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Viva Melhor


   


  17/09/2021 - por José Alcimar de Oliveira



Paulo Pinto Monte, Presente!



 

Texto lido em homenagem ao professor Paulo Pinto Monte, no dia de semeadura das suas cinzas no bosque do IFCHS na Ufam, em 13 de setembro de 2021. 

 

Aqui nos reunimos nesta manhã do dia 13 de setembro de 2021, no Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), antigo Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), da Universidade Federal do Amazonas, no dia do nascimento do nosso colega Paulo Pinto Monte, o nosso querido Paulão, professor do nosso vetusto Curso de Filosofia, no ano sexagésimo de sua criação, para a cerimônia, como era seu desejo, de lançamento, ou semeadura,  de suas cinzas em meio às árvores de nosso Instituto, muitas plantadas por ele.  

 

Estamos na segunda morada do Paulão. 

 

Foi com muita tristeza que Nira (minha esposa) e eu recebemos a notícia do falecimento do nosso amigo e Professor Paulo Pinto Monte, ocorrido no dia 28 de março de 2021.

 

Conversei com sua irmã, Magali Pinto Monte, naquele domingo triste e numa tarde chuvosa e amazônica.  Como era seu desejo, seu corpo foi cremado, cerimônia ocorrida no Cemitério Recanto da Paz, no dia 30 de março de 2021.

 

Teremos que aprender a conviver com o silêncio de sua voz, sem a presença de seu modo justo e indignado de ser. Ao raiar de cada dia o nosso querido Paulão trazia o sol da manhã ao nosso Instituto. Sua voz ecoava para além da sala de aula.  Ele sempre me chamava de Frei Alcimar, e sempre trazia à memória que eu havia celebrado o batismo de seu único filho, Ammer Hauache Monte, na Comunidade Eclesial de São Dimas, o Bom Ladrão, na Paróquia de São Jorge.

 

Meu velho amigo Paulão fazia questão de, a cada vez que nos encontrávamos nos corredores do velho ICHL, pedir a minha bênção, ocasião em que ele sempre mandava um afetivo abraço para minha esposa Rosenira (Nira), com a lembrança dos quitutes que um dia partilhamos em nossa casa.  

 

Perdemos um amigo do coração. Quem o conheceu sabe o quanto era um ser desapegado, informal, irredento, desmedidamente generoso com o próximo e nem sempre cuidadoso com a própria saúde. Magali sempre me falava da teimosia de seu mano. Ameaçou por diversas vezes fugir da clínica onde submeteu-se a uma delicada cirurgia cardíaca. Estive com ele às vésperas do procedimento a que ele resistiu mas terminou por aceitar.

 

Com sua morte perdemos o nosso mais afinado e generoso transgressor e restaurador.  Sim, ele de um lado amava as imagens dos santos, e nos últimos anos sempre falava de novas peças que adquiria para restauração. Pensava em organizar um pequeno museu.  Mas de outro, era um iconoclasta e transgressor das regras e dispositivos burocráticos que sempre mais engessam a vida universitária em meio a portarias, resoluções, notas técnicas, leis, que nos enredam num verdadeiro cipoal dos infernos. Era ostensivamente avesso ao mundo digital e a cada fim de período via-se às voltas com o preenchimento dos boletins de notas e faltas.

 

Não creio que sobreviveria por muito tempo à miséria do ensino remoto. Paulão gostava de prosar, conversar com gente, frente a frente.   Intempestivo, interrompia uma reunião e não abria mão de manifestar sua indignação diante de quem sofresse uma injustiça. Ninguém o calava.  Era o nosso desagravador de plantão.

  

Uma coisa é certa:  no seu atual abrigo, cercado de santos e anjos, ele não vai abrir mão de sua inseparável carteira de cigarro. Desde o dia 28 de março de 2021 o céu ficou menos silencioso e mais incensado. Creio que com a mediação de Darcy Ribeiro, Glauber Rocha e Jesus de Nazaré, Paulão e São Pedro chegarão a um entendimento quanto à criação de uma área reservada aos fumantes.

 

Quando escrevia estas linhas me ocorreu uma estranha forma de homenagear o nosso querido Paulão: promover aqui, entre fumantes e não fumantes, uma baforada coletiva para defumar o ambiente, afastar as cinzas da morte e os maus espíritos, inimigos da terra, da floresta, da vida, dos povos indígenas. As cinzas de quem defendeu a vida, a terra, a floresta, os povos indígenas, mais do que cinzas, são sementes de vida.  Vá em paz, querido Paulão.

 

Dos seus amigos Rosenira Monteiro da Costa Oliveira e (Frei) José Alcimar de Oliveira, em Manaus, AM, 13 de setembro de 2021.







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