Data: 24/09/2015
A televisão é, sem dúvida, o meio de comunicação mais importante e mais abrangente da sociedade atual. É considerada, por Louis Althusser, filosofo francês, como um dos aparelhos ideológicos do Estado, uma vez que é esse um dos instrumentos de comunicação que não só transmite a ideologia da classe que detém o poder político e econômico, mas também resiste às mudanças e contribui para a manutenção do status quo. O estudo desse veículo integra o conteúdo da disciplina Sociologia e ocupa lugar de relevo, que pode ser explicado pela influência, por ele exercido, acerca das transformações sociais, no sentido de retardá-las, acelerá-las ou desviá-las. Entendemos que uma das funções da televisão, se não é, deveria ser noticiar informações fidedignas e esclarecedoras sobre questões de interesse público. Mas não é isso que acontece. Ela atua em favor dos interesses políticos e econômicos, objetivando manter e acentuar as diferenças, reduzindo a força e o hábito do pensamento crítico, e concentrando-se nas questões triviais e sensacionalistas, que conduz as pessoas a uma fuga da realidade social.
No entendimento de Liana Deise Silva, a televisão exerce de forma particular violência simbólica: através de notícias de variedades, de sensacionalismo, sexo, sangue, drama e o crime, que fazem subir o índice de audiência. Ainda para a mesma autora, a televisão trabalha com fatos que na visão do autor são os fatos que interessam a todo mundo. Não causa polêmica, não envolve disputa, mas também não traz nada de importante. Esses motivos não permitem: reflexão, crítica, até porque, quando é colocado algo que tem algum ponto construtivo é cortado por assuntos de variedades ou ainda mais banais.
Infelizmente, neste País, a mídia está nas mãos de poucas pessoas. A concessão desses instrumentos de comunicação é dada pelo governo e somente para aquelas pessoas “confiáveis” e que estejam dispostas a fazer o jogo do sistema. Nos países desenvolvidos, a televisão é controlada pelo Estado, havendo uma distribuição equilibrada de programas de alto nível cultural e outros de caráter mais popular, assumindo o Estado as funções de “empresário” desse meio de comunicação, tornando-o útil à cultura e à educação. Os amigos leitores hão de concordar com o autor deste artigo que os programas exibidos pelas emissoras de televisão, com raras exceções , é uma afronta contra a moral da sociedade. São programas que não têm nada de educativo. É, na realidade, um festival de asneiras. A programação dos canais fechados também não contribui para elevar o nível cultural das massas. Pesquisas revelam que as crianças brasileiras estão assistindo mais televisão do que em outras nações desenvolvidas. Não temos dúvidas em afirmar que existe um número expressivo de crianças que passam mais tempo na frente da TV do que cumprindo suas obrigações escolares. Tal instrumento de comunicação age como multiplicador da passividade, atrofia a criatividade não só das crianças, mas também dos jovens e adolescentes e até mesmo das pessoas adultas.
Num livro publicado por Arnaldo Bertrami, intitulado Pense com a sua Cabeça, o referido autor afirma que devido à invasão nos lares brasileiros por todos os veículos de comunicação, as famílias já não mais pensam com a própria cabeça, mas com a cabeça dos outros. É interessante lermos o que diz tal pensador com relação à postura da família frente à televisão. “A família tem o direito de pensar, escolher, decidir e agir livremente. Isso quer dizer que a família tem o direito de pensar com a própria cabeça. Daí a importância da família estar sempre atenta e vigilante para não perder a capacidade de pensar diante da televisão e do rádio. Continuando, diz o mesmo autor, estas famílias precisam de mais informação, de uma visão de mundo fundada na totalidade, com capacidade para pensar sobre as informações veiculadas pelo rádio e televisão. A família não só será roubada pela televisão e pelo rádio se tiver a segurança de seu senso crítico. Só com a consciência crítica, ela não vai perder a capacidade de pensar pelo uso do rádio e da televisão”.
Em síntese, podemos dizer que a televisão reflete o que interessa aos detentores dos meios de produção, estejam eles no Estado ou na iniciativa privada. O epíteto de “ópio do povo”, que Marx reservou à religião, poderá ser estendido aos demais aparelhos ideológicos do Estado (família, igreja, escola, etc.). A Televisão brasileira é, na realidade, uma porcaria. Ela veicula visões estereotipadas da realidade, reforça a ideologia das classes dominantes e o telespectador tornou-se um receptor passivo. A programação desse veículo de comunicação não leva em conta a formação crítica do cidadão, ao contrário, quanto mais alienado mais fácil de manipular impotente diante daquela imposição ideológica. Assim como a televisão aliena, os cursos de determinadas universidades não formam o cidadão, mas sim o deficiente cívico. É como diz Frei Beto, em Passeio Socrático: “A televisão é, aos domingos, o dia nacional da imbecilidade coletiva, imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante dela”.
Rubens da Silva Castro é professor do Departamento de Administração e Planejamento da Faculdade de Educação da Ufam. |