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  11/01/2023



Gestão 2020-2022 é marcada por resistência



 

Foi em uma conjuntura marcada pela pandemia da covid-19 e com o Brasil sob a liderança de um governo da extrema direita que atuou a 22ª Diretoria Executiva da Associação dos Docentes da Ufam (ADUA) - Seção Sindical do ANDES-SN, de dezembro de 2020 a dezembro de 2022. A luta da categoria, que historicamente é forjada nas ruas, foi adaptada ao modelo virtual imposto pela situação sanitária, que junto a perda de colegas e familiares e dos diários ataques do derrotado governo de Bolsonaro contra a Educação Pública, representaram os maiores desafios deste período. Essa realidade exigiu permanente resistência em defesa da vida e o fortalecimento da luta em defesa da Educação Pública e do Serviço Público.

 

Foi nesse contexto que a ADUA se manteve aguerrida por meio da base, direcionada pelo trabalho direto das mentes e corações dos e das docentes que integraram a diretoria, cuja escolha já nasceu de um primeiro desafio, o de ser eleita a partir da primeira eleição remota da história da Seção Sindical, ocorrida em novembro de 2020.

 

Com o mote “ADUA de Luta e pela Base!”, a diretoria foi com[1]posta pelos e pelas docentes: Ana Lúcia Silva Gomes (ICB), como presidente; Aldair Oliveira de Andrade (IFCHS), como 1º vice-presidente; José Alcimar de Oliveira (IFCHS), como 2ª vice-presidente; Maria Rosária do Carmo (ICE), como 1ª secretária; Valmiene Florindo Farias Sousa (ICSEZ), como 2ª secretária; Antonio José Vale da Costa, Tomzé, (FIC), como 1ª tesoureiro, e Elciclei Faria dos Santos (Faced), como 2º tesoureira. Toda a comunidade acadêmica da Ufam sentiu, principalmente nos dois primeiros anos da pandemia, as perdas de docentes, estudantes, Técnico-administrativos em Educação e Técnicas--administrativas em Educação (TAEs) e outros profissionais que atuavam na universidade.

 

Foram mais de 30 docentes falecidos(as) em decorrência do coronavírus, e como uma justa homenagem, a ADUA organizou o memorial “Sementes da Ufam”. A professora Ana Lúcia Gomes explica que um dos principais desafios foi conviver com a perda de valorosos colegas que se foram em função do descaso do desgoverno Bolsonaro e, ao mesmo tempo, se manter firme, para honrar a memória dos lutadores e das lutadoras da Seção Sindical.

 

“No bojo desta desgraça toda, veio a necessidade de distanciamento social, o que nos impediu de circular, de interagir com as demais pessoas, de desenvolver nossas atividades laborais de forma presencial”, explica a docente, acrescentando que a pandemia obrigou a todos e todas a testarem novas formas de relacionamento e ao mesmo tempo escancarou a desigualdade já existente no país. “No trabalho e nos momentos de lazer esta convivência forçada com uma relação digital no plano laboral e de convivência digital nos trouxe outros desafios. Foi angustiante perceber o quanto esta medida foi desigual do ponto de vista social. Muitos alunos e muitas alunas não tiveram condições de acompanhar as aulas por questões financeiras.

 

 

 

Outro grande desafio foi a tentativa de mobilizar a comunidade acadêmica e a sociedade em um cenário de horror, morte, fome descaso e corrupção. Além de tudo isso, conviver com o vírus em nossos corpos e nos mantermos vivos foi outro desafio sem igual”. Além da adaptação das atividades de professores e professoras ao modo virtual, a mobilização em defesa das pautas de luta da categoria docente, que ocorria por meio de assembleias, manifestações nas ruas e na universidade, passou a ser integralmente digital. “Os desafios foram circunscritos à essa conjuntura adversa que acabou dificultando o contato com a base, tornando-o remoto. Boa parte desse período continuou nos contatos via lives centradas em temas pertinentes não só à categoria docente, mas às questões da sociedade – saúde, cortes e ataques às universidades e institutos federais, devastação à floresta amazônica, mineração desenfreada e ataque à população indígena”, afirma o professor Tomzé Costa. Apesar do distanciamento físico necessário, o espaço virtual, ao mesmo tempo que pode ser estratégico para aumentar o alcance de pautas, também se tornou um inimigo do engajamento e da participação ativa.

