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  22/03/2016 - por Rubens da Silva Castro



Data: 22/03/2016

Istvan Mésáros é um teórico que escreveu o livro “Para Além do Capital”, inequivocamente seguidor do referencial teórico de Karl Marx. Faz uma crítica de extrema fundamentação às bases principais do modo social e histórico de produção capitalista, diferenciando capital e capitalismo. O capital é anterior e posterior ao capitalismo.

O capitalismo é uma das estratégias de realização do capital. Nos últimos três séculos, tornou-se o modo dominante de realização do capital. Da mesma maneira que existia capital antes do capitalismo, existe capital depois do capitalismo. É o que Mészáros intitulou de capital pós-capitalista vigente na Rússia e nos demais países do Leste Europeu durante o século XX.

Primeira Tese: Estes países referidos como pós-capitalistas não conseguiram romper com o domínio do capital porque, para Mészáros, o funcionamento social do capitalismo é fundado em três premissas básicas: trabalho assalariado, Estado (recursos naturais) e capital. Portanto, o capital não desaparece enquanto não forem suprimidas as três premissas que o materializa.

Esta tese é inovadora, também, porque se tornou diferente de todas as outras formuladas sobre a desestruturação das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Não é suficiente acabar com uma das premissas, por exemplo, com o Estado. O fim do capitalismo exige a supressão do trabalho assalariado, do Estado e do capital.

Segunda tese: Para Mészáros, o capitalismo é altamente destrutivo porque o capital não tem limites para se expandir. Portanto, é incontrolável. É essencialmente destrutivo devido à produção e ao consumo supérfluo, a destruição ambiental em âmbito global, o desemprego e a precarização do trabalho de modo estrutural e também devido à política do Norte de guerra permanente.

A estratégia dominante do sistema do capital é, então, no limite, incontrolável. Mas é, também, expansionista e destrutiva. Por isso o capital produz no capitalismo uma crise endêmica, cumulativa, crônica e permanente. Como necessidade atual para responder ao processo de destruição global Mészáros sugere como alternativa o socialismo.

Terceira tese: Qualquer tentativa de modificação do sistema social, orientado pelo capital, por intermédio da via institucional e parlamentar é fracassada. A transformação exige um movimento fora do parlamento, um movimento de massa, radical, capaz de acaba com o funcionamento do sistema social do capital e sua lógica destrutiva.

O capital está no controle de todo o funcionamento social. Trata-se de um sistema orgânico e não apenas do funcionamento das instituições políticas, entre elas o parlamento. E num sistema orgânico, o capital pode permanecer no controle da reprodução do funcionamento social, depois passa também a controlar a dimensão política do sistema.

Essas são as três principais teses de Itsvan Mészáros em “Para Além do Capital” – rumo a uma teoria da transição, porém, muitas outras teses poderiam ser indicadas. Este espaço, entretanto, vamos reservar para crítica ao neoliberalismo que continua sendo uma tarefa política importante, devido ao poder político e econômico dos que apoiam a oposição às conquistas sociais.

Um exemplo de como o capital está no controle de todo o funcionamento do tecido social foi a maneira rápida de reestruturação do capitalismo no Leste Europeu e na União Soviética depois de setenta anos da Revolução Russa. É uma importante lição para o futuro. O Estado passou toda a propriedade para as velhas oligarquias, a exemplo de Boris Milozevick.

O desmonte das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o desmoronamento dos países do Leste Europeu é o marco histórico e conceitual fundamental do neoliberalismo. Para Mészáros (2002) a crítica contra o neoliberalismo deve ser constante devido o poder político e econômico institucionalizado por essa ideologia pela maioria dos governos de todo o mundo.

Explica que a ideologia neoliberal defende o afastamento do Estado das atividades econômicas. Pelo contrário, o apoio do Estado ao capital nunca foi tão grande e tem total apoio dos que fazem apologia ao neoliberalismo que nem se envergonham de tanta contradição. As guerras organizadas em busca do poder são cinicamente justificadas em nome da democracia e da liberdade.

Os Estados Unidos foi o berço da crise econômica que ocorreu recentemente. Porém, a referida crise é apenas o início de tantas outras. O capitalismo vive em crise estrutural. No passado a crise era conjuntural, periódica. Somente uma transformação social radical poderia trazer uma saída para a perigosa crise.

Entende que alguns intelectuais, fazem a sua parte no processo de esclarecimento da ideologia neoliberal. Solicita, porém, que os outros se juntem a eles. A renovação do pensamento crítico deve ser uma “grande e coletiva operação intelectual da qual, infelizmente, ainda estamos muito longe”. Só assim, podemos enfrentar a desproporcional força neoliberal alimentada pelo Estado.

István Mészáros – iniciou sua vida como operário na Hungria. Filósofo húngaro marxista passou a ser referência na luta contra a lógica destrutiva do capitalismo. Foi professor na Universidade de Budapeste. Sempre teve como base em sua ação na universidade as necessidades vitais da humanidade e a busca de sua transformação.

Por isso, logo se tronou reconhecido e excepcional anticapitalista. Domina economia política, filosofia e teoria social. Sua obra deve ser entendida como  um diálogo crítico com todos os escritos relevantes do século XX, dos clássicos aos contemporâneos. Sua obra é reconhecida em várias partes do mundo sempre despertando grande interesse.

A leitura desta obra é de extrema relevância para quem quer conhecer o sistema de organização política perverso, imoral, onde a burguesia cria e se alimenta da miséria humana. O capitalismo não atende as necessidades básicas da população, por isso deve ser banido.

A Educação para Além do Capital é um texto publicado a partir da Conferência proferida por István Mészaros por ocasião da abertura do Fórum Mundial de Educação realizado em junho de 2004 em Porto Alegre.

Imagem: Divulgação

*Rubens da Silva Castro é prrofessor do Departamento Administração e Planejamento da Faculdade de Educação da Ufam.



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