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50 anos do Golpe: lembrar para não deixar se repetir



Um rico resgate histórico, econômico, político e social marcou o debate “Universidade e Ditadura Militar: Lembrar para não deixar se repetir”, promovido pela Adufpa, nesta quarta-feira (2), no auditório do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da UFPA. O evento contou com a participação de mais de 150 pessoas, entre docentes, estudantes e ativistas dos movimentos sociais, que ouviram atentamente os depoimentos dos professores de Antropologia Romero Ximenez e Heraldo Maués e do professor de Economia, Aluizio Leal.

Gilberto Marques, professor de Economia e diretor da Adufpa, abriu o debate falando que a data não se tratava de uma comemoração, visto que sobre a Ditadura Militar brasileira só havia o que lamentar, por tudo o que representou de ataque à democracia, livre organização, manifestação, e com todo o seu saldo de assassinatos, torturas, perseguições e prisões arbitrárias praticados pelo Regime.

“Aqueles que se esquecem de seu passado estão fadados a deixar se repetir a história”, disse. Em seguida, Elias Sarmento, também diretor da Adufpa, membro do GT História do Movimento Docente (GTHMD) do Andes-SN, que está trabalhando junto com a Comissão da Verdade, informou que a Adufpa criará um GT para resgatar a memória dos horrores da Ditadura, com intuito de fortalecer a luta por memória e justiça.

Aluizio Leal falou sobre a decisiva participação dos EUA para a efetivação do Golpe Militar no Brasil, para isso estabeleceu todas as conexões internacionais de disputa de poder no pós-Guerra e a respectiva necessidade de hegemonia perseguida pelo país norte americano. Durante sua fala, o professor falou do papel que cumpriram o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), órgãos criados no país com influência direta dos EUA para articular e garantir que o Golpe de 64 fosse bem sucedido.

Aluizio também abordou a intensa devastação da Amazônia, realizada a partir da entrega de mais de um milhão e meio de hectares para as multinacionais e o capitalismo internacional explorarem em larga escala os minérios da região, além da política de “integração”. Para ele essas políticas significaram a entrega e destruição da Amazônia.

Já o professor Heraldo Maués destacou que diferente do que se pensa, o Regime militar foi altamente corrupto. “De um modo geral, a corrupção nos regimes militares é comum, pois não há possibilidade de denúncia. Aqui no Pará, houve pessoas que participaram do Regime e enriqueceram absurdamente”, afirmou. Maués também relembrou sua participação na greve do terço, realizada na UFPA na década de 60, a qual reivindicava que os estudantes tivessem peso de decisão de um terço nos fóruns colegiados da UFPA. Ele explicou que isso significava a paridade, visto que os outros dois terços seriam divididos entre docentes e técnicos.

A luta foi duramente perseguida pelo então reitor da universidade, José da Silveira Netto, o qual foi considerado um dos mais autoritários que dirigiram a universidade durante a Ditadura. “José da Silveira Netto foi um dos reitores mais repressores que nós tivemos na UFPA”, lamentou, mostrando insatisfação diante do fato desse reitor dar nome ao campus da UFPA Guamá.

O professor Romero Ximenez, um dos fundadores da Adufpa, contou sobre o contexto de criação da Associação e da efervescência e importância da luta dos docentes nas universidades federais para contestar o Regime militar. “Na primeira greve dos professores da UFPA nós não colocamos os pés fora da universidade porque sabíamos que do contrário, seriamos presos”, lembrou. O tema da proibição intelectual nas universidades, também foi abordado pelo professor, que explicou que para burlar este cerceamento foram criadas gráficas clandestinas que reproduziam obras de Karl Marx, Antônio Gramsci, Rosa de Luxemburgo, entre outros teóricos considerados subversivos à época.

Entre as intervenções do plenário, foi destacado que lastimavelmente o Brasil foi o único país da América Latina que jamais puniu seus tiranos e torturadores. Várias intervenções defenderam que é necessário lutar pela revisão da Lei de Anistia, com vistas a promover justiça e garantir memória às vítimas da Ditadura Militar brasileira. Gilberto Marques aproveitou a ocasião para ler depoimentos de torturadores, em que eles descrevem de forma fria e detalhada como torturavam e matavam, sem demonstrar qualquer arrependimento ou apresentar qualquer necessidade de reparo à sociedade pelos crimes contra a humanidade por eles praticados.

A Adufpa coloca à disposição do público em geral o áudio da mesa redonda: “Universidade e Ditadura Militar: Lembrar para não deixar se repetir”. Para ter acesso basta solicitar na sede da entidade, situada no Campus Guamá, nos Altos do Vadião.

Fonte: Adufpa



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