 

Na reflexão da professora Elciclei Faria, o desafio de desenvolver atividades remotas desmobilizou ainda mais a categoria e isso refletiu na diminuição da participação das atividades após o retorno presencial e na construção de uma unidade de luta e defesa de outras bandeiras. “Além das pautas específicas em defesa da educação e da saúde públicas, da ciência e tecnologia, dos direitos trabalhistas e da democracia, um dos desafios que enfrentamos foi o de defender a Amazônia, especialmente o apoio à luta dos povos originários e da floresta, pela manutenção de seus territórios e de suas vidas que foram ameaçadas e ceifadas pela pandemia e pela política nefasta do governo de Jair Bolsonaro que financiou e apoiou a invasão dos territórios indígenas, a exploração de madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e mineradores que se confrontaram e assassinaram lideranças indígenas e tradicionais”, disse Elciclei Faria. A docente destaca a participação da ADUA na Frente Amazônica em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI), com parcerias em lives, publicações e apoio direto em mobilizações pelos direitos indígenas.

 

“Essas e outras questões foram bastante desafiadoras ao longo de 2020-2022, principalmente quando não podíamos nos manifestar nas ruas devido à pandemia de covid-19. Também apoiamos campanhas de ajuda humanitária aos povos originários da Amazônia nos períodos mais críticos da pandemia, com atuação direta em do povo Yanomami de Roraima e do Amazonas, bem como de outros povos indígenas; nos atos públicos e ações protocoladas no Ministério Público contra uma ação policial criminosa ocorrida em agosto de 2020 no rio Abacaxis, no território da comunidade Maraguá, entre os municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, que vitimou dois indígenas do povo Munduruku, da Terra Indígena Kwata Laranjal, região do rio Madeira”, explica Elciclei Faria.

 

Este cenário exigiu a ampliação de novas estratégias de atuação, tanto política, quando de comunicação, dentre elas lives e investimento em postagens nas redes sociais e de comunicação via e-mail e WhatsApp. A ADUA, que já estava passando por um processo de transformação digital, passou a investir ainda mais nessa forma de comunicação. À frente da coordenação da Comunicação da ADUA, a professora Valmiene Florindo destaca que foi necessário a diretoria ter um certo controle emocional para “tocar” as atividades sindicais, principalmente quando a defesa da própria vida era tarefa primordial, o que exigia atenção redobrada às informações geradas para a base.

 

Nesse contexto se fez necessário adotar modelos de comunicação remotos para as Assembleias Gerais (AGs) e demais reuniões, principalmente sobre quando se tratou do Plano de Biossegurança e do calendário acadêmico após o retorno presencial. “Além do mais, as plataformas que já usávamos (site e redes sociais) tiveram que ser constantemente alimentadas, exigindo trabalho mais intenso da nossa equipe de assessoria de comunicação, que cumpriu com maestria essa atividade. Nesse sentido, a comunicação sindical, que já era estratégica para aproximar a base da direto[1]ria, se tornou fundamental para alinhar as estratégias de luta”, declarou Valmiene Florindo.

 

Nesse movimento de adaptação à comunicação online e, em seguida, de retorno presencial, um dos desafios enfrentados por diversas seções sindicais do país e outras entidades, sindicatos, movimentos estudantis e sociais, conforme foi possível constatar a partir do compartilhamento de experiências em encontros/atividades locais e nacionais, foi a desmobilização, o esvaziamento e falta de participação das pessoas nas atividades sindicais.

