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    Projeto




A Construção do Projeto Memórias Militantes

 

 

*Rafaela Basto de Oliveira

 

 

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – ADUA, Seção Sindical do ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, em seus quarenta anos, empenha-se em diversas lutas em prol de uma Universidade Pública, de Qualidade e Amazônica, como definido em sua Carta de Princípios de 1983.

 

Há quarenta anos, as docentes e os docentes organizam suas atividades destinadas a refletir suas ações cotidianas e os significados atribuídos às lutas que se revelam vivas, contínuas, diversas e conflitivas. O desejo de tentar materializar e reavivar memórias que valorizassem todos esses anos de existência e resistência foi e é uma constante entre as professoras e professores, que coletivamente abrigam em seus diálogos as trajetórias em constituição na ADUA.

 

É nessa perspectiva que o Projeto Memórias Militantes engaja-se e toma corpo, no esforço de enveredar entre as memórias de lutas daqueles e daquelas que dedicaram suas vidas – e ainda o fazem, para guardar e garantir o direito à educação universitária pública, voltando-se em especial à comunidade amazonense no que diz respeito à qualidade de vida profissional dos docentes e demais membros da Universidade Federal do Amazonas, opondo-se às ameaças do esquecimento, das posturas que rejeitam a diversidade visando homogeneidade e condutas que esvaziam o sentido de cidadania.

 

Com regularidade, a ADUA vem produzindo ao longo desse percurso documentos que refletem tanto suas atividades de natureza administrativa quanto sua razão de ser enquanto seção sindical, tanto que os membros da Diretoria atual retomaram o diálogo sobre “a necessidade de arrumar o arquivo e recuperar a memória da ADUA, disponibilizando para a pesquisa[1]” (desejo o qual já havia sido demonstrado em outras ocasiões ao longo dos anos de luta por outras diretorias e por sindicalizadas e sindicalizados). Foi então que por volta de julho de 2018 fui apresentada à Diretoria por intermédio da Professora Titular Patrícia Maria Alves de Melo. Após esse encontro, foi importante que o grupo que se formaria para executar as atividades de organização documental e análises das relações em processo dentro da ADUA tomasse conta das dimensões do que a socióloga Maria Célia Paoli chamou de “o passado vivo”[2].

 

Em reunião com a Diretoria, no dia 07 de Agosto de 2018, apresentei um plano para a Diretoria que estipulava um ano de trabalho coletivo para a realização e entrega de um memorial físico e um online. Ao longo do percurso, algumas atividades foram inseridas, ao passo que outras eram realizadas com certa dificuldade. As estratégias mudaram, e a compreensão sobre o lugar político da ADUA foi um norte para pensar nos ritmos desejados e possíveis, afinal, o caminho entre memórias também se constitui como um processo. Dentre os objetivos traçados ao longo deste ano, a saber, (re)conhecer e valorizar as ações dos docentes, destacamos as seguintes atividades:

 

 

  1. Diagnóstico Arquivístico do acervo e da estrutura do Arquivo da ADUA, seguido de tratamento documental, que incluiu higienização e identificação simultânea dos documentos, além da classificação, feita a partir das funções existentes na ADUA, tendo como base seu Regimento. Outros documentos de outras Instituições e Movimentos Sociais foram uma preocupação também, visto que dizem respeito às relações políticas e sociais com a Seção Sindical. A organização do acervo documental e da revisão do trabalho se estendeu por cinco (05) meses, consolidado com a produção de um Manual de Rotina de Arquivo para manutenção do acervo;

     

  2. A produção de material de exposição em banner para o 38° Congresso do ANDES, realizado de 28 de janeiro a 02 de fevereiro de 2019, em Belém – PA;

     

  3. A identificação de fotografias do Acervo Documental da ADUA por professores e professoras, em dezembro de 2018;

     

  4. A produção do calendário da ADUA para 2019, em 27 de novembro de 2018, pela Profa. Patrícia Maria Alves de Melo;

     

  5. A organização de uma Biblioteca e criação de um espaço para pesquisa aos acervos arquivísticos e bibliográficos no prédio da ADUA, que pudesse integrar os pesquisadores com os trabalhadores da Seção Sindical e com os sindicalizados e sindicalizadas;

     

  6. Entrevistas com docentes no intuito de orientar alguns dos significados em torno das ações no/do Sindicato, laços de solidariedade ou disputas de memórias;

     

  7. Organização da documentação para a construção da descrição do Plano de Trabalho, História Oral, Memórias de Imagens e Diretorias;

     

  8. Curadoria documental para a construção do Memorial Físico no que tange às Greves, Congressos, a ações dos sindicalizados Fora da Sede e Eleições da Seção Sindical.

 

 

 

A execução de tamanhas atividades exigiu compromisso e fôlego de uma equipe muito diversa, desde várias áreas do conhecimento como a História, Arquivologia, Relações Públicas (Jornalismo), passando por todo o seu corpo administrativo até o apoio de profissionais externos. A construção do Projeto Memórias Militantes passa pelo compromisso desses profissionais, que em um ano também criaram laços de fraternidade, apesar de alguns momentos de trabalhos que pareciam sem solução, mas seguido de celebração ao andamento das atividades, e de participação na constituição de algumas memórias.

 

 

 

Ao fim, compreendemos que a celebração dos quarenta anos da ADUA não se traduz apenas no fechamento do projeto do memorial, mas também na perspectiva de uma contínua tomada de posicionamento nas lutas articuladas em prol do coletivo.

 

 


 

 

* OLIVEIRA, Rafaela Basto de. "A construção do projeto Memórias Militantes". Boletim ADUA, Manaus, n°14, outubro. 2019.

 

[1]1a Reunião da Diretoria no dia 26 de junho de 2018 – ADUA. No dia 26 de junho de 2006, na reunião da Diretoria, “o professor Isaac Warden Lewis informou que estava lendo o livro de atas de 1979/1980 em busca da Ata de Fundação e da ata que determinou o desconto de 10% do valor do salário mínimo de cada associado para enviar a Receita Federal (Brasília) para fins de recadastramento, uma vez que iria à Receita Federal (Manaus) solicitar restituição de impostos cobrados indevidamente de janeiro a junho de 1999. Informou ainda que a Martins Assessoria já estava realizando cálculos referentes ao Processo 3,17% de cada associado. Informou ainda sobre a necessidade de arrumar os documentos da ADUA que se encontravam no chão da sala de reunião”.

 

[2] PAOLI, Maria Célia. Memória, História e Cidadania: o direito ao passado. In: O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania / Departamento do Patrimônio Histórico. São Paulo: DPH, 1992, p.25.

 


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