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  02/04/2024



ADUA organiza e participa de atividades pelos direitos das mulheres



Assédio na universidade foi o tema debatido na segunda roda de conversa

 

Daisy Melo e Sue Anne Cursino

 

No mês marcado internacionalmente pela luta das mulheres, a ADUA participou dos atos públicos realizados em Manaus e Parintins e organizou uma Jornada de Luta pelos Direitos das Mulheres, na sede da Seção Sindical. Professoras, professores e estudantes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) participaram das atividades que visaram chamar a atenção da sociedade pelo fim do feminicídio, misoginia, assédio e diversos outros tipos de violência de gênero sofridos pelas mulheres.

 

Em celebração e defesa dos direitos das mulheres, a ADUA realizou a Jornada com rodas de conversa, exibição de depoimentos e Quarta Cultural. Foram debatidos os temas violência política de gênero na Ufam; assédio moral e sexual e as institucionalizações das práticas machistas nos espaços universitários e “não existe democracia sem feminismo”.

 

“É inegável que o processo colonizador ao qual fomos submetidas e submetidos possui em sua gênese todas as formas de violência contra corpos femininos, e que todos os processos revolucionários dos movimentos feministas lutam há séculos pelos direitos e emancipação das mulheres”, comentou a 1ª secretária da ADUA, Ana Cláudia Nogueira. Em frente à Ufam foi afixada uma faixa convocando a comunidade acadêmica a participar das rodas de conversa da Jornada nos dias 15, 22 e 27 de março.

 

 Da primeira roda com temática “Violência Política de Gênero na Ufam”, participaram a militante social e ex-dirigente do Sintesam, Ana Grijó, a presidente do Diretório Central dos Estudantes da Ufam (DCE), Rita Vieira, e a docente da Faculdade de Educação (Faced), Silvia Conde.  Atuar politicamente dentro de uma universidade é um desafio. Quando se é uma mulher, as dificuldades aumentam. Essa foi a realidade exposta pelas convidadas na roda de conversa.

 

Para a presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Amazonas (DCE/Ufam) e estudante do curso de Pedagogia, Rita Vieira, a Universidade é um ambiente hostil para as mulheres, principalmente para as discentes. Ela narrou a experiência da violência política já na primeira atuação como liderança estudantil, como presidente do Centro de Acadêmico. “A gente precisa enfrentar, ser combativa e se colocar, são espaços que nos dão destaque, mas nos machucam, e os machucados não partem apenas de homens, senti violência de mulheres que deveriam estar ombro a ombro, se protegendo, se blindando”, comenta.

Em sua fala, a docente da Faculdade de Educação (Faced) da Ufam, Silvia Conde, pontuou que a violência política de gênero vivenciada dentro das universidades é reflexo da sociedade determinada pela luta de classes, o machismo, a misoginia, o patriarcado e o racismo. “Esse tema está tolamente atravessado por todas essas determinações sócio-históricos postas e a universidade é expressão do que acontece nesse contexto maior”, disse.

 

Na segunda roda de conversa da Jornada com temática central “Assédios na Ufam e a institucionalização de práticas machistas nos espaços universitários”, no dia 22, uma das reflexões foi que “A Mãe Terra é mulher, ela é feminina, e infelizmente ela está sendo assediada todo o tempo. Ela não suporta mais esse assédio”. O pensamento foi trazido por Clarice Duhigó  Gama, do povo Tukano, mestranda em História Social pela Ufam e diretora-presidente da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro em Manaus (AMARN).

 

“Assédio é a questão ambiental que a Mãe Terra sofre. Hoje no Dia Mundial da Água... quanto assédio ela não sofre? Esse elemento que é muito sagrado para nós, para toda a humanidade? Para o mundo capitalista a água não é um patrimônio, ao longo da história o humano vem sofrendo, e o planeta deveria ser um espaço seguro para o humano”, afirmou.

 

Para Clarice, o assédio está em toda parte por uma falha na educação que esconde a educação sexual dentro das escolas. A indígena ressaltou ainda que a universidade forma profissionais que não debatem sobre esse assunto. “A universidade é um espaço que só está preocupado com a questão mercadológica, o próprio discente. A universidade trabalha para o mercado, a pessoa se forma professor e leva para as escolas essa bagagem”.

 

Além de Duhigó, a roda teve a participação da 1ª vice-presidente da Regional Norte 1 do ANDES-SN e docente do Instituo de Ciências Biológicas (ICB/Ufam), Ana Lúcia Gomes; a estudante de Pedagogia da Ufam, Maria Rio Negro; e a doutoranda em Antropologia pela Ufam, professora de História e membra do Coletivo Banzeiro Feminista, Aline Ribeiro.

 

Com o tema “Não existe democracia sem feminismo”, a última roda de conversa, no dia 27, apontou para a necessidade de olhar as singularidades das mulheres, considerar que as questões de classes permeiam suas lutas e que há urgência de que as pautas ultrapassem as fronteiras dos movimentos feministas.  

 

 

A representante da União Brasileira de Mulheres (UBM), Doris Bastos, disse que o interesse do capitalismo neoliberal é que as mulheres não avancem na luta por seus direitos e que por isso é preciso ir além, falar para quem está fora dos movimentos sociais.

 

Partindo do entendimento de que as mulheres indígenas se enxergam como “corpo-território”, a representante do Movimento das Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam) e docente do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA/Ufam), Daniele Gonzaga, afirmou que as mulheres indígenas têm suas vidas violentadas porque suas terras são objetos de disputas, e que sair de seus territórios é uma estratégia para conquista de direitos, mas que é preciso considerar suas culturas. “As mulheres têm a responsabilidade da manutenção da língua. Por outro lado, não sair dos territórios impõe outras questões e espaço para violências”.

