Duas das maiores instituições em atuação no Brasil, o PT e a Igreja Católica, visceralmente imbricados, compartilham algumas características constitutivas de parcela significativa da população brasileira, nem todas, necessariamente, positivas, claro.
Chama a atenção, por exemplo, a diversidade ideológica. No caso da Igreja Católica, grupos elitistas como a Opus Dei e o “Tradição, Família e Propriedade” (TFP) são considerados tão católicos quanto aqueles mais liberais, como os que professam a Teologia da Libertação. Católicos veneram tanto papas ultra-conservadores, como Bento XVI quanto aqueles de ideias mais avançadas, como João XXIII. Abrindo parênteses: Talvez, nesse momento, alguns protestantes, evangélicos e outros grupos cristãos possam estar concordando com a crítica, por isso, convém lembrar que, apesar de todas as discordâncias que possamos ter, é entre os católicos que existe ainda uma teologia mais avançada e uma compreensão histórica mais coerente do cristianismo. Fecha parênteses.
No PT, a geleia geral é idêntica, há desde conservadores - como Aloísio Mercadante, Antônio Palocci, Paulo Bernardo, Sinésio Campos e Jorge Viana – a militantes ligados a movimentos sociais, como o MST, sindicatos e movimentos feministas e de gênero. Nos dois extremos exibe-se a estrela vermelha como símbolo de unidade. Petistas que defendem a aliança com setores conservadores como os ruralistas, os malufistas, sarneyzistas, a mídia conservadora, usineiros, coronéis e banqueiros, muitas vezes, irmanam-se àqueles que se posicionam contrariamente a estas alianças. Não há, na lógica petista, apesar das rusgas, qualquer problema nesta integração entre opostos, a concórdia, a “comunhão cristã”, ao final, prevalece entre os companheiros.
Muitos católicos e petistas, com honrosas exceções, só poderiam mesmo defender que o momento da Copa do Mundo seja só de comemorações e jamais de protestos. Aquele momento em que, de camisa amarela, irmanam-se indígenas e sem-terra, por um lado, a seus assassinos ruralistas, por outro; canavieiros abraçam seus algozes usineiros, patrões exploradores dão presentes e sorrisos a trabalhadores explorados, homossexuais e homofóbicos se confraternizam, em típica comunhão cristã (à la TFP, claro).
E, refutando qualquer crítica, esperam que ardam no inferno todos aqueles que se recusam a frequentar esse “paraíso”. Afinal, num país em que não há pobres, o racismo acabou, a saúde e a educação pública são maravilhosas (tudo isso graças aos governos petistas), toda manifestação popular (ainda que reúna centenas de milhares de pessoas) é obra de coxinhas, partidos radicais de esquerda ou é fruto de manipulação midiática, não há mais homofobia, preconceito social, há democracia na divisão de terras, indígenas e brancos vivem felizes, enfim... Oras, porque é que as pessoas precisam protestar? É claro, só pode ser obra de radicais! Inocentes úteis!
Ah! E o pior: não entendem esses ingênuos que tudo isso só pode contribuir para o retrocesso, para a volta dos tucanos! Porque, claro, esses petistas, assim como os tucanos, com seus umbigos edemaciados, acreditam ser as únicas possiblidades de futuro para o brasileiro (batendo três vezes na madeira). Que Deus nos proteja!
* Welton Oda é professor do ICB/Ufam. (Texto publicado originalmente no Blog de Mestre Yoda, no dia 02.06.14) |