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Ditadura militar: 50 anos depois autoritarismo permanece



Cerca de 130 pessoas fizeram memória dos atos de violência e opressão física e cultural praticados contra os povos da Amazônia durante a ditadura militar e debateram, na manhã de sexta-feira (28), na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), sobre as práticas de autoritarismo ainda hoje presentes na região, durante o seminário “Amazônia contra o autoritarismo”. O evento é resultado de uma parceria entre o Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM), por meio do projeto MPF em Movimento, e o Comitê da Verdade no Amazonas.

O enfrentamento a um cenário de violações de direitos, no passado e no presente, de acordo com o procurador da República Julio José Araujo Junior, é justamente o que o encontro se propôs a debater. “Há uma forte pressão para que haja retrocesso nas conquistas que já tivemos. O desafio de impedir que isso aconteça passa por compreender o cenário atual de autoritarismo, reforçar a resistência por meio da união e utilizar os instrumentos existentes para buscar alternativas a esse modelo. O Ministério Público é um desses espaços e está à disposição para dialogar e atuar”, completou.

Para o procurador, os danos causados aos povos da Amazônia pelos feitos da ditadura militar – ele citou os casos dos índios waimiri-atroari, quase dizimados durante a abertura da BR-174, e dos índios tenharim e jiahui, igualmente prejudicados pela abertura da rodovia Transamazônica (BR-230) – não podem ser esquecidos para que não se repitam, mas é preciso estar atento às novas formas de autoritarismo que se apresentam com o discurso desenvolvimentista. “Temos casos cotidianos de pessoas e grupos que viveram e ainda vivem limitações graves de circulação e uso da terra, chegando até a serem removidas de lugares onde se estabeleceram há décadas em nome de empreendimentos e projetos”, disse Araujo.

Debates

A mesa de convidados do seminário contou ainda com a participação do procurador do Trabalho Renan Bernardi Kalil, do antropólogo e professor da Ufam Alfredo Wagner, da liderança indígena Ivanildo Tenharim e do indigenista e coordenador do Comitê da Verdade no Amazonas Egydio Schwade. O debate foi mediado pelo jornalista Wilson Reis, membro do comitê.

O procurador do Trabalho Renan Kalil destacou a importância do movimento sindical na luta contra a repressão militar durante o período que ficou conhecido como 'anos de chumbo'. Já o professor Alfredo Wagner classificou o evento que faz memória aos 50 anos do golpe militar de 1964 como uma espécie de 'ritual de passagem', necessário para que nada seja esquecido, e também alertou para a presença do autoritarismo no modelo de instituições atuais criadas no período ditatorial que até hoje foram mantidas no Estado brasileiro, como a Sudam, a Suframa, a Funai e o Incra.

Ivanildo Tenharim reproduziu relatos das violações sofridas pelos índios tenharim e jiahui durante a abertura da BR-230 e contou como o povo indígena é hostilizado nas sedes das cidades, situação agravada após os recentes conflitos ocorridos na região sul do Amazonas. A insensibilidade dos poderes Executivo e Legislativo no Estado e a agressividade dos empreendimentos que exploram recursos naturais na região foram ressaltados pelo indigenista Egydio Schwade como exemplos das atuais formas de autoritarismo impostas à Amazônia.

Cerca de 20 participantes da plenária participaram das discussões provocadas pelos convidados, com questionamentos e reflexões. Ao final, um manifesto contra o autoritarismo na Amazônia, proposto pelo Comitê da Verdade, foi apresentado e recebeu adesões dos presentes.

Fonte: MPF-AM



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