Data: 22/02/2017
Está na moda a expressão: vivemos uma conjuntura política da “pós-verdade”. No ano passado, um jornalista americano escreveu um livro em que mostra que a construção de ficções mentirosas destinadas a produzir efeitos políticos, tinha virado um ramo de negócios, um empreendimento.
Trata-se de Lies, Incorporated: The World of Post-Truth Politics, de Ari Rabin-Havt. O autor – que já escrevera uma instigante análise do fenômeno Fox News, afirma que a democracia americana (entre outras) fora capturada por esses profissionais do engodo.
Essa prática deliberada da mentira, diz ele, destrói a confiança pública no sistema político e desvia a atenção desse público de temas como a regulação legal. Para completar, a enxurrada de mentiras manufaturadas cria uma balcanização da cultura política, tornando impossível qualquer consenso ideológico.
Certa vez um ideólogo neocon, David Horowitz disse, acintoso: O importante é você ter um slogan, repeti-lo, colocá-lo na TV – ‘na política, televisão é realidade”. Isso explica, em certa medida, o tamanho e relevância adquiridos pelos movimentos neoconservadores. A presença na mídia lhes deu uma amplitude muito maior do que realmente possuíam.
Fala-se, assim, em um tsunami reacionário com Trump – quando, na verdade, a eleição de Trump foi, nesse sentido, até mesmo um fiasco. Ele não teve mais votos do que seus antecessores – McCain e Mitt Romney.
O sucesso se deu em outra dimensão: a capacidade de jogar com as regras do sistema e ganhar mesmo perdendo. E, principalmente, alardear a veracidade do “tsunami” que não houve. A direita é menor do que parece, menor do que diz ser. E alardeia essa “onda” porque faz parte do jogo: ela é mestra em fazer profecias que cumprem a si mesmas.
Artigo publicado originalmente no dia 22 de fevereiro de 2017, na página do Núcleo Piratininga de Comunicação. |