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Encontro Regional de Belém discute os impactos da ditadura na região amazônica



A intervenção da ditadura empresarial-militar na região amazônica, dentro e fora das universidades, foi tema central do Encontro Regional Norte e Centro-Oeste da Comissão da Verdade do ANDES-SN, realizado nos dias 23 e 24 de Outubro, em Belém (PA).

A discussão acerca de três temas – ocupação territorial, políticas implementadas pela ditadura empresarial-militar na região amazônica e o impacto nas universidades -, revelou, a partir das experiências apresentadas, como as políticas determinadas pela ditadura, principalmente nos estados do Pará, Amazonas, Acre e Roraima, influenciaram na própria finalidade de construção das universidades federais da região norte do Brasil. O debate foi realizado entre docentes, estudantes, militantes de Direitos Humanos e movimentos de resistência das regiões Norte e Centro-Oeste.

De acordo Antônio José Vale da Costa, 1º vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN e um dos membros da Comissão da Verdade do Sindicato Nacional, a primeira mesa “O desimpedimento do espaço para a ocupação territorial: massacre indígena, êxodo rural e militarização da Amazônia” centralizou a discussão na experiência da Universidade Federal do Pará (UFPA). Por ser a mais antiga da região, criada em 1955, a universidade se tornou centro de grande perseguição política e, ao mesmo tempo, de resistência dos docentes.

Os focos de resistência no interior das instituições e o assassinato do estudante Cesar Moraes Leite, dentro da UFPA, por um agente infiltrado da Ditadura, foram os depoimentos mais marcantes do Encontro. “A tragédia ocorrida em 1980, na UFPA, mostrou que os tentáculos dos porões da Ditadura estavam presentes em diversos lugares da sociedade”, relatou Ana Tancredi, professora da Universidade.

Além disso, foi destacada também a forma como era realizada a intervenção do governo militar nas Universidades, através da repressão e das regulações, como as propostas de reforma universitária e os acordos do então Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

“As demais mesas deixaram bem claro quais foram as políticas impostas pela ditadura para a região amazônica e a consequência direta disso  principalmente para a população indígena, que sofreu massacres tanto no Pará quanto na Amazônia. A política de expansão das hidrelétricas na região, durante o período ditatorial, atingiu diretamente a população local (ribeirinhas), provocando o surgimento do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), muito forte em Rondônia”, afirmou Antônio José Vale da Costa. Essa política, que segue vigente hoje, vem preocupando os indigenistas, pois traz implicações diretas para os povos indígenas e para o próprio desenvolvimento econômico da região.

Costa também apontou a discussão que foi realizada acerca da expansão capitalista na área ocupada por seringueiros no Acre, o que, na época, culminou em violentos conflitos, mortes, grande concentração fundiária, êxodo das populações tradicionais e devastação da região. E também em formas de resistência e de luta pela terra no Acre frente ao crescimento do agronegócio.

O 1º vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN relatou que as políticas resquícios da ditadura estão presentes hoje a partir da força do agronegócio e da mineração na região. “O que a gente sabe é que as universidades foram moldadas e preparadas com a finalidade de preparar mão-de-obra qualificada para atender as demandas que surgiram com essas políticas, principalmente a UFPA. As outras universidades do Acre, Amazônia, Roraima e Rondônia, criadas depois, também tiveram de certa forma uma vinculação com o modelo de desenvolvimento econômico imposto pela ditadura. A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por exemplo, de 1969, teve uma ligação mais forte com a construção da Zona Franca de Manaus - que foi um braço da política do período militar”, contou.

Encontro da Região Nordeste

O Encontro Regional Norte e Centro-Oeste foi o primeiro da série dos três espaços preparatórios para o Seminário Nacional da Comissão da Verdade do ANDES-SN, que acontece nos dias 9 e 10 de Dezembro, em Brasília. O próximo será o Encontro da Região Nordeste com o tema “Ditadura Empresarial-Militar na Repressão aos Movimentos Rurais e às Universidades do Nordeste”, a ser realizado nos dias 13 e 14 de novembro de 2014, no Auditório da ADUFC (Av. da Universidade, 2346, Benfica), em Fortaleza-CE.

*Fotos: Adufpa e CSP-Conlutas

Fonte: ANDES-SN e Adufpa



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