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  26/03/2024



“Mãe Terra é mulher e sofre assédio cotidianamente”, diz indígena Tukano em roda de conversa da ADUA



 

 

“A Mãe Terra é mulher, ela é feminina, e infelizmente ela está sendo assediada todo o tempo. Ela não suporta mais esse assédio”. Esse foi um dos pensamentos trazidos na roda de conversa “Assédios na Ufam e a Institucionalização de práticas machistas nos espaços universitários”. O encontro realizado no dia 22 de março faz parte da programação da Jornada de Luta pelos Direitos das Mulheres da ADUA, realizado ao longo do mês de março.

 

A reflexão foi feita por Duhigó Clarice Gama do povo Tukano, mestranda em História Social pela Ufam e diretora-presidenta da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro em Manaus (AMARN). "Assédio é a questão ambiental que a Mãe Terra sofre. Hoje no Dia Mundial da Água... quanto assédio ela não sofre? Esse elemento que é muito sagrado para nós, para toda a humanidade? Para o mundo capitalista a água não é um patrimônio, ao longo da história o humano vem sofrendo, e o planeta deveria ser um espaço seguro para o humano”.  

 

A violência sofrida pelas mulheres indígenas desde a invasão do Brasil também foi destacada por Duhigó como um assédio. “Nós mulheres indígenas sofremos assédio há 524 anos. Os europeus quando chegaram olharam as mulheres indígenas nuas. Aí começou a violência. a partir disso não encontramos mais um espaço seguro. Não somente o assédio sexual da mulher indígena, mas toda a biodiversidade, nossos territórios foram saqueados”, frisou.

 

 

Para Clarice, o assédio está em toda parte por uma falha na educação europeia reproduzida. “Ela esconde a educação sexual dentro das escolas, da universidade”. A indígena do povo Tukano ressaltou que o ambiente universitário deveria discutir essas questões, mas não é isso que vem ocorrendo, e forma profissionais que não tiveram esse debate. “A universidade é um espaço que só está preocupado com a questão mercadológica, o próprio discente. A universidade trabalha para o mercado, sem se preocupar que nos espaços de atuação poderia estar sendo discutido o respeito. A pessoa se forma professor e leva para as escolas essa bagagem”, ponderou.

 

Como mestranda da Universidade, Duhigó narrou um episódio de assédio e ressaltou que a mulher indígena é muito forte por ser mulher, indígena e por estarem em espaços de atuação dentro da academia. “Uma vez eu estava vindo para cá para uma aula do mestrado eu estava com meus adereços, e ele disse assim para mim, ‘pra onde a senhora vai?’ Aí eu disse: ‘vou para a Ufam, eu vou estudar?’. ‘Ah índios estudam agora na universidade?’. Olha que ideia atrasada. Eu só falei: ‘o senhor esqueceu que nós caminhamos 524 anos?’”.

 

Esse atraso de pensamento está relacionado, segundo ela, também a questão da educação. “Esse assédio acontece por causa dos estereótipos. O nosso material didático, a educação brasileira não acompanha esse processo. No livro didático o índio ainda está de cocar, nu. E isso é reproduzido para as crianças brasileiras e eu acredito que é responsabilidade da formação dos professores na universidade. Se a gente não fizer esse processo revolução no material didático, a gente vai continuar falando sobre o assédio”.

 

 

A roda de conversa ocorreu no auditório Professor Osvaldo Coelho na ADUA, na sede da ADUA, e foi transmitida também pelo Google Meet. Além de Duhigó também participaram do encontro a 1ª vice-presidenta da Regional Norte 1 do ANDES-SN e docente do ICB/Ufam, Ana Lúcia Gomes; a estudante de Pedagogia da Ufam, Maria Rio Negro; e a doutoranda em Antropologia pela Ufam, professora de História e membra do Coletivo Banzeiro Feminista, Aline Ribeiro. A palestra na íntegra está disponível no canal  da ADUA no YouTube aqui.

 

Fonte: ADUA

 

Fotos: Ascom ADUA/Daisy Melo

 



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