Data: 22/08/2017
No século XIX, Karl Marx sugeriu que a humanidade contemporânea ainda vivia na pré-história. Hoje estamos no século XXI, que é um tempo convencional, estabelecido pelos papas da Igreja Católica Apostólica Romana. A cada dia que passa, penso que Marx estava absolutamente certo, pois acredito que a discussão sobre se o ensino religioso deve ser ministrado por um sacerdote (padre, pastor, rabino, imã, pai de santo ou mãe de santo) ou um professor ou cientista é uma discussão medieval, feudal, inquisitorial.
Infelizmente muitos crentes e sacerdotes insistem em interferir nas ações políticas do estado laico, não se dando conta de que há muito tempo foi deliberada a separação entre o estado e a igreja, entre o profano e o religioso. Esquecem que a luta histórica das igrejas e das seitas religiosas, em geral, foi contra a interferência do estado nas ações de suas organizações. Esquecem também que historicamente condenavam práticas profanas e, depois, passaram a praticar ritualisticamente ações profanas.
No Brasil, colonizado pelos portugueses, os padres católicos em suas escolas e igrejas, não discutiam os conhecimentos científicos desenvolvidos após a Renascença e somente, a partir de 1930, a muito custo e com muita luta, os pedagogos, professores, cientistas e escritores, comprometidos com a renovação da educação nacional, começaram a propor o ensino de ciências nas escolas. Graças aos educadores da Escola Nova, o Brasil tem seus institutos de pesquisa, suas universidades, onde muitos alunos e professores estão comprometidos com a ciência, com a verdade.
Se tivéssemos assumido as ideias e as críticas negativas dos setores religiosos, nunca saberíamos que os vírus e as bactérias provocam doenças, as quais são combatidas através de medidas profiláticas, higiênicas e medicinais propostas pelos cientistas.
Marx declarou que “a religião é o ópio do povo”. Penso também que Marx estava certo, pois o currículo escolar prevê o ensino de História e de Geografia. Numa educação de qualidade, os educandos podem e devem aprender sobre a história das religiões quando estudam História Geral e podem e devem aprender sobre as religiões de um país, de uma região quando estudam Geografia.
Não acredito que a maioria dos sacerdotes esteja disposta ou tenha competência para proporcionar um ensino pleno do desenvolvimento das religiões ao longo da História da Humanidade e, em especial, a história de sua própria religião.
* Isaac W. Lewis é professor aposentado da Faced/Ufam e ex-presidente da ADUA. |