Data: 03/10/2017
O Brasil vive uma conjuntura de profundos ataques aos direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora, consolidados na Constituição de 1988. A burguesia e os mais diversos setores aliados do capital nunca “engoliram” as conquistas dos direitos trabalhistas e pretendem estabelecer um “acerto de contas” com a classe trabalhadora. A crise do capital e a consequente impossibilidade de manutenção de extração de mais-valia, mais intensa nos países periféricos, têm levado os setores rentistas a pressionarem de forma mais contundente o Estado, agora com o ilegítimo governo Temer, mas também durante o governo petista que o antecedeu, a atacar direitos por meio de contrarreformas – previdência e trabalhista - impondo uma agenda regressiva aos trabalhadores e trabalhadoras, por meio dos mais espúrios artifícios. Executivo, Legislativo, Judiciário e a imprensa “oficial” caminham lado a lado, mesmo com percalços ali e aqui, na aceleração da retirada de direitos. O recrudescimento do conservadorismo, no Brasil e no mundo, e o avanço de governos liberais no centro e na periferia do capital completam um quadro desfavorável na correlação de forças entre capital e trabalho.
Entretanto, a classe trabalhadora tem sido protagonista de lutas de resistência que há muito tempo não presenciávamos em nosso país. É certo que as lutas são para manter direitos, porém é notável um processo de reorganização da classe que nasce no seio da base, depois de um longo período de apassivamento de um setor da classe. A indignação e as lutas de trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, estudantes, mulheres, comunidade LGBT e de populações originárias têm se manifestado das mais diversas formas. As mobilizações nos Estados, organizadas por comitês e fóruns, com a presença de sindicatos, movimentos sociais, organizações estudantis e partidos políticos contra as reformas, resultaram, no primeiro semestre, em uma das maiores greves gerais já vistas na história do Brasil. Grandes mobilizações que nasceram das bases e pressionaram as burocracias sindicais a construírem de forma unitária o Ocupe Brasília!, uma mobilização que levou mais de 150 mil lutadores e lutadoras ao Distrito Federal, reprimida com extrema violência, mas que não conseguiu impedir o ímpeto daqueles e daquelas que estão dispostos a lutar contra todos esses ataques. A greve geral e a grande marcha do Ocupe Brasília! foram demonstrações agudas da unidade de vários setores da classe, que até bem pouco tempo não sentavam para conversar.
Contudo, os acordos das burocracias sindicais com o governo, movidos por interesses de manutenção de seus privilégios, articulados a interesses partidários, voltados para projeções eleitorais, minaram a mobilização da greve geral no dia 30 de junho. Na esteira desse insucesso, o governo conseguiu aprovar a reforma trabalhista e continuar se mantendo por meio de articulações no Legislativo e Judiciário, mesmo envolvido em um mar de lamas de corrupção.
Nessa conjuntura acirrada, eivada de contradições, a disputa da consciência da classe a ser feita pelos setores populares combativos e classistas, no qual se inclui a CSP-Conlutas e o ANDES-SN, exige a construção da unidade programática em defesa de direitos nos mais diversos espaços, sendo as ruas o palco privilegiado das lutas e mobilizações. Barrar as contrarreformas, derrubar o ilegítimo governo Temer e defender eleições gerais com novas regras são, nesse momento, as bandeiras unificadoras no atual horizonte das camadas populares. Só a luta pode mudar essa realidade, pois nada temos a perder, a não ser as amarras que nos prendem e sujeitam!
* Alexandre Galvão Carvalho é doutor em História Social, professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e secretário geral do ANDES-SN.
|