como professores, mas não se trata de enriquecer, é necessário que vivamos dignamente do nosso ofício.
Se comparado a outros países, o Brasil é o 18º em pagamento aos seus professores universitários. Comparando internamente, o professor de 3º grau ganha menos que um analista federal – não se trata de desmerecer este, mas de valorizar o professor.
O que podemos constatar? Apesar do apoio popular que temos recebido em que salta aos olhos de todos que nossas reivindicações são mais que justas, parece-nos que falta a força política para chegarmos ao consenso na mesa de negociações. O cancelamento de reuniões por duas semanas sucessivas entre o Sindicato Nacional dos Professores (Andes-SN) e o Ministério do Planejamento caracteriza uma estratégia do governo para tentar enfraquecer o movimento, mas que está funcionando ao contrário.
Não deveríamos precisar provar que somos necessários ao desenvolvimento do país; esse deveria ser um reconhecimento inerente. A nossa pauta traduz-se por melhorias não apenas do coletivo dos professores, enquanto assalariados, mas das condições que as universidades federais oferecem para o ensino-aprendizagem. Trata-se, portanto, de buscar melhor qualidade aos nossos serviços.
Devemos lembrar que a universidade pública ainda representa a única opção para aqueles que não podem se imaginar pagando cursos em universidades privadas. A manutenção das Universidades Públicas é essencial e deve estar acima de interesses políticos imediatistas que certamente decretarão o seu fim.
Paralelamente à greve, o que estamos observando, nós, professores dos cursos de MEDICINA? A equivocada política de aumento de número de vagas nos cursos de Medicina – 1.615 novas vagas em faculdades de medicinas públicas e privadas -, tem objetivos políticos e econômicos principalmente. No Brasil não faltam médicos, apenas há uma má distribuição. Isto é o que nos traduz o Conselho Federal de Medicina (vejam o artigo da ISTOÉ do nº 2223). Não há políticas para fixar, não só médicos, mas profissionais de saúde, nas periferias das grandes cidades e no interior brasileiro. A média brasileira é de 1,8 médicos para cada mil habitantes e o desafio é distribuí-los pelo território nacional de maneira mais harmoniosa.
Por outro lado, é bom que reflitamos sobre a posição estática dos nossos representantes nas diversas casas legislativas do país. Não há sintonia entre os que elegemos e a população. A presidente Dilma sequer se manifestou sobre o assunto, parece mesmo que vive em outro país, pois nestes mais de trinta dias de greve não ouvimos qualquer pronunciamento a respeito.
Até quando a greve vai durar? Não sabemos. Qualquer um que se detenha a estimar um prognóstico poderá errar. O fato é que se estamos enfrentando um governo forte, precisamos nos fazer mais fortes e vencer esta queda de braço que se nos apresenta, como única forma digna de obter o que queremos e encerrar a greve, construindo um novo calendário acadêmico.
Neila Falcone da Silva Bomfim é professora adjunta do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFAM. |