 

“Quando a epidemia da covid-19 deu uma trégua – já em 2022 – as atividades na Ufam voltaram paulatinamente à normalidade e a ADUA retomou as ações presenciais, mas enfrentando alta desmobilização da categoria e o contínuo desinteresse do governo federal, estimulado mais ainda com o processo eleitoral nacional”, pondera Tomzé. Ao ser questionada sobre como essa desmobilização afeta a manutenção da luta sindical, a professora Ana Lúcia acredita que, parte desta desmotivação, é a desorganização em que se encontra o país. “Ser ‘governado’ por alguém que não governa tem suas implicações. Tivemos um representante que desconstruiu toda ordem natural das coisas. Foram muitos ataques aos servi[1]dores e serviços públicos, muitas instituições deixaram de cumprir de fato seu papel, e isto repercutiu na vida das pessoas”.

 

 A professora Elciclei compartilha das mesmas preocupações e afirma que essa é uma realidade que vem se intensificando há alguns anos, apesar dos constantes ataques à educação pública, aos(às) servidores(as) e às universidades. “Percebo que a categoria está cada vez mais distante das lutas coletivas. Não sei o que ocorre com a categoria docente, parece que as lutas sindicais não lhes interessam, embora estejamos todas e todos sob ataques enquanto universidade, sem recurso, atuando em ambiente e estruturas cada vez mais precarizados, sem material, sem segurança e com uma imensa sobrecarga de trabalho que parece ser naturalizada. O que poderá despertar nossa categoria docente? A dificuldade para montar chapa é recorrente e isso é cansativo para quem está à frente na luta pelas pautas e pelos direitos da categoria”.

 

Ainda assim, foram alcançadas vitórias da categoria, como a derrota de Bolsonaro nas ruas e nas urnas, o desbloqueio de parte do orçamento da  Educação e o adiamento da votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32/2020, a Reforma Administrativa.

 

Em Brasília (DF), foi significativa a participação da ADUA nas vigílias pelo reajuste salarial dos(as) SPFs e na Jornada de Lu[1]tas para barrar a Contrarreforma da Administrativa.

 

Reunindo representantes de outras entidades e Seções Sin[1]dicais do ANDES-SN, a Jornada de Lutas contra a PEC 32 foi um exemplo de que lutar sozinho é uma luta inglória, mas que quando os movimentos sociais se jun[1]tam escreve-se na história uma página de resistência.

 

O conjunto de SPFs esteve continuamente nas ruas, aero[1]porto de Brasília, Câmara Legislativa e gabinetes de deputados e deputadas para mostrar aos legisladores e às legisladoras do país que servidores públicos e servidoras públicas merecem respeito.

 

“Foram meses de estada em Brasília, ficando longe de nossas famílias e convivendo com o vírus em aviões, aeroportos e hotéis para se fazer acontecer toda resistência. Esta jornada serviu também para mostrar à sociedade a importância de serviços públicos como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Universidade gratuita e de qualidade”, afirma Ana Lúcia.

 

A presença da ADUA nessas e em outras lutas e conquistas, durante o biênio 2020-2022, revela que a entidade tem um papel fundamental nas lutas coletivas, na defesa democracia, da educação pública, da ciência e tecnologia, dos direitos trabalhistas e sociais, com destaque à solidariedade com a luta dos povos originários.

 

Ainda que a entidade seja um sindicato que está localizado mais distante da capital federal,

local de concentração dos atos, a representação de diretores(as) da ADUA e de outras seções sindicais fortaleceu a luta pelos direitos da categoria docente. Foi possível acompanhar a informação quase que de forma simultânea aos eventos, o que ajudou a mobilizar mais as bases.

 

Valmiene Florindo destaca que, em diversos atos nacionais, houve participação das unidades fora de Manaus, como nos campi da Ufam em Parintins, Itacoatiara e Humaitá.  “Também ressalto que alguns atos durante a pandemia realiza[1]dos nos municípios fora da sede também ganharam notoriedade nas redes sociais do ANDES-SN, o que significa a importância de

todas as mobilizações organiza[1]das pela categoria docente e que houve adesão da base em atos nacionais, tanto nas mobilizações pedindo Fora Bolsonaro quanto nas mobilizações nas redes e nas ruas contra a Reforma Administrativa e em defesa dos direitos dos povos indígenas, da Educação e da Ciência & Tecnologia”, afirma Valmiene Florindo.

