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  01/06/2017 - por José Alcimar de Oliveira



Data: 01/06/2017

Nesse Brasil, país que já nasceu nominal e venalmente comoditizado pela exploração primitiva da madeira que lhe deu nome, apenas nome, mas riqueza imediata ao colonizador ávido de lucro, obtido e combinado à miséria da extração que se fez à custa do trabalho escravo indígena, parece materializar-se o que Santo Agostinho denominava de Estado de "magna latrocinia".

O pau-brasil, nossa Caesalpinia echinata, fez a fortuna de poucos e o infortúnio dos povos livres que habitavam essas terras: índios submetidos à escravidão mercantil e a terra convertida em Capitanias Hereditárias já na primeira metade do século XVI.
 
O pau-brasil faz a ponte perversa entre as formas históricas do sistema do capital, cuja obra maior e atual é o sólido e bem enraizado Estado Oligárquico de Privilégios. Índios e negros integrados à ordem escravocrata da Colônia, do Reino, do Império e renitente na República.
 
Nosso auriverde pendão naturaliza a miséria e vela o sangue dos povos e da biodiversidade da pátria assenhorada pelo capital. Poucos países, penso, teriam razões de sobra para incluir na bandeira o vermelho da luta. De nossas 27 unidades federativas, doze – incluindo nosso Amazonas - imprimem em suas bandeiras o vermelho da vida, da luta, do sangue e da resistência.

O vermelho demarca a resistência ancestral de duas matrizes - a indígena e a africana - de nossa formação societária. O ser social da terra em que vivemos não nasceu branco. O vermelho é a cor de todos aqueles que resistem e lutam, acima de quaisquer determinações, contra o senhorio do capital.

O que verdadeiramente nos divide não são os partidos. É o poder ditatorial do grande capital que aprofunda a apartação entre o Brasil real do povo que vive do trabalho e o Brasil oficial e servil aos interesses predatórios do financismo globalizado.

Esse divisor nos permite ver que Brasil é representado e defendido pelos poderes da República. O desastre maior dessa crise agora agudizada, mas uma crise de longa história, será responder a ela - como é prática de nossa nanopolítica - com saídas emergenciais e de cúpula. Se assim o for, tudo concorrerá para em pouco tempo acelerar-se o processo de decomposição institucional e de terra devastada.

José Alcimar de Oliveira é ex-presidente da ADUA, professor do Departamento de Filosofia da Ufam e filho dos rios Solimões e Jaguaribe.



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