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  18/01/2016 - por Welton Oda



Data: 18/01/2016

“A máquina não isola o homem dos grandes problemas da natureza, mas insere-o mais profundamente neles.” (Saint-Exupery)

A ideia hegemônica de "desenvolvimento tecnológico", de "industrialização" nos deixou como herança poluição do ar, resíduos sólidos não degradáveis, exploração de minérios com contaminação, da terra e da água, por metais pesados, intoxicações, envenenamentos, pobreza massiva e zonas caóticas e superpovoadas, as chamadas cidades. O uso e o consumo massivos de aparatos tecnológicos têm destruído sistematicamente todo o planeta.

No campo da política, discursos e práticas da tecnologia também repaginaram os famigerados coronéis da política nacional, hoje perdendo poder e reduzindo seus impérios (vide Clãs Sarney, Magalhães, Amin, Maluf, Mendes). Em contrapartida, os atuais políticos "de sucesso" tem curso universitário, ternos finos, cabelos aparados, óculos com armações leves, barba bem aparada, cara de bom moço, gestos suaves e fala mansa e bem articulada, cheia de jargões técnicos, de soluções tecnológicas. São os tecno-coronéis! "Por fora bela viola!"

Na verdade, praticam uma rapinagem bem mais sofisticada, possuem esquemas de drenagem de recursos públicos mais eficientes, sua insensibilidade social é muito maior (o uso da força policial, por exemplo, é mais frequente e duro, dispondo de armas químicas e elétricas não letais e outros recursos tecnológicos sofisticados), a mãozinha fina e delicada do tecno-coronel desce sobre a população de forma muito mais pesada. "Por dentro, pão bolorento."



Tecno-coronéis, parlamentares e integrantes de executivos municipais, estaduais e federal proliferam pelas grandes cidades, são sustentados e trabalham para grandes conglomerados nacionais e internacionais, articulando convênios desvantajosos para o erário e ganhando comissão para mantê-los, para saquear os cofres públicos e enriquecer empreiteiras, empresas de transporte coletivo, de coleta de lixo, de limpeza pública, de jardinagem, de medicamentos e venda de livros didáticos. Apesar da aparente sofisticação, são paus-mandados de grandes corporações.

Tão enganosos quanto uma propaganda do sabonete Lifebuoy, que promete torná-lo asséptico e livre dos “germes”, o tecno-coronel tem, na ponta da língua, o discurso anticorrupção. Fala sempre também na importância da família, da preservação dos valores, da vida, etc. A cascata é a mesma dos coronéis, mas com um linguajar mais sofisticado, mais treinado.

O rosto, liso, como que lambuzado de óleo de peroba, deixa transparecer, no fundo, além da soberba, um leve sorriso que denuncia sua falsidade, seu coração de metal, tecnológico, sua frieza, seus nervos de aço.

Neste ano, você votará (ou não) em candidatos a prefeito e vereador, escolhendo tipos como esse ou agindo de modo mais inteligente, evitando ser enganado pelo discurso tecnopolítico desses charlatões. A urna será eletrônica, a identificação será digital, apesar disso, da consciência do eleitor, espera-se mais humanidade.

* Welton Oda é professor do Instituto de Ciências Biológicas da Ufam (publicado originalmente no dia 17 de janeiro de 2016, no Jornal GGN)



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