A ADUA também publicou um e-book, onde registra, a partir de notas públicas, o pensamento político e ações de luta da irredenta Seção Sindical, parafraseando o professor José Alcimar,

cujas palavras ecoam na maior parte da escrita das notas.

 

Ainda na gestão 2020-2022 foram editados os números 3 e 4 da Revista Resistências, periódico impresso e digital criado com o objetivo de proporcionar um espaço para estimular o livre debate e a discussão de ideias políticas. A Comissão Editorial é formada pelos professores da Ufam, Tomzé Costa, Lino João de Oliveira Neves e Marcelo Vallina, e pelas professoras Iolete Ribeiro e Ivânia Vieira.

 

Uma das ações nos últimos meses de atuação da diretoria foi a nomeação do auditório da Seção Sindical de “Professor Osvaldo Gomes Coelho”, primeiro presidente da entidade e uma das vítimas da covid-19.

 

O professor Tomzé afirma que dar esse nome ao auditório não é apenas uma ação simbólica, mas sim uma justa homenagem àquele que dedicou boa parte de sua vida à luta por uma educação pública e de qualidade, valores essenciais ao movimento sindical. “Osvaldo Coelho foi um alentador do movimento dos professores do nível Médio em Manaus nos anos 1970, por meio da APPAM [Associação Profissional dos Professores do Amazonas] e o primeiro presidente da nascente ADUA (movimento dos docentes da UA [Universidade do Amazonas], depois Ufam) nos anos 1980. A partir daí seu envolvimento com a luta sindical foi permanente até o ano de sua morte, provocada pelo vírus. O simbolismo que carrega o nome dele no auditório da ADUA é o de aquele espaço foi palco vivenciado pelo professor Osvaldo em todos os momentos em que a luta se deu – AGs, comandos de greves, discussões temáticas, debates do movimento ‘Educar para a Cidadania’. Osvaldo foi símbolo da luta sindical docente em vida e referência permanente”.

 

Durante o descerramento da placa em homenagem ao professor Osvaldo, os e as presentes enfatizaram a sua trajetória de luta política em defesa dos direitos trabalhistas, sociais e humanos e a constante presença nas assembleias, eleições, greves e todas as formas de lutas da ADUA. “O Professor Osvaldo Coelho representa resistência e luta. Sempre esteve firme na linha de frente nas lutas em defesa da educação pública e de outras pautas. Professor Osvaldo Coelho, presente! Continuas entre nós, imortalizado”, declarou a professora Elciclei Faria.

 

Durante a posse da nova Diretoria, ocorrida em dezembro de 2022, a professora Ana Lúcia avaliou como positivo o trabalho no biênio 2020-2022, agradecendo a experiência vivenciada e o compartilhamento da militância ao lado dos professores e das professoras com quem dividiu a gestão, destacando ASCOM ADUA/DAISY MELO Docentes realizaram Assembleia Geral sobre greve unificada dos(as) Servidores(as) Públicos(as) Federais em 2022 a experiência dos professores José Alcimar de Oliveira e Tom[1]zé Costa, o companheirismo do professor Aldair Oliveira, da professora Elciclei Faria, com a qual fez uma ponte importante entre a Seção Sindical e os movimentos indígenas, e da professora Valmiene Florindo que representou os campi fora de Manaus e coordenou a Assessoria de Comunicação da ADUA, além da professora Rosária do Carmo, que atuou na secretaria. “Foi uma diretoria que teve seus embates quando tinha que ter, mas soube juntar as forças e direcioná-las para o nosso inimigo, o governo que foi derrotado. E conseguimos levar esse sindicato em meio a pandemia, a perda de valorosos professores e valorosas professoras... Estou orgulhosa por passar esse período lutando. A luta é necessária e pode ser feita com candura, mas a gente nunca deve deixar de lutar”, afirmou.

 

Fonte: ADUA

 

Fotos: Sue Anne Cursino 



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