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Atual política de educação contribui para adoecimento docente, afirma pesquisadora



Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da graduação à pós-graduação, a doutora em Serviço Social, professora Alzira Guarany desde o mestrado se dedica ao estudo da saúde do trabalhador, seus impactos nas relações e na qualidade de vida destes atores. Autora da tese “Trabalho docente, carreira doente”, defendida em dezembro de 2014 e que analisou os impactos na saúde dos docentes da UFRJ, a professora aponta que o adoecimento docente não é um problema isolado da instituição, mas sim “fruto da atual política de educação de cariz neoliberal, presente hoje na maioria esmagadora das universidades públicas no Brasil.

Alzira, que atualmente é coordenadora-geral e professora do curso de Serviço Social da Universidade Veiga de Almeida, afirma que o “docente é parte fundamental da educação. Seu sofirmento e seu adoecimento causam impacto direto na qualidade da relação com alunos e técnicos, assim como também gera custos para a gestão. Confira na entrevista concedida ao Jornal da Adua.

Jornal da Adua (JA): O que a motivou a pesquisar sobre o adoecimento docente?
Alzira Guarany (AG): Desde meu mestrado venho estudando saúde mental do trabalhador, sofrimento psíquico e adoecimento pelo trabalho. São todos temas fundamentais, com consequências graves e objetivas sobre a qualidade de vida do trabalhador, mas ainda pouco estudados. Estudar o adoecimento docente, na realidade foi uma resultante de diversos fatores. Além deste já citado anteriormente, juntaram-se também o fato de querer retribuir o que a UFRJ havia me proporcionado, pois fui aluna de lá desde a graduação, e uma conversa com o prof. Dr. Mauro Iasi, à época presidente da ADUFRJ. Às vésperas da última grande greve dos docentes, em 2012, ainda sem definir meu objeto de estudo para o doutoramento, perguntei-lhe qual tema seria útil ser estudado e que poderia auxiliar a fortalecer o movimento organizado dos docentes da Universidade. A resposta dele, para mim, não poderia ser melhor: faltava conhecer mais sobre a saúde do professor, incluindo ai sua saúde mental. Pronto! Foi definida ali qual seria minha pesquisa. Chegar ao adoecimento do docente foi uma consequência de se olhar mais detida, interessada e profundamente o estado de saúde dos professores.

JA: Quais foram as situações mais alarmantes encontradas durante o estudo?
AG: Na verdade quase todos os relatos são alarmantes, pois envolvem um profundo sofrimento por parte do docente. Para citar alguns posso dar o de uma professora que desenvolveu quatro cânceres e não percebeu, pois trabalhava tanto que não teve tempo de olhar para si, de cuidar de si própria. Quando se deu conta da situação teve que fazer mastectomia radical. Tivemos ainda outra professora com afecções cutâneas em função do estresse que a atividade docente lhe provoca, tinha psoríase; outro que teve crise de ansiedade e depressão.... apenas para citar alguns.

JA: Na sua opinião o adoecimento docente é um problema isolado da UFRJ ou atinge todas as universidades públicas?
AG: Ao falarmos da situação de saúde dos docentes da UFRJ, tivemos que, necessariamente, situarmos esse objeto em um macrocontexto econômico, social e político, já que partimos do pressuposto teórico que os fatos são historicamente determinados. Essa premissa nos apontou ser bem provável que essa situação não seja um problema isolado da UFRJ, mas sim fruto da atual política de educação de cariz neoliberal, presente hoje na maioria esmagadora das universidades públicas no Brasil, guardadas as devidas particularidades históricas e conjunturais de cada IFEs.

JA: Qual o impacto do adoecimento docente na educação brasileira?
AG: Imenso, pois o docente é parte fundamental da educação. Além do que ele interage com outros atores sociais da comunidade acadêmica, como alunos e técnico administrativos. Seu sofrimento e seu adoecimento causam impacto direto na qualidade destas relações, assim como também gera custos para gestão: turmas sem professor, sobrecarga de professor para dar conta de colega afastado; gasto do plano de saúde; pagamento de benefícios, dentre outros.

JA: O que pode ser feito, na sua opinião, para amenizar este problema?
AG: Em um primeiro momento minha intenção é ampliar o levantamento de casos de adoecimento em função do trabalho, pois a pesquisa para o doutorado parece apontar apenas a ponta do iceberg. É preciso ouvir mais professores que queiram falar sobre suas histórias de vida relacionadas ao trabalho (metodologia utilizada na pesquisa de doutorado) para produzir argumentos que poderão: ser utilizados na defesa de uma pesquisa epidemiológica; junto à gestão e a atores externos ao universo acadêmico que é urgente que se faça uma gestão do cotidiano diferente do que se vem fazendo, pois universidade não é fábrica de diplomas, é espaço para construção do saber, pesquisa, uso da criatividade. Que não combina integralmente com massificação de regras, normas, indicadores, entre outros.

JA: Durante a pesquisa a senhora enfrentou dificuldades para obter os dados?
AG: De forma alguma. Ao saberem o tema e a intenção, todos se dispuseram a falar, sem restrição de tempo de realização da entrevista, a despeito de estarem assoberbados de demandas.

JA:
A pesquisa gerou algum tipo de desdobramento na UFRJ?
AG: Até o momento fui procurada pela ADUFRJ para uma entrevista, mas estou totalmente disponível para auxiliar em ações tanto da Associação, quanto a gestão da UFRJ. A ADUFRJ acredito que precise forjar argumentos para negociar, pois o cenário econômico e político de 2015 me parece pouco sensível à coisa pública em geral e à educação pública superior em particular; já o segundo, como já disse anteriormente, a partir de uma pesquisa mais ampliada, pode-se ter ideia do que o estilo de gestão adotado vem custando ao seu orçamento, por exemplo, na medida em que vem afastando seu quadro docente da universidade, ou impedindo que eles possam desenvolver com mais qualidade suas potencialidades.

Imagens: Arquivo ADUA / Arquivo Pessoal

Fonte: ADUA



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