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  07/07/2015 - por



A greve, a luta e o aprendizado



Data: 07/07/2015

Em 2012 houve uma greve da qual a maioria lembra. Na época eu era aluno de graduação. Em Parintins, os alunos não conseguiram se mobilizar efetivamente. Alguns colaboraram como podiam e ajudaram professores e técnicos na maior paralisação das universidades brasileiras, com adesão de 95% das Universidades e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

Eu sabia e via cotidianamente que as condições de trabalho nas universidades eram (e ainda são hoje) muito ruins. Mas, só sabia isso. Resolvi junto com alguns amigos e outras pessoas (que se tornaram grandes amigos por causa da greve) me aproximar do comando local e participar das reuniões. Afinal, eu não iria pra casa ficar bestando ou acompanhar tudo pela TV.

Descobri que os professores e técnicos tinham um plano de carreira ruim. Não recebiam reajustes acima da inflação há algum tempo. Descobri o que é esse tal de REUNI que muita gente fala. Ele criou o curso de Artes Visuais (na época Artes Plásticas) em Parintins. O curso começou com o professor de fotografia, do colegiado de jornalismo; o professor de teoria e ética, também do colegiado de jornalismo, que por um tremendo acaso estava cursando doutorado em sociologia e estudava estética; e a professora de língua portuguesa, transversal. É difícil de crer né? E se eu falar que até hoje esse curso não tem nenhuma estrutura própria? Desde aquela época a Ufam de Parintins ganhou um novo complexo, com três prédios de dois andares cada. Nada do bloco de artes, que ainda é um sonho para os alunos, técnicos e professores.

Conheci MUITO da realidade política, econômica, educacional e social do Brasil. Conheci a Ufam. Sem falsa modéstia, hoje sei da estrutura organizacional e política dela, conheço algumas resoluções e trâmites internos mais que muitos professores e técnicos. Muita coisa ficou clara pra mim.

Percebi que apesar de todas as dificuldades que as universidades Brasileiras e latino-americanas passam, ainda assim elas são exemplos de instituições que realmente agem e transformam a sociedade.

Percebi que a Ufam é só um peixe em um rio tão grande quanto o Amazonas. Sobre esse contexto, vale a pena o texto do professor Sergio Lessa, disponível aqui. O texto é de 1998, mas é muito atual.

Desculpem-me a falta de modéstia, mas a minha formação foi muito melhor que a dos alunos que não participaram ativamente da greve ou mesmo não passaram por uma. Aprendi coisas que todo jornalista (minha graduação) deveria saber. Tudo que não havia na minha grade curricular: economia, história, economia-política da mídia, a perversa política partidária etc. Eu aprendi coisas que só se aprendem na vida. A greve teve muitos ganhos, aprendemos com isso. Mas tivemos derrotas e cada vez que tocamos no assunto, eu sinto a tristeza e gosto amargo dos golpes que um governo e um sistema perverso podem armar, inclusive, inúmeras ações inconstitucionais, como a criação de um sindicato aparelhado e feito por pessoas do próprio governo.

Como jornalista, fiz coisas que desde então nunca fiz. Escrevi matérias, releases, fizemos comunicação estratégica, mailing, clipping e avaliação de impacto e alcance de nossa comunicação. Vi pessoas e grupos criarem interesse em certos temas, ações e problemas em função de nossas informações e atividades. Estudei muito pra escrever sobre a carreira docente, orçamento e sua aplicação na educação. Sistemas educacionais e seus prós e contras. Tudo isso sem um único dia de aula. Sem a obrigação de fazer relatório, entregar trabalho ou “pegar presença”. Ainda assim, se nada disso desse certo, eu ainda seria uma pessoa muito melhor.

A greve como plataforma de luta

Como eu disse antes, a universidade latino-americana se destaca pela atuação na vida social. A greve não diz respeito apenas aos universitários, mas é uma força para combater todo um sistema perverso idealizado e manipulado para o bem específico de alguns em contraponto ao bem social de todos. Fazer greve é deixar um pouco o “mundinho” da sala de aula e discutir Estado, Brasil, políticas públicas, a crise mundial, o corajoso calote da Grécia aos bancos e muitas outras coisas.

Nas duas ultimas décadas, pra ser preciso, a população, principalmente esquerda brasileira, acreditou no projeto petista de reforma e ação para o Brasil. Embora muitas vantagens tenham sido adquiridas, o passar dos anos mostrou ineficiência em longo prazo do modelo de reforma, bem como a insustentabilidade do modelo capitalista.

No dia 18 de junho a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395/14 que torna possível a cobrança pela pós-graduação lato-sensu e quaisquer outros programas que não sejam do ensino regular, (tal qual o PRONATEC) pelas universidades públicas. Esse é um passo de um caminho para a privatização do ensino superior, deixando cada vez mais difícil a entrada dos pobres nas universidades públicas.

Portanto fazer greve é lutar de forma ampla. As formas cotidianas de luta precisam de apoio e ações radicais contra aqueles cujos interesses não são sociais. Querem tirar de nós a universidade pública, sua qualidade e a formação crítica. Estudei a minha vida toda na educação pública. Com muitos problemas e dificuldades. E é por isso que apoio e participo da greve, contestando aqueles que não querem mexer uma palha para melhorar o Estado que sustentamos e deve nos servir.

* Helder Mourão é jornalista e mestrando em Ciências da Comunicação pela Ufam



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