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Para diretor do ANDES-SN, universidades têm relação diferenciada com campi do interior



Data: 06/07/2016

Nesta entrevista, o professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e diretor do ANDES-SN, Epitácio Macário discorre sobre o abandono sofrido pelos campi instalados fora das sedes das universidades multicampi e evidenciado pelas precárias condições estruturais dos prédios e das condições de trabalho dos servidores. Terceiro tesoureiro da chapa “Unidade Na Luta” eleita com 90,66% dos votos para dirigir o ANDES-SN no biênio 2016-2018, o docente expõe ainda o posicionamento da entidade em relação à expansão universitária: a defesa da democratização do acesso com qualidade do povo trabalhador e dos jovens à universidade, e não de forma irresponsável como ocorreu.

Quais as dificuldades enfrentadas pela Universidade do Estado do Ceará para fixar professores com a multicampia e como ocorre a expansão na instituição hoje?
A UECE tem uma experiência de multicampia já antiga. A universidade nasceu praticamente multicampi e tem seis campi no interior do Estado e dois na capital. A experiência lá é de que a multicampia se deu através da reunião de cursos que formassem uma faculdade nos campi de fora da sede. Essa experiência de multicampia faz com que os campi do interior do Estado, ao reunir pelo menos três cursos, acabem criando um clima mais apropriado de universidade. Outro progresso que tivemos lá foi a ampliação da Pesquisa, Ensino e Extensão para essas unidades do interior. As universidades estaduais, de alguma forma, no Brasil, já nascem com essa vocação de atender ou de se espalhar pelas localidades aonde as universidades federais normalmente não iam. As universidades federais tinham uma cultura de concentrar nas capitais. Essa expansão se deu de forma não planejada e precarizada, e que agora, tal como nas estaduais, nós temos uma situação delicada, em que a construção de alguns campi foi paralisada por conta do ajuste fiscal e da falta de planejamento.

Os professores da Ufam lotados fora da capital enfrentam dificuldades maiores em relação aos que estão na sede. Essa é uma realidade também no Estado do Ceará?
Essa é uma realidade nossa, sim. Os professores enfrentam dificuldades em termos da própria localização onde trabalham e moram, pois como algumas unidades são muito distantes da capital, eles têm que morar lá. Essas cidades, normalmente, não oferecem equipamento cultural que permita o desenvolvimento do professor tal como tem na capital. O segundo grande problema no caso dos que não moram no interior é que esses professores enfrentam longos deslocamentos que levam horas, seja de carro ou de ônibus, e isso precariza o trabalho. O terceiro diz respeito à possibilidade desses professores adquirirem com maior probabilidade adoecimentos por conta desse maior esforço de deslocamento. Há um elemento em todos os campi do interior que os fazem diferentes dos da capital que é a precarização das instalações. Normalmente eles não têm biblioteca ou quando têm é insuficiente. Outro aspecto é o da própria estrutura do campus. No interior é comum encontrar uma estrutura mais de escola do Ensino Fundamental e Médio, onde funcionam os cursos da universidade, ou então uma estrutura muito pequena ou ruim, porque falta verba para melhorias.

O senhor diria que há negligência por parte da instituição com as unidades que estão lotadas fora da capital? E por que falta esse olhar diferenciado para quem está distante da sede?
Existe praticamente um abandono. É comum que as administrações superiores das universidades tenham uma relação diferenciada com os campi do interior. O ideal seria que, por conta da fragilidade e das condições precárias desses campi, a administração superior desenvolvesse uma gestão que envidasse esforços para corrigir essas situações.
Qual é o posicionamento que o ANDES-SN tem em relação a multicampia no país?
O ANDES-SN nunca foi contrário à expansão do Ensino Superior. Pelo contrário, a posição histórica do ANDES-SN é a defesa do acesso da democratização com qualidade do povo trabalhador e dos jovens à universidade. A crítica que fazemos à multicampia, que também vem junto com a expansão nas federais, é que essa expansão foi feita de forma absolutamente irresponsável, sem planejamento, a toque de caixa, muitas vezes sobrepondo na mesma localidade institutos federais, universidades federais e universidades estaduais. Não houve um planejamento das duas esferas do poder – União e Estados – para que houvesse uma integração naquelas localidades. O que nós defendemos, conforme deliberação no 35º Congresso do ANDES-SN, realizado em janeiro deste ano, é que a expansão, a multicampia e a interiorização do Ensino Superior se deem como parte de um projeto de universidade que parte de um diagnóstico feito democraticamente em nível local para ver as necessidades e as vocações do lugar; que seja feito à base da indissociabilidade do Ensino, da Pesquisa e da Extensão; que se crie as condições culturais e de vida para que os docentes e estudantes possam desenvolver seus estudos nessas unidades novas.

Fonte:
ADUA



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