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  02/02/2017 - por Isaac W. Lewis



Data: 02/02/2017

Max Weber considerava que o compromisso dos cientistas era com a verdade, mas que os políticos não precisavam necessariamente ter tal compromisso. Para o intelectual alemão, a realidade política demandava dos políticos compromisso com as meias verdades. Claro que Weber não poderia imaginar as consequências de suas ideias não só na Alemanha, como em todo mundo e, em especial, no mundo subdesenvolvido (incluindo Brasil e Estados Unidos), onde as ideias esboçadas na Europa eram distorcidas, enviesadas e passavam a ser consideradas ideias civilizadas, superiores por letrados preguiçosos que assimilavam tais ideias acriticamente.
 
No Brasil, no período colonial, os jesuítas foram mestres em ensinar meias verdades, pois seus educandos , os nativos da América, os senhores e as senhoras de escravos e os próprios escravos não deveriam  saber das questões científicas que foram e estavam sendo desenvolvidas naquele momento  na Europa, assim como não deveriam saber sobre as críticas feitas à religião pelos não católicos.
 
Sabemos que nem todo cientista tem compromisso com a verdade e nem todo político orienta-se por meias verdades. Na realidade, há pessoas, de modo geral, que buscam a verdade para se orientarem, assim como há pessoas que, esperta ou ingenuamente, se satisfazem com as meias verdades pronunciadas por agentes ou instituições qualificados ou não pertencentes a uma determinada sociedade.
 
Certa vez, um professor de História de uma renomada instituição universitária paulista e também um ativista de esquerda, em um congresso de professores, pronunciando-se contra qualquer debate sobre quotas ou política afirmativa na universidade, declarou  extemporaneamente que, em Ruanda, membros da etnia hutu haviam  massacrado membros da etnia tutsi. Em nenhum momento esse professor de História sublinhou que os membros da etnia tutsi haviam massacrado anteriormente membros da etnia hutu com apoio dos colonizadores belgas. Esse professor, como cientista e como esquerdista radical, pronunciou uma meia verdade, fazendo coro com as autoridades políticas belgas que condenavam os massacres contemporâneos em Ruanda, sem mencionar seu apoio às arbitrariedades e discriminações promovidas pelos tutsis contra os hutus durante sua colonização do país. Estranhamos o posicionamento de um professor de esquerda que se solidariza com os colonizadores europeus.

Um outro exemplo de meia verdade está sendo propalado pela propaganda do Ministério da Educação do Brasil a favor de uma reforma que prosseguirá a precarização da formação de qualquer profissional nesse país. No início do século XX, vários filósofos educacionais (americanos, principalmente) propugnaram que os educandos não precisavam aprender tantas matérias para se tornarem profissionais de que a sociedade precisava.
 
Imaginamos que, para esses filósofos educacionais, o bibliotecônomo não precisaria saber ler, escrever, contar, literatura, história, geografia, qualquer conhecimento científico. Bastaria ele saber pegar um livro, ler o código e colocá-lo na estante. Imaginamos também que um médico não precisaria saber ler, escrever, contar, literatura, ciência, biologia, física, química e nem anatomia. Bastaria esse acadêmico escolher sua especialidade, por exemplo, implantação de silicone, seguir os manuais produzidos nos países globalizados corporativos, onde a medicina é estudada seriamente e, pronto,  já poderia atuar como cirurgião do silicone no país globalizado dependente.
 
Esses filósofos educacionais modernos não explicavam  por que Bertrand Russell, sendo um brilhante matemático, era também  filósofo e escritor. Nem seriam capazes de explicar a genialidade de Oscar Niemeyer que, além de arquiteto, era também escritor e escultor. A lista seria interminável, se pesquisássemos profissionais que se notabilizaram em várias áreas.
 
Os filósofos educacionais dos países globalizados dependentes, como o Brasil, foram mais longe. A um estudante de matemática não se deveria exigir o estudo da língua materna, de história, geografia, filosofia, ciência. Do mesmo modo, a um estudante de língua estrangeira, não se deveria exigir o estudo da língua nacional, de história, geografia, matemática, ciência, filosofia. A um estudante da língua nacional, não se deveria exigir o estudo de gramática. Para tais filósofos, esse estudo atrapalhava a aprendizagem da língua. A abolição de disciplinas e de conteúdos tornou-se a experiência pedagógica moderna e avançada para esses pseudo filósofos educacionais. Para serem consequentes, deveriam ter proposto a abolição da escola.

A reforma do ensino médio, proposto por autoridades burocráticas do Ministério da Educação com apoio de autoridades políticas e governamentais, é tardia e extemporânea como são as reformas que imitam  reformas realizadas há muito tempo em outros países. Além disso, a publicidade do Ministério da Educação não esclarece que vários países que realizaram esse tipo de reforma, segundo os filósofos educacionais modernos, voltaram atrás ou estão voltando atrás, adotando a educação tradicional que ensina os educandos a estudarem toda e qualquer disciplina para enriquecerem seu conhecimento e seu pensamento, haja vista que os exercícios de múltipla escolha adotados como exercícios modernos em muitos países foram abolidos imediatamente porque professores e pedagogos desses países descobriram que exercícios de múltipla escolha não possibilitavam que os educandos desenvolvessem seu conhecimento e seu pensamento. Tal descoberta ainda não chegou aos países de cultura subdesenvolvida, embora muitos professores brasileiros já tenham abolido, por conta própria, esse tipo de exercício.



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