Data: 10/05/2018
A solidariedade tem respondido, ao longo da história, por muitos dos avanços experimentados pela sociedade humana. Sem ela, prevaleceriam as leis da selva. Só aos mais fortes (ou aptos, segundo os ingênuos) estaria assegurada a sobrevivência. Quando é preciso manter o equilíbrio ambiental, nada mais razoável do que admitir que sem a cadeia alimentar tal propósito se tornaria inalcançável. É nisso que se resume e a isso se vinculam os conceitos de predador e vítima.
Transpor para a realidade social o que tem validade para o mundo natural, menos que um equívoco, é armadilha de que podem – e devem – escapar os chamados seres inteligentes. Em outras palavras: o ser humano.
A sabedoria popular costuma batizar com palavras fenômenos que, por lhe estarem afetos, constituem o cotidiano da sociedade. Nem é preciso lembrar a fábula dos porcos-espinho, que para se defender encontram o modo adequado de arrumar-se, quando o frio intenso ameaça sua sobrevivência. Não há espinho que supere a solidariedade de todos, eis que de todos é o interesse pela sobrevivência.
A união faz a força, diz a tradição. A força, não no sentido físico ou belicoso que lhe empresta a má intenção de uns quantos, mas o vigor que leva aos mais louváveis cometimentos, sempre em busca de reduzir as desigualdades e promover o bem-estar da maioria.
Embora frequentes, nem sempre se podem apontar resultados positivos, quando o grau de solidariedade alcançado é baixo. Bom exemplo disso são algumas das condições a que chegaram os professores das universidades públicas brasileiras, ao longo das últimas décadas.
Como toda instituição fundada no alto grau de liberdade e no estímulo à criatividade, as instituições de ensino também são as primeiras a sofrer os reveses impostos pelos que odeiam tais valores. Daí a necessidade de opor-se, repetidas vezes, à tentativa de restringir o exercício próprio das funções universitárias. A criação e a liberdade, assim, se veem ameaçadas. Sempre será preciso reagir.
As muitas vezes em que os docentes da Universidade do Amazonas se viram ameaçados, motivaram a criação de uma entidade que evidenciasse a solidariedade entre seus associados, em defesa, sobretudo, da educação pública e gratuita. Talvez não precise dizer, mas será dito: mesmo os que se têm negado a participar das ações da ADUA acabam por beneficiar-se do resultado de suas lutas. Se ainda não alcançou o nível desejado, pelo menos pode dizer-se que a resistência impede prejuízos ainda maiores – para o ensino superior público e para os que dele ganham seu sustento. E, na sociedade, recebem benefícios.
Agora, que se recolhem os votos para eleger os novos dirigentes da associação local e da entidade nacional (ANDES), uma prova de solidariedade pode ser cobrada. Mais que isso, o compromisso claro dos votantes, dentre as alternativas.
Engrossar o movimento coordenado pela atual direção da ADUA e mostrar preferência pela autonomia e a luta significa, mais que tudo, repudiar as tentativas de substituir a solidariedade dos docentes pela competição entre eles, o que expressa opção pelas diretrizes do mundo animal.
Pelo menos, porque amanhã não será negado a qualquer um o benefício decorrente da luta permanente a que os dirigentes se dedicam, espera-se que seja substantiva a presença dos professores da Universidade nas seções eleitorais.
Afinal, o ser humano parece mais inteligente que o porco-espinho.
* José Seráfico é professor aposentado da Ufam e articulista de A Crítica (Publicado originalmente em A Crítica, na edição de 10 de maio de 2018) |