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“Vivemos um cenário perverso de resolução das questões sociais”, avalia professor da Uneb



Data: 09/11/2018

"A crise econômica favoreceu uma condensação de crises que têm colocado nas ruas e nas instituições um cenário perverso de resolução das questões sociais a partir dos interesses da burguesia, em detrimento dos direitos dos trabalhadores”. A avaliação é do professor de Teoria Social e História Política da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Milton Pinheiro.

Graduado em Ciências Sociais pela UFBA, Pinheiro é mestre em Educação e Pesquisa pela Université du Québec à Chicoutimi, Canadá, e doutor em Ciências Sociais (Política) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente integra o conselho editorial das revistas Novos Temas, Crítica Marxista, Lutas Sociais, Mouro, Margem Esquerda e o conselho editorial do Instituto Caio Prado Jr.. É autor/organizador de oito livros, entre eles, Ditadura: o que resta da transição, publicado pela editora Boitempo. Também colabora com o Blog da Boitempo.

Nesta entrevista, ele avalia a ascensão de forças fascista no mundo e as características deste novo fascismo. Além disso, ele pontua que há uma relação entre a crise econômica de 2008 e o atual cenário político, que “germinou os horrores que estamos vendo nesse momento”.

Para ele, neste do cenário adverso aos trabalhadores, as lutas sociais tendem a se acirrar. “Os trabalhadores e os operadores da nossa política, partidos revolucionários e movimentos populares com corte de classe, estarão na resistência”.

1. Como você avalia a ascensão de forcas fascistas pelo mundo?

O quadro de crise econômica e social, colocado em cena pela incapacidade do capital em revalorizar suas taxas de extração de mais-valia, criou uma ausência de perspectiva para as classes populares e a baixa classe média na periferia do sistema, mas, também, com forte presença nos países mais desenvolvidos. Esse cenário de crise da ordem do capital apresentou uma necessidade urgente da representação da burguesia se apoderar do fundo público e atacar direitos sociais e trabalhistas. O conjunto da classe trabalhadora, em um momento de crise ideológica, não tem desvelado a cena política e tem considerado eleitoralmente viável as saídas apresentadas pela extrema direita. Temos o retorno da xenofobia, do racismo, dos ataques aos que têm orientação sexual diversa, um preconceito de classe enorme contra os pobres. É o cenário do ovo da serpente que foi construído pelo fascismo cotidiano.

2. Podemos afirmar que teríamos um neofascismo?

Acredito que encontramos novos elementos na caracterização dessa cena política e nos contornos da luta de classes, a presença de um novo tipo de fascismo. Quem avaliar esse fenômeno social com os olhos dogmáticos do que era o fascismo no começo do século XX não saberá examinar essas novas questões. Vivemos numa sociedade controlada pelo medo, e as relações monopolistas/ imperialistas do capitalismo mundial, em seu amplo processo de financeirização, encontrou seu braço político em setores da pequena burguesia que invadiu as ruas, o conteúdo social-conservador demonstrado pela crise ideológica tomou conta das instituições e das multidões, cresce a presença de hordas chauvinistas e o comportamento antissocialista é marca registrada da nossa época histórica. Portanto, vivemos um quadro de um novo fascismo.

3. Existe alguma relação dessa ascensão com a crise mundial de 2008?

Sim, como afirmei anteriormente, a crise econômica favoreceu uma condensação de crises que têm colocado nas ruas e nas instituições um cenário perverso de resolução das questões sociais a partir dos interesses da burguesia, em detrimento dos direitos dos trabalhadores. Esse ambiente político germinou os horrores que estamos vendo nesse momento: ataques aos imigrantes, guerras imperialistas, políticas de estado de caráter racistas e a falta de perspectiva que alimenta a distopia.

4. Quais ataques podemos já perceber no Brasil dessa ascensão do neofascismo? E quais novos ataques podem surgir?

O Brasil entrou definitivamente para o cenário político do fascismo. O comportamento da mídia, o papel do Poder Judiciário, as ações do MP, o balcão de negócios do lumpesinato no parlamento, as práticas públicas do poder executivo, os valores disseminados na vida social, sugerem que vivemos um cenário estimulado pela condensação de crises, a exemplo do que avaliava o cientista político Nicos Poulantzas. Todavia, tem algo muito importante nesse processo da luta de classes, os trabalhadores e os operadores da nossa política (partidos revolucionários e movimentos populares com corte de classe, etc.) estarão na resistência e essa luta, no Brasil, tende a se acirrar.

Fonte: ANDES-SN



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