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Relações entre empresas brasileiras estão na plataforma Eles Mandam



O banco de dados consolidado na segunda etapa do projeto Eles Mandam, lançado na última quarta-feira (18), permite tornar transparente uma série de relações diretas e indiretas de grandes grupos econômicos na economia brasileira.

Dessa forma, o interessado tem à disposição informações que permitem identificar os tentáculos das corporações, enxergando elos poucas vezes vistos que podem unir um grande banco a uma grande mineradora, a um plano de saúde ou a um grupo de análises clínicas.

Outra novidade é que o perfil dos principais conselheiros dessas forças econômicas foi ampliado, permitindo avaliar a formação educacional e profissional dos conselheiros, o que é outro instrumento válido de checagem das relações entre pessoas, grupos econômicos e Estado e como elas se inter-relacionam.

Uma extensa pesquisa da Repórter Brasil nos sites, balanços e comunicados das próprias empresas levantou nomes e perfis de quem se senta em seus Conselhos de Administração. Foram pesquisadas as 100 maiores companhias, os 50 maiores grupos econômicos e os dez maiores fundos de pensão.

“Eles Mandam” é uma iniciativa da Repórter Brasil, com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, inspirado no They Rule, que mostra quem são os que têm assento nos conselhos das maiores empresas dos Estados Unidos, possibilitando identificar redes de relacionamentos entre elas. A versão brasileira foi produzida com a permissão dos responsáveis pela plataforma norte-americana. E acrescida de relações de propriedade e controle existentes entre as empresas.

Setores econômicos


O projeto coincide com o avanço da consolidação em vários setores da indústria, finanças e agronegócio. O mapa do setor financeiro mudou bastante desde a adoção do Plano Real, em 1994. No início do real, havia no país 241 bancos. Hoje são menos de 180. A chegada de novas forças, como HSBC e Santander, nos últimos 15 anos, coincidiu com o aumento de escala de grupos nacionais, movimento oriundo da venda de bancos estatais pelos governos, pelas dificuldades econômicas de bancos menores ou pela busca de maior escala.

O Bradesco, por exemplo, adquiriu várias instituições: em 1997, o BCN; em 1999, o Banco do Estado da Bahia; em 2002, o Banco do Espírito Santo; em 2003, o BBVA; em 2009, a Agora Corretora. O Itaú não ficou para trás e anunciou a maior operação do setor: em novembro de 2008, anunciou a “fusão” de suas operações com o Unibanco, criando assim o Itaú Unibanco.

Na área de serviços, o aumento de escala também tem sido reforçado como forma de aumentar a receita, reduzir custos e ampliar a presença em todo o país, com destaque para o Nordeste, onde a renda tem crescido dois pontos percentuais acima da média nacional. No setor de super e hipermercados o nível de concentração, medido pela participação das cinco maiores empresas no total do faturamento do setor, é de mais de 40%, e tenderá a continuar crescendo por conta do maior volume de investimentos em expansão orgânica e por aquisições.

Há dois movimentos nítidos na área de infraestrutura. Um é liderado pelas grandes construtoras brasileiras, que ampliaram sua faixa de atuação para além da construção de empreendimentos e ingressaram nas concessões, como nas de trechos rodoviários, linhas de metrô ou detendo participações em companhias de energia elétrica. Ao atuar nesse elo, aumentam margens e ganham previsibilidade de receita ao longo da duração dos contratos, o que facilita a política de dividendos e a possibilidade de obter financiamento.

O setor do agronegócio poderá viver momentos intensos de consolidação ao longo dos próximos anos, mantendo-se a trajetória vista com os movimentos da fusão Sadia e Perdigão e da expansão da Friboi. Poderá surgir uma onda de consolidação na indústria sucroalcooleira ao longo dos próximos anos, com grandes grupos se tornando ainda maiores. Mas isso poderá coincidir com a maior presença do governo, via BNDESPar, que pode se tornar acionista de outros empreendimentos. A dívida do setor é hoje um dos principais gargalos enfrentados pelos usineiros.

Esse processo de concentração em alguns setores é um fato nítido, mas traz consigo uma reflexão: será bom para o consumidor? Se reverterá mesmo em queda de preço dos serviços oferecidos a ele? O brasileiro que melhorou de vida se tornará ainda mais exigente em relação aos serviços prestados, seja por concessionárias de serviços públicos, seja por planos de saúde? As empresas estarão preparadas para atender a essas novas demandas? Qual será o principal desafio delas ao longo dos próximos anos? Essas são algumas das questões que surgem a partir da consulta dos dados disponíveis na plataforma “Eles Mandam”, agora disponível em sua segunda etapa.

A reportagem coube a Roberto Rockmann, a produção e pesquisa foi de Hélen Freitas e o desenvolvimento da plataforma foi realizada por Tiago Madeira. A edição é de Leonardo Sakamoto e de Marcel Gomes.

Fonte: Repórter Brasil



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