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Entrevista: Márcia Perales fala sobre metas da gestão




Eleita por uma diferença de menos de 1% na proporcionalidade dos votos para o segundo turno, a professora Márcia Perales Mendes da Silva, do curso de Serviço Social, considera a sua eleição história. Na atual conjuntura da educação no Brasil e em uma universidade que continua comemorando seu centenário, Perales afirma que a percepção feminina é exigida a ela na gestão. Em entrevista à Adua, ela explica a relação de sua candidatura em relação à atual gestão, as metas que serão consolidadas, o Reuni, o Unisol e o que ela entende por gestão democrática.

Jornal da Adua (JA): É a primeira vez que a uma mulher irá assumir a reitoria da Ufam. A senhora considera essa eleição histórica? Qual diferença uma mulher pode trazer à administração da universidade na atual conjuntura da educação no país?
Márcia Perales (MP): Como nós completamos 100 anos em janeiro e até então só tivemos reitores, nenhuma reitora, sem dúvida é uma eleição histórica. A historicidade que passa pela questão de gênero tem uma importância muito grande, mas nós sabemos que ela não é determinante. Determinantes são as qualidades que envolvem propostas e perfil dos gestores. Eu penso que assumir esse desafio, sendo mulher, me exige uma percepção diferenciada, uma sensibilidade mais aguçada, que acho que os homens não têm.

JA: A senhora afirmou que a reitoria em seu comando vai funcionar com uma gestão democrática, participativa. O que podemos esperar de uma gestão democrática da reitora Márcia Perales?
MP: O diálogo é condição sine qua non para fazer qualquer administração que se pretenda democrática. Temos uma estrutura na universidade toda colegiada e isso foi pensado para que tenhamos decisões não de um gestor, mas de um coletivo. É uma forma interessante de se administrar, porque ela preserva voz de diferentes setores, de diferentes segmentos. Essas são condições para termos uma gestão democrática.

JA: Isso quer dizer que podemos esperar eleições em todas as unidades, inclusive no interior?
MP: Sim. Hoje não temos eleições no interior porque a implantação das cinco unidades acadêmicas foi feita em uma situação que precisa ser contextualizada. Quando os diretores foram para essas unidades, não havia docentes contratados, nem alunos. Então é um processo de maturação que está próximo de terminar e as unidades acadêmicas já devem se preparar para trabalhar todo o processo que envolve eleição direta, não apenas dos diretores, mas dos coordenadores acadêmicos e administrativos, já que no interior temos outra estrutura. O que não poderíamos fazer é deixar as pessoas que estão entrando agora na universidade, e não conhecem os trâmites da instituição, assumirem essa imensa responsabilidade.

JA: O que esperar do Consuni na sua gestão. Atualmente as reuniões têm se descaracterizado por conta da falta de análises e discussões aprofundadas. A senhora pretende dar continuidade ao atual modelo de Comitê Gestor?
MP: Eu penso que o Consuni é constituído de todos os membros. Cada membro tem voz e voto para se colocar. E penso que esse é um momento extremamente rico da instituição, onde as discussões se fazem necessárias, e o encaminhamento que será dado é de um espaço livre, democrático, onde as pessoas podem se colocar, debater e se posicionar. Essa é a ideia dos espaços coletivos. Não temos nenhum tipo de mordaça, ou de coação, como penso que não existe hoje.

JA: Sendo a sua candidatura apoiada pela atual gestão da universidade, quais projetos dessa gestão serão consolidados, e quais a senhora já rejeita de início?

MP: Quando você fala em candidatura apoiada, é importante esclarecer que essa candidatura não foi indicação do atual reitor, mas surgiu a partir de uma organização de professores, alunos e técnicos. Só depois que o eu e o professor Hedinaldo dissemos sim, a reitoria se manifestou. Se fosse o contrário, eu não aceitaria. Algumas coisas, como a interiorização, o centro de convivência, são projetos que a comunidade sonha há muito tempo, e devem ser consolidados. É preciso rever algumas resoluções, como o processo do jubilamento. Mas o que é importante, por exemplo, é uma boa política de recursos humanos. A Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários é atuante mas trabalha com ações pontuais. A gente quer que essas ações se desdobrem na prática a partir de uma política com diretrizes e metas a serem alcançadas, atingindo professores, técnicos e aposentados. É preciso também um trabalho para os estudantes. A gente tem uma política estudantil de âmbito nacional. Não sei se você sabe, mas normalmente se ouve que as instituições públicas abrigam as elites, mas o levantamento feito pela Procomum mostra que 70% do corpo discente da Ufam precisa de apoio. Nós temos que dar esse apoio, para que ele entre e viva a universidade. O que é esse apoio? São condições de visitar a biblioteca e ter um bom acervo, de estar em um restaurante universitário decente, com o subsídio mantido, bolsas ampliadas, monitoria, Pibic, Pibex, PET...

