O termo desenvolvimento econômico e social só faz sentido a partir da universalização de algumas conquistas sociais, tais como baixar a taxa de mortalidade infantil, universalizar o ensino de qualidade, promover distribuição de rendacompatível, tornar o mercado de trabalho dinâmico e agregador e, acima de tudo, promover ações que preservem o meio ambiente da "agressão” imposta pela atividade econômico-industrial.
Para o alcance dessas e de outras conquistas sociais, econômicas e ecológicas, urge promover um ensino de qualidade, com desenvolvimento de pesquisas em áreas cruciais do conhecimento, priorizando a ciência e a tecnologia, gerando bons empregos que exerçam, como contrapartida, justa distribuição de renda, incluindo os excluídos, buscando atingir padrões de sustentabilidade, priorizando as pessoas, e não as mercadorias, enaltecendo o capital humano e natural, não o físico.
Sem a generalização dessas premissas, nada avança, exceto os índices de miséria e pobreza crônicas e de degradação ambiental, patrocinada pelos reclames de um mercado de consumo que pede mais e mais produção. É o social e o ecológico que devem estar acima do econômico. É a economia que deve servir as pessoas, e não o contrário.
Em outras palavras, o que aqui se pretende reverberar é que não adianta, por exemplo, ocuparmos a sexta posição no ranking mundial de produção de veículos se não melhorarmos as vias e as rodovias para essa circulação (temos mais de 1,7 milhão de km de malha rodoviária, mas apenas 170 mil km estão pavimentados).
De nada adianta sermos o quarto país que mais vende automóveis no mundo (3,5 milhões, somente em 2010); o maior produtor de aço da América Latina; de sermos detentor da 3° maior frota aérea do mundo (mais de 11 mil aeronaves e 32 mil pilotos em atividade) se 1/3 (absurdamente mais de 30%) de nossas residências ainda não têm acesso a encanamento (esgoto) e a água potável.
Não adianta prosperar economicamente de um lado, se, do outro, de cada mil crianças nascidas, 14 morrem antes de completar 1 ano de vida. Não adianta vendermos aviões de qualidade invejável ao mercado externo se ainda nem mesmo sabemos como tratar os 43 milhões de toneladas de lixo que são produzidos nesse país todos os anos.
Em que pese os avanços do lado social – e foram muitos - principalmente os que respondem pela expectativa de vida – hoje é de 75 anosanteos 31 anos registrados em 1900 – acrescido do aumento na rendaper capitae na possibilidade de se construir um mercado de consumo de massa amplo, mas, o fato concreto é que se faz necessário promover taxas de desenvolvimento econômico, aliadas ao crescimento físico da economia, que se convertam em melhoria substancial aos mais necessitados.
Que saibamos, contudo, que crescer só por crescer não faz sentido; até mesmo as células cancerígenas assim agem. O que precisamos é fazer sim a economia crescer, mas, crescer com qualidade, resgatando nesse ato os mais necessitados e dando-lhes oportunidades de melhoria contínua.
Esse é o verdadeirotipode crescimento/desenvolvimento que importa. A economia, enquanto ciência e atividade produtiva tem esse dever; aliás, nasceu, enquanto corpo sistemático de conhecimento, justamente para isso: para melhor a vida dos mais necessitados.
Por isso precisamos sempre de uma economia social e humana, e não mercadológica e financista, tecnicista e rebarbativa. Precisamos de uma economia que esteja longe das vontades ditadas pelos mercados financeiros globais e próximas das condições que levam ao bem-estar social e humano.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia na FAC-FITO e no UNIFIEO, em São Paulo (publicado originalmente no Adital, no dia de 30 de julho de 2014). |