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A morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips repercutiu os ataques e ameaças vividos pelos povos da Terra Indígena do Vale do Javari (AM). Em todo o Brasil, entidades se manifestam reivindicando garantia da política ambiental e indigenista. Na terça-feira (21), às 12h, está marcada uma mobilização no Centro de Convivência da UFAM, para cobrar justiça pelas vidas de Dom, Bruno e Maxciel, assassinados por defenderem a Amazônia e os direitos dos povos indígenas. Eles se juntam ao mais de 200 ambientalistas assassinados(as) entre 2012 e 2020, estatística que mantém o Brasil como um dos países que mais mata defensores e defensoras do meio ambiente.
Na tarde de quarta-feira (15), data em que foram encontrados os restos mortais de Bruno e Dom, após confissão de assassinato por um dos suspeitos envolvidos no caso, a ADUA participou de um ato público em frente à sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Manaus (AM).
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Os e as manifestantes cobraram, por meio das falas públicas, faixas e cartazes, a responsabilização dos crimes, o fim da caça, da pesca e do garimpo ilegais na região, respeito à vida indígena e a saída do presidente da Funai, Marcelo Xavier.
“O estado do Amazonas, o Estado Brasileiro, deveriam se envergonhar dessa barbárie, de uma terra sem lei, de uma terra sem governo. E as vítimas são exatamente aquelas pessoas que ainda tem a dignidade de defender o ser humano, de defender os direitos, de defender a democracia. Esse manifesto, esse repúdio, em solidariedade ao Bruno, ao Dom e às suas famílias, é absolutamente necessário para mostrar que tem sim gente nesse estado, nesse país, que ainda honra a dignidade humana, ainda preza pelos direitos e pela democracia. Uma homenagem justa e necessária, porque, de fato, matar os dois foi matar um pouquinho dos povos indígenas do Amazonas, dos povos do Vale do Javari, da Amazônia, do nosso país”, afirma o professor, indígena e membro da Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Famddi), Gersem Baniwa.
Bruno era servidor licenciado da Funai e estava em atividade da Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), com objetivo de denunciar a atuação ilegal de pescadores, caçadores e garimpeiros.
Dom estava escrevendo um livro com o título “Como salvar a Amazônia”. Ele publicava reportagens sobre o Brasil em grande veículos como The Guardian, Washington Post, The New York Times e Financial Times.
Os dois foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael, no dia 5 de junho, de onde seguiram rumo à Atalaia do Norte. A viagem que duraria duas horas não foi concluída.
Após a constatação do desaparecimento, centenas de indígenas realizaram as primeiras buscas, com a colaboração de policiais militares do 8º Batalhão de Tabatinga (AM). Foram mais de 24 horas para que a Polícia Federal (PF), o Exército, a Marinha e o Corpo de Bombeiros começassem a atuar no caso, o que resultou em grandes críticas ao governo por omissão.
Em entrevista ao SBT News, o presidente da república, Jair Bolsonaro, afirmou que o trabalho de Bruno e Dom era uma “aventura não recomendada”. "O que nós sabemos, até o momento, é que no meio do caminho (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente”.
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Segundo nota da Univaja, desde 2021 as informações sobre as invasões na Terra Indígena Vale do Javari estão sendo enviadas ao Ministério Público Federal (MPF), à PF e à Funai. Nos documentos, foram indicados a existência de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais, vinculados a narcotraficantes.
A Univaja acredita que a morte de Dom e Bruno configura um crime político, uma vez que Bruno recebia ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. “O assassinato de Pereira e Phillips constitui um crime político, pois ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”.
O crime relembrou o caso do indigenista e ex-servidor da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, assassinado em 2019, em Tabatinga (AM). Ele atuava na Frente de Proteção Etnoambiental, setor responsável pela operações de fiscalização na região. Até hoje, a morte do agente não foi esclarecida pela PF. Em entrevista concedida à Agência Pública, a viúva de Maxciel, que não quis ser identificada, questionou: “Por que não fizeram o mesmo sobre o Max? Fiquei muito revoltada. Eu me coloco no lugar da família deles, mas por que deixar a gente de lado?”
Segundo o relatório da ONG Global Witness, desde 2012, início do levantamento, até 2020, foram 227 pessoas assassinadas no Brasil, sendo ambientalistas que atuavam na defesa do meio ambiente e de direito a territórios, terra e meios de subsistência.
Comoção e resistência
Além das manifestações que estão sendo realizadas desde o desaparecimento do indigenista e do jornalista, entidades que atuam pelas causas indígenas também prestaram solidariedade às famílias da dupla e aos povos indígenas por meio de notas públicas.
A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Famddi) declarou que a Amazônia sob ameaça de garimpeiros, exploradores da madeira e de narcotraficantes não é uma “aventura”, mas sim um lugar real, com mais 30 milhões de pessoas, onde também habita o maior contingente de povos originários. Neste sentido, a entidade exige esclarecimento sobre a pergunta "Quem mandou matar Bruno e Dom Phillips?"
“Que a memória dos mártires de ontem e de hoje seja presente e mobilize as forças democráticas para a realização do ato de Justiça e a adoção de medidas que assegurem os direitos humanos dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, dos quilombolas. O sangue escreve a nossa resiliência”.
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A ADUA enfatizou que o “Estado democrático de direito não combina com ataque ou ameaça à dignidade da pessoa humana. Quando a justiça é fraca na defesa da vida, sobretudo da vida em estado de vulnerabilidade social, prevalece a lei da força”, completando que “Bruno Araújo Pereira (indigenista) e Dom Phillips (jornalista) uniram suas vidas, suas profissões, seu compromisso ético e humanitário para defender a Amazônia em seu ser social e natural”.
O ANDES-SN reafirmou a resistência contra o projeto genocida, etnocida e ecocida, que agrava o processo de extermínio que se sustenta por meio dos grandes projetos do capital. “Em que pese que tal problema não é recente, a política que mata ambientalistas, defensore(a)s das água e da terra ganha um novo capítulo perverso com eleição de Bolsonaro, pois agora é o presidente do país que estimula, verbal e fisicamente, que as organizações criminosas avancem sobre as matas, sobre as terras indígenas ou quilombos”.
O curso de Pedagogia Intercultural para professores indígenas do Vale do Javari, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), também pediu atenção da sociedade para o Vale do Javari.
“A morte destes dois agentes dos direitos humanos coloca em evidência as políticas de morte de um governo que enfraquece, desestrutura e exerce autoritarismo com os órgãos de proteção, fiscalização e atenção aos povos indígenas. Incentivando, orientado, protegendo ou sendo deliberadamente omisso diante da violação de territórios e corpos indígenas que sofrem as violências do narcotráfico, da exploração de madeira, da mineração, da caça e da pesca predatória”.
A UFAM manifestou pesar e solidariedade, afirmando “juntamo-nos às vozes que pedem a responsabilização pelas mortes daqueles que como nós, prezam pela floresta e pelos povos da floresta”.
Novos atos públicos estão marcados. Dos dias 20 a 24 de junho, acontece uma vigília em frente à sede da Funai em Brasília. Em Cuiabá (MT), haverá manifestação na terça-feira (21), às 17, na Praça Alencastro.
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Fotos: Ascom ADUA
Fontes: ADUA com informações da Amazônia Real, G1, Terra, Univaja, Ufam, Agência Púbica e Famddi
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