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  22/03/2018 - por César Queirós



A reação das universidades



Vivemos em tempos difíceis. O avanço das forças conservadoras sobre o conjunto de direitos que haviam sido conquistados pelos trabalhadores se faz constante. A Reforma Trabalhista vulnerabiliza as relações de trabalho e nos impõe um retrocesso de 80 anos! A insistência do governo em realizar a Reforma da Previdência ameaça a aposentadoria de milhões de brasileiros. Tentativas de cerceamento das atividades artísticas e acadêmicas estão virando rotina.

A exposição cancelada no Santander, a performance no MAM/SP, os protestos contra a visita de Judith Butler e, agora, a ameaça do MEC de proibição da disciplina “O Golpe de 2016 e o futuro da Democracia no Brasil”, ofertada pelo professor Luis Felipe Miguel, titular de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), demonstram que a democracia está em risco e que devemos reagir de forma enérgica contra essas constantes tentativas de censura e aos ataques à autonomia intelectual e às artes. Caso contrário, corremos o sério risco de ficarmos reféns de um governo que pretende silenciar as vozes dissonantes.

O que dizer sobre a absurda suspeita contra o biólogo Elisaldo Carlini, referência mundial na pesquisa sobre a Cannabis sativa, que foi chamado a depor sob a suspeita de “apologia ao uso de drogas”? E sobre as invasões ocorridas na UFMG e na UFRGS?  Vivemos uma grave ameaça ao Estado de Direito e à Democracia.

No entanto, a manifestação do Ministro da Educação que, em sua origem, tinha a clara intenção de silenciar o debate e evitar que o tema fosse debatido no espaço acadêmico acabou, ironicamente, tendo um efeito completamente diverso do desejado. A tentativa de calar as vozes que ousavam discutir os acontecimentos recentes no país provocou uma imensa rede de insatisfação e solidariedade, tendo como resultado uma erupção de disciplinas pelo país afora: mais de 40 universidades estão oferecendo disciplinas sobre o Golpe de 2016.

Tal erupção, como magma em ebulição, tem um duplo significado: se, por um lado, evidencia a necessidade de uma reflexão crítica da academia sobre a crise política e institucional vivenciada pelo país e sobre o avanço de uma pauta conservadora que impõe severas perdas à classe trabalhadora, por outro lado, representa uma reação das Universidades à tentativa de cerceamento e de intervenção sobre a discussão acadêmica. Tal reação representa um grito em defesa da autonomia universitária e das garantias de liberdade intelectual.

A universidade e a produção científica não podem ficar reféns de governos e nem se acovardar diante do ressurgimento de um fantasma que julgávamos já superado. Do mesmo modo, diversas associações como a Associação Nacional de História (ANPUH) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica) têm manifestado apoio ao docente e demonstrado seu repúdio à ameaça de cerceamento da autonomia acadêmica e às liberdades democráticas e constitucionais.

Analisar de forma crítica a história recente do Brasil é sempre uma oportunidade de refletir sobre nosso presente. E, nesses tempos sombrios, é necessário repensar a importância da atuação do historiador em um momento em que as sombras do passado, fortalecidas pelas mentiras e omissões do presente, teimam em espreitar nossas janelas.

Para Hobsbawm, “é comum hoje governos e meios de comunicação inventarem um passado. [...] É vital o historiador lutar contra a mentira. O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas”. É necessário que tenhamos sempre em mente esse alerta, sobretudo quando discursos autoritários que defendem a censura e as intervenções voltam a nos assombrar.

*Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor do Departamento de História da Ufam e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em História da universidade.  


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