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  23/07/2024



Arte e resistência: Um novo espaço de cinema em Manaus



 

 

Tomzé Costa*

 

“Eu vivia todo dia no Cine Carmem Miranda, vendo e revendo os filmes lá exibidos. Primeiro, porque morava perto, na mesma rua Joaquim Sarmento; depois, porque adoro cinema”. Quem diz isto é Michel Guerrero, produtor cultural hoje mais ligado à atividade teatral e coordenador do projeto que tenta revitalizar o que chamamos de “cinema de rua”, após o desmanche da vida dos centros das capitais brasileiras e a difusão dos shopping centers, para onde foram os cinemas.

 

O projeto aprovado pela Lei Paulo Gustavo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Amazonas, e com apoio da Aliança Francesa de Manaus e o Instituto Cultural Hileia Amazônica, recupera a denominação Cine Carmem Miranda, em homenagem àquele cinema. Mais para um “cinema de arte” do que para um “cine clube”, o novo Cine Carmem Miranda realiza sessões gratuitas de quinta a sábado a partir das 17h, na Praça do Congresso, no centro de Manaus, próximo à Biblioteca Municipal.

 

“Minha intenção é despertar nas pessoas a paixão pelo bom cinema. Proporcionar que possamos assistir e debater bons filmes”, diz Guerrero. E dessa maneira foi inaugurado, no dia 27 de junho, com a exibição de vários curtas de Georges Méliès, o primeiro a realizar filmes com trucagens, ainda nos primeiros anos de criação do cinematógrafo, no séc. 19. De filmes sobre a temática LGBTQIAPN+, passando por homenagens ao ator e cineasta amazonense Adanilo e ao ator Marlon Brando e com direito a debate sobre o cinema mudo com o historiador Jorge Bandeira, a programação do novo espaço não conseguiu ainda atrair a presença de público que preencha os quase 50 lugares. Talvez pela novidade, talvez pela insensibilidade das pessoas ao chamado “cinema cult”, o destino do Cine Carmem Miranda pode ser dimensionado pela capacidade de ampliar a divulgação do projeto e pelo cuidado na programação dos filmes.

 

Espaços como este são bem-vindos em Manaus, a exemplo do que ocorre em outras partes da cidade. As intenções variam, de proporcionar entretenimento e lazer a populações apartadas dos cinemas dos shoppings (distantes e caros) a discutir politicamente situações sociais, como o genocídio na Palestina e o crescente feminicídio no país. Me parece que o propósito do Cine Carmem Miranda fica no âmbito do próprio cinema, o que é igualmente memorável.

 

 

É uma tentativa de reviver a organicidade do cineclubismo com a oportunidade dos filmes premiados em festivais artísticos, principalmente os europeus e asiáticos. Contudo, seu sucesso está diretamente vinculado à dinâmica social, marcada por um crescente individualismo do acesso a produções audiovisuais graças aos celulares e a ampliação de streaming. A concepção intrínseca do cinema é a de que a obra cinematográfica seja exibida em um espaço coletivo, proporcionado por um ambiente escuro, com imagem e som envolventes, capaz de ‘capturar’ o espectador na trama e lhe proporcionar um arrebatamento de emoções. Obviamente, algo impossível num aparelho de tv e celular...

 

Dessa maneira, ao mesmo tempo em que o Cine Carmem Miranda se coloca como motor de divulgação de obras clássicas e modernas do cinema, seu sucesso depende da capacidade de atração de público e de sua programação. A vinculação à cinemateca da Aliança Francesa é um caminho, mas é preciso um pouco mais de critério nos filmes escolhidos.

 

Para que possa reviver o que chamamos de “cinema de rua” no centro da cidade, a exemplo do que já realiza o Casarão de Ideias, o novo espaço necessita mais do que ‘boas intenções’, mas da capacidade concreta de envolver demais setores artísticos e culturais de Manaus, a fim de tornar-se um verdadeiro ponto alternativo.

 

Vida longa ao novo Cine Carmem Miranda!

 

*Tomzé é professor aposentado da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Ufam e criador da página Tomzé comenta Cinema!

 

Fotos: Bruno Lopes/Divulgação



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