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  10/12/2018 - por Isaac W. Lewis



Data: 10/12/2018
                       
Escola sem partido? Não existe. Nunca existiu. Nunca existirá. Paradoxalmente, os principais defensores da escola sem partido são filiados a partidos. Partidos que defendem interesses hegemônicos dos capitalistas colonialistas dos países desenvolvidos, dos latifundiários, dos capitalistas emergentes e das classes favorecidas dos países colonizados. Partidos que defendem a monopolização da terra, das riquezas minerais e naturais por parte das classes empresariais privilegiadas internacionais e das classes favorecidas nacionais. Partidos coniventes com governos e classes privilegiadas e favorecidas que promovem a injustiça e a desigualdade social nos países colonizados. Partidos que apoiam violência institucional (jurídica e policial) contra homens, mulheres, jovens e crianças pertencentes às classes desfavorecidas.

Os proponentes da escola sem partido retomam o partido de uma educação jesuítica, catequética (dominante no Brasil, do século XVI ao século XX) que ocultava dos alunos e da população, em geral, as descobertas científicas (Copérnico, Galileu), as discussões filosóficas (Descartes, Francis Bacon), teológicas (anglicanismo, luteranismo), educacionais (Rousseau, Condorcet) e políticas (Revolução Gloriosa, em 1688-1689, na InglateTrra, e Revolução francesa, em 1789), desenvolvidas na Europa a partir da Renascença.

Os partidos que defendem a escola sem partido ignoram ou fingem ignorar que educadores e políticos na Europa e nos Estados Unidos, ao reformarem ou ao criarem seus sistemas educacionais a partir do século XVIII, aboliram a escola confessional, estabeleceram a laicidade do ensino em suas escolas e universidades, com apoio de alunos, pais de alunos, professores e até de religiosos (católicos e protestantes). Isso explica o alto nível de desenvolvimento do sistema educacional desses países.

Em alguns países, houve retrocessos, falhas, rupturas, como na Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, onde o fascismo, o nazismo, o franquismo, o salazarismo desestruturaram o desenvolvimento e as experiências educacionais voltadas para a formação plena de seus educandos. Nos Estados Unidos, apesar do esforço de vários educadores para o desenvolvimento de uma formação democrática e política de seus educandos com vistas a construção de uma sociedade democrática, estranhamente milhares de jovens com diplomas universitários tornaram-se pilotos encarregados de lançar bombas e outros artefatos letais sobre populações no Extremo Oriente e no Oriente Médio desde o início do século XX.

No Brasil, por conta da educação jesuítica e catequética de interesse dos colonizadores portugueses (1500-1822) e dos luso-brasileiros colonialistas (latifundiários, empresários, industriais emergentes e classes favorecidas) a partir da proclamação da independência de Portugal, predominou e ainda predomina a formação profissional, utilitária, voltada para o mercado nacional subserviente ao mercado internacional, atendendo principalmente as vaidades das classes emergentes (favorecidas e desfavorecidas), mais interessadas no status e privilégios pessoais do que no bem estar da maioria da população brasileira e sem compromisso com o desenvolvimento científico de sua área de estudo. Evidentemente que há profissionais de nível superior que constituem exceções em todas as áreas, tanto nas profissões liberais quanto nas militares.

Em geral, os proponentes da escola sem partido não estão preocupados em tomar partido em prol de uma educação de qualidade que possibilite aos educandos, em todos os níveis de escolaridade, não só o domínio do conhecimento científico de sua realidade natural, social e histórica como também a capacidade de ler e compreender criticamente textos que se referem a essa realidade.


*Isaac Warden Lewis é professor aposentado da Faced/Ufam e ex-presidente da ADUA.



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