 

“Não dá para falar das questões das mulheres sem falar do capital, das lutas de classe”. Esse foi o olhar compartilhado pela professora da Faculdade de Educação (Faced/Ufam), Gisele Costa, que enfatizou a origem das conquistas dos direitos de organização das mulheres trabalhadoras. “Feminismo não é a luta das mulheres contra os homens, é contra uma das ideologias que embasa o massacre contra as mulheres”.

 

Todas as rodas de conversa da Jornada estão disponíveis no canal da ADUA no YouTube.

 

Após o diálogo, as e os participantes da jornada cantaram e dançaram ao som da cantora Simone Ávila, na Quarta Cultural “Meu corpo, minha lei”.

 

8M

 

Na tarde do Dia Internacional de Luta das Mulheres (8 de março), docentes filiadas à ADUA se somaram a muitas outras manifestantes nos atos em Manaus e Parintins. Na capital amazonense, a manifestação teve como temática central “O medo não vai nos parar!”. Com bandeiras, faixas, cartazes, cocares, maracás e tambores, crianças, mulheres e seus companheiros tomaram as ruas e marcharam da Praça da Matriz até o Largo Sebastião, no Centro.

 

A 1ª vice-presidente da Regional Norte 1 do ANDES-SN e ex-presidente da ADUA, professora Ana Lúcia Gomes, representou o Sindicato Nacional e a Seção Sindical no ato no Centro de Manaus. A docente destacou a importância e o direito à Educação para a emancipação de meninas e mulheres na sociedade brasileira estruturalmente machista.

 

“Nós, mulheres, precisamos defender nossos direitos. É importante que a gente alerte meninas, jovens e mulheres sobre o quanto a educação faz a diferença na nossa vida, nos torna independentes, ocupem espaços de trabalho, e ela precisa ser pública. Além disso, nesses espaços educativos, as mulheres não devem ser vítimas de violência, não sejam violentadas”.

 

Indígenas de diversos povos participaram da manifestação como as Kokama, Munduruku, Sateré Mawé, Maraguá e grupos como o Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam), Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Associação de Afrodescendentes e Indígenas da Amazônia e Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas (Makira-E’Ta). No ato, as indígenas dançaram e entoaram cânticos e reivindicaram o direito originário e constitucional aos seus territórios.

 

Ao longo do ato também foram empunhados cartazes com os nomes e as fotografias de mulheres assassinadas no Amazonas como os da artista venezuelana Julieta Hernández, de 38 anos, morta em janeiro de 2024; Débora da Silva Alves, de 18 anos, vítima de feminicídio durante a gravidez pelo pai do bebê em agosto de 2023. Também foram lembradas Almeida Castro das Chagas, de 41 anos; Andreia Freitas de Oliveira, 37 anos; Brenda Salles Miller, de 31 anos, e Camila Vitória Friths, de 25 anos.

 

Dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas revelam que o Amazonas registrou 4.691 casos de violência contra a mulher em 2022. Segundo o relatório, o tipo de violência que as mulheres mais sofrem no estado é a física (39,3%), seguida da sexual (21,5%) e da psicológica/moral (11,2%). Durante o ano de 2022, 21 mulheres foram vítimas de feminicídio no Amazonas, segundo informações do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Já os casos de tentativa de feminicídio aumentaram 25%.

 

Também participaram da manifestação movimentos como a Pastoral Operária, União Nacional por Moradia Popular, Sintesam, Articulação de Mulheres do Amazonas (Ama), Mulheres do Psol e Baque Mulher. A atividade foi realizada por movimentos, grupos de mulheres, feministas e instituições apoiadoras como, segundo a organização, “um grito que ecoa pelos rios, pontes, becos, asfaltos, casas, parlamento, escolas e vielas, seja de noite ou dia”.

 

 

Em Parintins, nem a chuva parou as mulheres que se reuniram para protestar na manhã do dia 8 de março na Praça da Liberdade, no Centro da ilha. Com música e poesia, docentes e estudantes do ICSEZ/Ufam, da UEA e do Ifam e integrantes de movimentos feministas marcaram a data. A ADUA participou da manifestação sendo representada pela diretora Maria Eliane Vasconcelos.

 

Com o mote “8 de março fechado. A gente faz feriado”, o ato pediu atenção à demanda do movimento feminista local para transformar o 8 de março em feriado municipal. Em 2019, movimentos de mulheres criaram um projeto de iniciativa popular, que foi encaminhado à Câmara Municipal, mas não teve resultado.

 

Na manifestação, as mulheres ergueram ainda uma bandeira da Palestina com os dizeres “Pelo fim do Holocausto na Palestina” em solidariedade ao povo e, principalmente, às mulheres e crianças que vivenciam um massacre na Faixa de Gaza. De acordo com dados oficiais, mais de 30 mil pessoas foram mortas até o momento na região. Desse total, 25 mil são mulheres e crianças. 

 

A atividade foi organizada pelos movimentos Articulação Parintins Cidadã, Coletivo Mulheres de Fibra da Amazônia, Associação do Movimento de Mulheres da Amazônia, Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, Marcha Mundial das Mulheres e Teia de Educação Ambiental e Interação em Agrofloresta.

 

Fonte: ADUA

 

Fotos: Daisy Melo



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