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  00/00/0000 - por Cláudia Santiago*




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Filme trata da realidade das "meninas da noite"


O filme Anjos do Sol, de Rudi Lagemann, pode ser tudo, menos agradável de ser visto. É muito ruim ficar de cara com a realidade. Ainda mais quando ela é tão bem mostrada. E é exatamente isso o que faz Lagemann e a equipe de atrizes e atores.

Nos fazem lembrar, através da arte, que meninas ainda são comercializadas no Brasil. Que são trocadas por suas famílias por poucos tostões. Que têm suas primeiras relações sexuais com homens nojentos que montam sobre elas com brutalidade. Que são submetidas por donos de bordéis a dezenas de relações sexuais por noite. Meninas que apanham se desobedecerem e morrem se tentarem fugir.

Nos faz lembrar também daquelas que acabam por se acostumar e defendem seus algozes. E de outras que sonham que um príncipe vai aparecer num cavalo branco e as levar de lá. A mensagem final é dupla. Diz que é possível fugir da escravidão para revelar em seguida que, nesta sociedade, para essas meninas, não há saída.

Sem cair no sensacionalismo ou na pieguice, o filme é um petardo no falso moralismo brasileiro, que insiste em não enfrentar esses problemas com as chamadas “meninas da noite”. Se o filme incomoda ou choca o espectador, por outro lado foi belamente construído e por isso agradável de ser visto.

Não deixem de ver e de se emocionar com a bela obra de arte de Lagemann, aliás seu primeiro longa-metragem. As interpretações de Fernanda Carvalho (Maria), Bianca Comparato (Inês) e Mary Sheyla (Celeste) ficam na lembrança e foram merecedoras de premiações no Festival de Gramado.

E depois de assistirem o filme fiquem bem indignados e lutem para mudar essa realidade.

*Cláudia Santiago é jornalista e integra o Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro, que trabalha com a comunicação popular e mídias alternativas.



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