JA: Durante a campanha a senhora prometeu uma gestão transparente. Como implementar essa medida? A ouvidoria, contida em seu plano de gestão, seria uma solução. Mas existe outra meta concreta para efetivar essa gestão transparente?
MP: A ouvidoria não existe hoje. Ela precisa ser implantada e funcionar. Além da ouvidoria, é necessário que tenhamos na página o item transparência para que todas as pessoas possam acompanhar. Isso já existe na página, mas você precisa interpretar uma série de tabelas. A ideia é que tenhamos isso de uma forma mais acessível para o público em geral.

JA: Esse instrumento vai ser útil para a sociedade acompanhar de perto os trâmites de projetos e verbas públicas na Unisol, por exemplo?

MP: Com certeza, sim. Agora eu expliquei nos debates de que forma essa instituição é fiscalizada. Não são poucas as fiscalizações que existem, por inúmeros órgãos. Uma das coisas necessárias é que tenhamos um esclarecimento da forma como a Unisol trabalha. Muitas vezes essa informação não chega aqui. Agora, independente de você ter projeto ou não na Unisol, eu penso que por ser uma instituição de apoio da Ufam, ela precisa estar mais vinculada à própria Ufam, dizer a que veio, como trabalha, como ter acesso.

JA: Como o Reuni será conduzido na sua gestão? Como oferecer educação de qualidade com muitos alunos em sala de aula e superar a falta de professores, como temos acompanhado novamente neste início de ano letivo?
MP: O Reuni passou por um processo de discussão na universidade. O MEC, quando fez a proposta, colocou condicionalidades. Duas condicionalidades a Ufam aceitou, a terceira a Ufam rejeitou. Quais foram as duas primeiras? Que a gente tivesse uma relação professor/aluno de 18 pra 1, e a gente já estava com 19. A outra é que nós trabalhássemos arduamente para que tivéssemos 90% de alunos formados no período regular. A universidade precisa ousar nisso. Nenhuma universidade no Brasil, que tenhamos conhecimento, conseguiu um número de 100%. Com isso, nós começamos a pensar na política de assistência estudantil e na presença de professor no início do semestre. A gente tem concursos abertos. Se esse concurso demora a tramitar, a gente tem que ter um planejamento e contratar substitutos. O que não pode é a seleção do substituto começar em março junto com as aulas. Agora deixa eu te explicar sobre a terceira condicionalidade do Reuni: a proposta é que tivéssemos um “basicão” de dois anos e só depois o aluno escolheria o curso que iria fazer. Nós não aceitamos. Quando foram colocadas essas condicionalidades do Reuni, havia uma contrapartida do MEC, para construir, para contratar servidores, técnicos de laboratório, docentes. Da minha perspectiva, não existe projeto que não possa ser aperfeiçoado. O Reuni é um caso desses. Essa foi uma decisão coletiva, não foi de um gestor. Quando você trabalha de forma coletiva, você compromete todos, co-responsabiliza todos.

JA: Seria por causa desse trabalho coletivo que a senhora disse que é muito cedo para falar sobre a proposta do MEC para o novo vestibular?

MP: Primeiro porque eu não assumi ainda. Assumo em julho, então ainda há uma administração aí. Segundo, porque temos aqui o Processo Seletivo Contínuo que nem todas as universidades têm. A gente precisa preservar isso, porque essas vagas são selecionadas de forma bem clara para alunos oriundos do Estado do Amazonas. Seria importante que pensássemos na possibilidade de aderir parcialmente ao Enem como referência para entrada. Podemos até ter um percentual para o Enem, já que ele também vai ser revisto, mas não podemos abrir mão do PSC.

JA: Uma das matérias publicadas na imprensa fez uma abordagem sobre os partidos políticos que participaram da consulta na campanha das chapas. O que a senhora pensa sobre a participação dos partidos nesse processo de eleição na universidade?
MP: Penso que a universidade é uma pluralidade. É legítimo que os partidos participem, que seus membros façam adesão a um ou a outro. Você tem que ver, nessa pluralidade, o que converge em termos de princípios. Se você tem convergência de princípios, você tem condições de fazer parcerias e alianças.

JA: Seria inadequado dizer, então, que os partidos tiveram alguma determinação na elaboração do plano gestor ou na escolha de pro-reitores?

MP: A gente teve uma infinidade de partidos, mas eles não aderiram de forma oficial, e sim como pessoas vinculadas. Essas pessoas participaram, opinaram e deram sugestões como todas as outras que não são filiadas. Foi uma discussão voltada para a construção de um plano coletivo, como eu falei pra você, pautado em princípios dos quais não abriremos mão.

JA: Para encerrar, o que a senhora pensa sobre reeleição?
MP: Eu penso que a reeleição é um processo legítimo, mas é extremamente prematuro discutir qualquer possibilidade em relação a isso. Lembre que só assumo em julho. Há uma trajetória de quatro anos de muito trabalho, portanto esse é um tema que nem passa pela minha cabeça. Temos muito que trabalhar, construir e consolidar.



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