
Daisy Melo
“Primeiro momento, a gente tenta ser como os outros, e eu tentei ser como todo mundo”
– Édouard Louis
No mês em que se comemora o Dia Internacional de Luta contra Homofobia, Transfobia e Bifobia (17 de maio), a ADUA traz como indicação literária “O fim de Eddy”, lançado em 2014 na França e em 2018 no Brasil pela editora Tusquets. Na obra, o escritor Édouard Louis conta o intenso e marcante sofrimento em sua própria fase infantojuvenil causado pela discriminação vivenciada em diversos ambientes simplesmente por ser gay.
No romance autobiográfico, o autor narra as memórias das angústias e traumas que indelevelmente fizeram parte da sua formação pessoal. Inserido em um lar extremamente pobre, racista, homofóbico e disfuncional, e aluno de uma escola em que sofria bullying com contínuas humilhações e agressões físicas, Eddy cresceu sem qualquer amparo emocional. Por todas essas circunstâncias econômicas, sociais e políticas, a sua meta de vida se tornou sair desse meio para deixar de vivenciar as violências e também ter a chance de uma vida diferente da dos seus pais, da sua comunidade, para que o seu destino não fosse, como ele escreve, a fábrica.
O jovem tentou ser, como ele diz, “durão”, atender às expectativas, mas performar acaba sendo uma violência autoinfligida e para ele já bastava de tanta dor. Eddy desistiu de fingir e decidiu fugir em busca de um outro futuro. E dessa metamorfose nasceu Édouard Louis, um novo nome para uma “nova pessoa” que narra nesse e em seus outros livros o que enfrentou e como isso foi determinante no desejo de transformação da sua vida.
E é por meio da educação que ele alcança a redenção. Considerado pelos pais “diferente” e como alguém que não se “encaixava” até por ser inteligente, Eddy encontrou nos estudos a saída que tanto ansiava. Foi uma criança que, apesar das violências sofridas por parte dos colegas de escola, se destacou e conseguiu sair da sua pequena cidade para estudar, chegando a cursar uma universidade, realidade tão distante da sua família composta por um pai e um irmão operários e alcoólatras e uma mãe dona de casa, frustrada e infeliz.
A escrita extremamente sincera do escritor francês reaviva em pessoas que experimentaram situações similares memórias doloridas, despertando identificação e reconhecimento entre aquelas(os) que um dia também se sentiram um incômodo e inadequadas(os). É preciso muita bravura para romper com os padrões e assumir sua própria identidade. É preciso coragem para partir e buscar uma autêntica existência, conquistar um novo caminho, onde se pode respirar e conseguir finalmente e simplesmente SER.
Édouard Louis também é autor de “Quem matou meu pai” e “Lutas e metamorfoses de uma mulher” (2021), editados pela Todavia e considerados livros-irmãos de “O fim de Eddy” por darem continuidade à narração da história da família. O escritor esteve no Brasil em 2024, quando participou do Festa Literária Internacional de Parati (Flip), no Rio de Janeiro, e concedeu entrevista ao programa Roda Viva. No dia 17 de maio, anunciou que retornará ao país para o lançamento de “O desabamento”.
Daisy é jornalista graduada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e assessora de comunicação da ADUA.
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