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  16/11/2015 - por Isaac W. Lewis



Data: 16/11/2015

Em 1983, num documento reivindicatório dos professores do Amazonas – APPAM, endereçado ao Governo do Estado do Amazonas, os professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio reivindicaram melhores condições de trabalho e de salários. O propósito do documento foi mostrar que a política educacional criada pela Ditadura Militar (1964-1982) precisava ser reformulada e, também, os entulhos autoritários criados pela referida Ditadura precisavam ser removidos.

E para justificar as reivindicações para a valorização do magistério profissional do Amazonas que implicaria a melhoria das condições de ensino nas escolas, o documento reivindicatório da APPAM, em 1983, apontou as precariedades e as condições desfavoráveis para o exercício das atividades de ensino-aprendizagem de boa qualidade nas escolas do estado do Amazonas na época.

Em nome do conjunto dos professores, o documento reivindicou: 1. Mais recursos para criar condições apropriadas para oferta de educação de qualidade no Amazonas, que respeitasse os valores culturais do povo amazonense; 2. Participação dos professores nos processos de decisão na área educacional do estado, permitindo a liberdade de reuniões e de discussões dos professores em suas escolas; 3. Salários justos para que os professores pudessem se dedicar qualitativamente às suas atividades educacionais.

O documento justificou a demanda de salários justos para os professores amazonenses, analisando a política econômica dos governos militares que propiciou condições favoráveis ao crescimento de grandes empresas, a organização da economia nacional, segundo os interesses de grandes empresas estrangeiras, a contração de empréstimos para construção de grandes obras gigantescas, enquanto os trabalhadores eram penalizados com arrocho de seus salários. O documento reivindicatório não considerava justo que os trabalhadores pagassem a conta pela crise que assolava o país naquele momento e que não pudessem contar com educação de qualidade para que as crianças e os jovens pudessem se preparar para o trabalho e para a vida.

Na ocasião, o Movimento dos Professores entendia que seu sindicato não deveria estar atrelado a governos, a patrões, a partidos políticos ou a denominações religiosas e deveria manter sua autonomia, independência, para garantir a luta pelos direitos políticos e profissionais de todos os professores do estado do Amazonas. Entretanto os militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que apoiava o governo estadual, entendiam diferentemente. Atuavam no movimento sindical e estudantil com a intenção de atrelar sindicatos e movimentos estudantis a seus interesses político-eleitoreiros. Na década de 1980, os militantes e os políticos do PCdoB apoiaram as perseguições do governo estadual a professores e professoras em todo o estado do Amazonas.

Apesar disso, o Movimento dos Professores obteve retumbante vitória em 1983, pois o governo estadual suspendeu as perseguições a vários professores, permitindo que eles retornassem as suas escolas originais, concordou em conceder aumento de salários a professores e comprometeu-se a atender vários itens da pauta de reivindicações da APPAM. Infelizmente, após a vitória do Movimento, a categoria dos professores se retraiu. Os militantes do PCdoB passaram a controlar o destino do movimento, atrelando-o aos interesses de políticos desse partido e, desde então, as condições de trabalho e salariais dos docentes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio do estado do Amazonas foram desconsideradas por vários governos estaduais e municipais, com o apoio dos militantes e políticos do PCdoB.

Percebemos que um sindicato, guiado pela necrofagia política, só prospera com a precarização e o sucateamento das condições de trabalho de seus sindicalizados. Por isso, os militantes do Partido Comunista do Brasil investem contra a tradição de luta e resistência da ADUA, tentando confundir os incautos com falsas concepções de periferia, democracia e tirania. Pena que não tenham colocado uma faixa sobre sua ideologia favorita: a necrofagia.

Estranhamos que uma militante do Partido Comunista do Brasil se refira à ADUA como periférica. Não é capaz essa militante de perceber que somos todos periféricos – o Brasil, os brasileiros, os países da América Latina, os países da África, as instituições desses países, incluindo seus partidos políticos, em especial, os partidos comunistas que adotam teorias e práticas abandonadas há muito nos países centrais. Somos todos periféricos, mas há uma diferença entre os periféricos que adquirem consciência crítica e se recusam a aceitar os princípios e os valores impostos pelos países centrais e procuram construir princípios e valores condizentes com as tradições culturais de seus povos, como foi o caso dos professores do Movimento Docente da APPAM e os periféricos que aceitam os postulados políticos e culturais impostos pelas instituições das classes privilegiadas dos países centrais, como foi o caso dos partidos políticos (PT e PCdoB) que aceitaram as determinações políticas e econômicas impostas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional.



Estranhamos ainda que os militantes fura-greves no Estado do Amazonas, atrelados ao PCdoB, falem em democracia, quando, na prática política, adotam atitudes autoritárias. Por acaso, a liderança do PCdoB consultou a população amazonense para defender a Zona Franca, criada pela Ditadura Militar, depois de passar anos e anos, combatendo esse órgão? Por acaso, as lideranças do PCdoB consultaram o povo e os trabalhadores para apoiarem a política econômica do Governo Lula, ditada pelo FMI e pelo Banco Mundial? Por acaso, as lideranças do PCdoB consultaram o povo e os trabalhadores para apoiarem a reforma da previdência, ditada pelo Neoliberalismo?

Estranhamos também que os militantes se refiram à tirania dos diretores da ADUA. No dia 3 de julho de 2015, a reunião do CONSUNI da UFAM para deliberar sobre o calendário acadêmico foi suspensa, não tendo havido nenhuma deliberação. Os diretores da ADUA informaram corretamente que a referida reunião foi suspensa. Enquanto isso, os militantes do PCdoB colocaram faixas no Campus, informando que o CONSUNI não aprovara a greve dos professores. Mais uma vez, os militantes do PCdoB tiranicamente expressaram-se indevidamente em nome da UFAM e em nome da luta e da resistência dos professores organizados legalmente em seu sindicato.

Por isso, percebemos a importância da autonomia política do sindicato para encaminhar democraticamente a luta de seus associados, pois a APPAM constituiu-se num movimento sindical forte que garantiu, na década de 1980, várias conquistas para o magistério e para a educação amazonense. A ADUA – Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – constitui um sindicato que continua e continuará a luta e a resistência dos professores por melhores condições de trabalho e salariais em favor de uma universidade pública, de qualidade referenciada e voltada para atender os reais princípios e valores de uma sociedade amazonense e brasileira digna e independente, pois a ADUA continuará desatrelada dos interesses dos patrões, governos, partidos políticos e denominações religiosas, tendo como finalidade única a defesa dos interesses e os direitos de todos os professores da UFAM.

Isaac W. Lewis é professor aposentado da Faced/Ufam e ex-presidente da ADUA.



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